O Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), resistiu em terreno positivo pela quinta sessão seguida, igualando série entre 24 e 30 de março, quando saiu de 97,9 mil, no encerramento do dia 23, para os 103,7 mil pontos. Agora, tenta se consolidar em patamar mais alto, aos 107 mil, reconquistado ontem em fechamento pela primeira vez desde 23 de fevereiro -- e preservado hoje mais uma vez sem a contribuição de Nova York, que operou com viés indefinido, tendendo ao negativo em boa parte da sessão.
Por lá, persiste cautela quanto à elevação do teto da dívida pública, ainda não decidida. Assim, o sinal no fechamento foi misto em Nova York (Dow Jones -0,09%, S&P 500 +0,45% e Nasdaq +1,04%), em sessão na qual a atenção também esteve concentrada, pela manhã, na leitura sobre a inflação ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos em abril. O dado trouxe desaceleração no mês, o que ajuda pelo lado dos juros deliberados pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), mas traz incerteza quanto ao ritmo de atividade na maior economia, ainda sob risco de recessão na visão do mercado, aponta Judah Nunes, especialista em renda variável da Blue3 Investimentos.
Conforme observa Antonio Sanches, analista da Rico Investimentos, a inflação acumulada ficou abaixo de 5% ao ano pela primeira vez em dois anos. "No entanto, continua forte e historicamente alta. O resultado de abril demonstrou que os preços mensais ao consumidor nos EUA ainda estão subindo, com destaque para o setor de serviços, especialmente aluguéis", ressalva o analista.
Aqui, mais acomodado, o índice de referência da B3 subiu hoje 0,31%, aos 107.448,21 pontos, ainda no maior patamar de encerramento desde 23 de fevereiro (107.592,87), operando nesta quarta-feira entre mínima de 106.538,01 e máxima de 107.744,37, maior nível intradia desde 12 de abril (108.277,02). Como ontem, o giro financeiro voltou a se enfraquecer, a R$ 22,0 bilhões, após a reaproximação do limiar de R$ 30 bilhões vista na última sexta e na segunda-feira. Na semana, o Ibovespa sobe 2,19% e, no mês, 2,89%, limitando a perda do ano a 2,08%.
"Boa notícia o Ibovespa estar sustentando recuperação, o que mostra uma melhora da percepção sobre o cenário macro: nos últimos meses, quando subia, a devolução vinha rápido. Muita coisa já foi para o preço dos ativos e, é provável, o pior parece ter ficado para trás. Com o arcabouço fiscal avançando em plenário, de preferência com algumas alterações corretivas que possam aprimorá-lo, o caminho vai se abrindo para juros mais baixos", diz Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos.
"O noticiário político também tem melhorado, com declarações dadas por Arthur Lira presidente da Câmara defendendo aperfeiçoamento no arcabouço fiscal, no qual o não cumprimento da meta traga, de fato, consequências mais pesadas", observa Matheus Sanches, sócio e analista da Ticker Research.
"Investidores seguem atentos a essa questão, dado que um arcabouço crível pode contribuir para a redução do risco fiscal, aumentando a confiança dos agentes econômicos na sustentabilidade das contas públicas, com efeito para os juros, bolsa, câmbio e a economia como um todo", diz Antonio Sanches, da Rico.
Na B3, a sessão foi negativa para as ações do setor metálico, em nomes como Vale (ON -1,88%) e Gerdau (PN -3,14%), que ainda acumulam perdas no mês (-4,20% e -3,22%, respectivamente), mas a resiliência mostrada em boa parte da sessão por Petrobras em dia negativo para a commodity - ainda que enfraquecida no fim do dia (ON +0,18%, PN -0,24%) - contribuiu para o Ibovespa, assim como o desempenho dos bancos, com Itaú (PN +1,47%), Santander (Unit +1,31%) e BB (ON +1,30%) à frente.
Na ponta do Ibovespa, destaque nesta quarta-feira para Yduqs, que saltou 23,80%, com balanço acima do esperado para o primeiro trimestre, em que o destaque foi a redução da dívida líquida, o que abre caminho para um ano sólido para a empresa, na avaliação do Bank of America. O desempenho de Yduqs puxou o de outra empresa do segmento de educação, Cogna, em alta de 6,98% no fechamento, em sessão positiva também para MRV (+6,54%), do setor de construção. No canto oposto do Ibovespa, Cielo (-3,50%), Gerdau (-3,14%) e JBS (-2,75%).
"Ativos cíclicos e que tinham caído muito nos últimos meses continuaram, hoje, em recuperação, com destaque para o setor educacional", diz Matheus Sanches, da Ticker Research. "Caso a perspectiva de queda de juros e de avanço de reformas se materialize, setores como tecnologia, varejo e construção civil devem continuar subindo nas próximas semanas, inclusive apoiados por dados econômicos acima das expectativas aqui no Brasil, como, por exemplo, o número de produção industrial divulgado hoje pela manhã."
Dólar cai novamente
O dólar emendou nesta quarta-feira, o segundo pregão consecutivo de queda no mercado doméstico de câmbio, em dia marcado por sinal predominante de baixa da moeda americana no exterior. Leitura do índice de inflação ao consumidor nos Estados Unidos em abril não apenas reforçou a perspectiva de pausa no aperto monetário pelo Federal Reserve em junho como alimentou apostas em cortes da taxa americana a partir de setembro.
Afora uma alta muito limitada e pontual nos primeiros minutos de negócios, quando registrou máxima a R$ 4,9901 (+0,05%), o dólar operou em baixa firme ao longo do pregão. Com mínima a R$ 4,9391 (-0,97%), a moeda fechou em queda de 0,75%, cotada a R$ 4,9499. Apesar de dois recuos seguidos, a divisa ainda acumula leve valorização na semana (+0,13%), em razão do avanço de 1,37% na segunda-feira.
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