As concessionárias de rodovias projetam um crescimento de 30 mil quilômetros em novas licitações para os próximos cinco anos, mais do que dobrando as vias concedidas atualmente. A estimativa, atualizada, foi divulgada nesta quarta-feira (10/5) pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), durante evento em Brasília. A entidade também divulgou os dados do setor para o ano de 2022.
A projeção anterior da organização, que tem como associadas 52 das 75 concessionárias brasileiras, era de um crescimento de 26,5 mil quilômetros para o período, mesmo número de vias que são concedidas atualmente. A ABCR alerta, porém, que é preciso enfrentar alguns problemas para garantir a curva de crescimento no futuro, como mitigar os passivos gerados pela pandemia da covid-19, aprimorar a modelagem de novos contratos e fortalecer a cadeia produtiva para apoiar o crescimento da infraestrutura.
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Para o diretor-presidente da ABCR, Marco Aurélio Barcelos, o setor possui um marco regulatório maduro e uma grande captação de investimentos. Em 2022, o investimento nas rodovias concedidas foi de R$ 9,5 bilhões, perdendo apenas para o ano de 2015, e representando um aumento de 38% em relação a 2021.
"Nós estamos, nesse momento, vivendo os píncaros da política de concessão de rodovias do Brasil. Talvez nós nunca tenhamos tantas oportunidades", discursou Marco. Na plateia, entre outras autoridades, estavam o diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) Guilherme Theo Sampaio e o ex-ministro dos Transportes do governo de Dilma Rousseff (PT), César Borges.
A projeção para os próximos cinco anos é baseada em licitações e projetos em andamento ou que já estão no radar, e é atualizada periodicamente. Caso os 30 mil quilômetros sejam implementados nos próximos cinco anos, o investimento total na próxima década deve somar algo em torno de R$ 108 bilhões.
"Talvez seja um dos poucos setores de infraestrutura que apresentam esse tamanho, essa oportunidade de negócio. Quem não entrou no país, essa é a oportunidade, e talvez seja a última janela para investimentos de grande porte", avaliou Marco.
O presidente da ABCR comparou o setor com o do saneamento, em termos de tamanho de investimento. Ele frisou, porém, que a concessão de rodovias tem uma maturidade regulatória já consagrada, enquanto o saneamento ainda enfrenta a articulação para aprovação do marco regulatório do saneamento, do qual o Executivo tenta vetar alguns pontos.
Alertas para o futuro
Para que o setor floresça, porém, Marco alerta que é preciso tomar três preocupações. A primeira delas é em relação aos passivos causados pela pandemia da covid-19 tanto no setor quanto no mercado em geral. "Os efeitos da covid acendem um alerta de passivo em germinação. Ou abortamos isso agora, ou a bola de neve vai se escalar", comentou.
O diretor cita, por exemplo, que o setor enfrentou uma inflação ainda maior do que o índice generalizado, medido pelo IPCA. Um dos fatores que influenciou o cenário foi o preço do petróleo, matéria-prima usada na produção do asfalto. Houve também um impacto sobre a demanda. "Essa cicatriz foi prontamente respondida no âmbito federal. A ANTT liderou a construção de uma solução adequada, que está sendo implementada. Isso não ocorreu nos estados", disse o diretor.
Também é necessário, segundo a entidade, aprimorar os estudos de modelagem dos projetos futuros. Atualmente, os métodos utilizado acabam subdimensionando os custos, o que desincentiva investidores. Outro ponto de atenção é saber se a indústria de base, as empreiteiras, e os demais setores envolvidos na construção da infraestrutura estão preparados para atuar nas obras de rodovias concessionadas.
O diretor da ANTT Guilherme Theo Sampaio, também presente no evento, relatou que a agência trabalha atualmente para modernizar o processo de fiscalização. Em sua visão, o processo atual pode ser duro demais com as concessionárias em alguns cenários. "Ontem (9/5) à tarde ficamos mais de duas horas com a equipe técnica do TCU [Tribunal de Contas da União] debatendo pontos específicos", relatou.
Também participou o presidente da Associação Nacional dos Usuários do Transporte de Cargas (Anut), Luis Henrique Baldez. A entidade represente grandes empresas que utilizam a malha rodoviária, como a produtora de celulose Suzano e a JBS.
"Temos o sonho de que a via pública um dia tenha tanta qualidade como as concedidas. Hoje em dia, dá a sensação de que a estratégia é de ter uma rodovia pública de péssima qualidade para poder concessionar, o que é uma tragédia", comentou Baldez.
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