Com redução das perdas nas últimas horas de negócios em meio à pressão compradora no mercado futuro, o dólar à vista encerrou a sessão desta quinta-feira, 13, em baixa de 0,31%, cotado a R$ 4,9262. Foi o terceiro pregão seguido de recuo da moeda americana no mercado doméstico, período em que acumulou desvalorização de 2,76%. Pela manhã e no início da tarde, a divisa - que fechou ontem abaixo de R$ 5,00 pela primeira vez desde 10 de junho de 2022 - chegou a furar piso de R$ 4,90, com mínima a R$ 4,8965.
Com a agenda doméstica esvaziada e a proposta de novo arcabouço fiscal já absorvida, os negócios foram guiados pelo exterior, onde o dólar perdeu força frente a moedas fortes e, principalmente, emergentes. O real, que liderou os ganhos entre seus pares nos últimos dias, hoje apresentou desempenho inferior a divisas como peso chileno, peso colombiano e o rand sul-africano, com altas de mais de 1% ante a divisa americana.
O resultado abaixo do esperado da inflação ao produtor (PPI, na sigla em inglês) em março nos EUA ratifica a perspectiva de desinflação, embora ainda lenta, da economia americana atestada ontem pela leitura da inflação ao consumidor (CPI). Monitoramento do CME mostra que as chances de alta de 25 pontos-base da taxa básica em maio caíram da casa de 70% para cerca de 60%. Além disso, dados fortes da balança comercial chinesa reforçaram a leitura de recuperação rápida do gigante asiático, o que favorece moedas atreladas a commodities.
O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, observa que houve nos últimos dias uma onda externa mais forte de baixa do dólar no exterior, com euro votando a ser cotado a US$ 1,10, que deu fôlego ao real. À redução da probabilidade de crise aguda no sistema financeiro americano, que trouxe alívio aos ativos de risco e fez o dólar se afastar de R$ 5,30, somou-se nos últimos dias um rearranjo da curva de juros dos EUA, na esteira de dados mais fracos de atividade e perda de fôlego da inflação.
"A percepção é que a atividade nos EUA vai desacelerar um pouco mais. O Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) não vai subir mais os juros para perto de 6% e o mercado já vê a chance de corte de juros neste ano. Isso acabou favorecendo as moedas emergentes", afirma Lima.
O economista acrescenta que, em sintonia com o ambiente externo mais favorável, houve diminuição do risco fiscal doméstico, embora ainda haja dúvidas sobre as premissas embutidas na proposta do novo arcabouço, que trará aumento de carga tributária. "Depois da aprovação da PEC da Transição, a percepção era de que o governo gastaria muito. E não se sabia a velocidade e o tamanho do gasto. A proposta do arcabouço não é tão boa como poderia ser, mas pelo menos vão discutir como fazer para fechar as contas", afirma Lima.
Em entrevista para a GloboNews hoje, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, disse que a proposta do novo arcabouço fiscal pode ir à votação 15 dias após o envio do texto à Casa, previsto para a próxima semana. Com elogios ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pelo "desprendimento" e a "forma cordata" de dialogar com o Congresso, Lira disse que a proposta chega maturada à Câmara e que precisa ser aprovada rapidamente para abrir espaço a debates como o da reforma tributária.
Em comentário sobre o cenário econômico, o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, afirma que a combinação do novo arcabouço fiscal com juros reais elevados contribui para o movimento de apreciação da taxa de câmbio. "Achamos que ele deve seguir no curto prazo, mais preferimos aguardar maior visibilidade quanto às incertezas externas e locais para eventualmente alterar nossa projeção, que hoje está em 5,25", afirma.