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Inflação assusta e deixa itens consumidos na Páscoa até 12% mais caros

Entre os itens que mais subiram, destacam-se os ovos (27,31%), a cebola (22,76%) e alguns industrializados como bolo pronto (14,51%), atum (12,97%), sardinha em conserva (11,46%) e bacalhau (10,91%)

Os itens de mesa da Páscoa registraram aumento médio de 12%, em comparação com o ano passado. Segundo levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro da Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), os preços dos produtos tradicionais estão o triplo da inflação do período, em 2022, que ficou em 4,81%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC-S).

Entre os itens que mais subiram, destacam-se os ovos (27,31%), a cebola (22,76%) e alguns industrializados como bolo pronto (14,51%), atum (12,97%), sardinha em conserva (11,46%) e bacalhau (10,91%). Já os chocolates e bombons, estrelas do período pascal, registraram variação expressiva — 9,65%. Nenhum dos itens da cesta recuou de preço nos últimos 12 meses e apenas dois subiram abaixo da inflação geral: batata inglesa e couve, ambos 2,23%.

Segundo Matheus Peçanha, economista e pesquisador do FGV Ibre — e responsável pelo estudo —, a alta dos preços pode ser explicada por questões climáticas, forte desvalorização cambial, além de problemas energéticos e logísticos que afetaram a oferta de vários alimentos no país. Peçanha destacou que a última entressafra do leite, no inverno passado, foi particularmente prejudicial para a inflação do produto, matéria-prima importante dos chocolates, por exemplo.

"A partir do último trimestre de 2022, os custos começaram a desacelerar: o clima melhorou junto com a produtividade do campo e os preços das commodities despencaram. Mas quando olhamos o acumulado dos 12 meses, percebe-se que ainda não foi o suficiente para compensar o cenário anterior, além de alguns problemas esporádicos de oferta, como é o caso da cebola e dos ovos", explicou.

Tendência de subir

Se a carestia da Páscoa está assustando, o economista do FGV Ibre alerta, ainda, que o consumidor deve ficar atento para os preços praticados nos próximos dias. "A pesquisa não mostra, em definitivo, a elevação dos itens que o consumidor vai encontrar. Só medimos o que aconteceu com os preços dessa cesta específica, nos últimos 12 meses, até março deste ano", frisou.

Peçanha exemplifica: "Além do aumento já registrado de 5,18% do pescado fresco, e de 10,91% do bacalhau, os preços desses itens tradicionais podem subir mais ainda, dada a pressão sazonal da demanda às vésperas da Páscoa.E mais: itens não contemplados no escopo do IPC, como os ovos de Páscoa e colombas pascais, devem sofrer igualmente com essa pressão de demanda pela tradição", acrescentou.

Marisa Silva, de 64 anos, tem sete netos. A avó, acompanhada da neta no supermercado, estava olhando os preços dos chocolates e disse que com a família grande e o preço dos ovos de páscoa, está cada vez mais difícil presentear todos.

"São mais os pais que dão só ovos. Como avó, queria dar mais, mas, como o preço tá muito caro, tenho recorrido a algo mais simples. Bem que queria dar um ovo muito bom e legal, mas o preço é absurdo. Não tem como dar para todos", lamentou.

A estudante Camila Beda, 22 anos, contou que quando era criança, todos em casa ganhavam um ovo da páscoa pelo menos. Mas essa tradição mudou com o tempo. Hoje, é apenas apenas um ovo para toda a família. "Não é mais como antigamente. Podemos até comprar mais de um ovo para todos lá em casa, só que não tem mais a celebração de trocar chocolate", disse.

Rombo no bolso

Produto Inflação

Ovos 27,31%

Cebola 22,76%

Bolo pronto 14,51%

Atum (conserva) 12,97%

Sardinha (conserva) 11,46%

Bacalhau 10,91%

Bombons/chocolate 9,65%

Arroz 9,49%

Azeite 7,78%

Azeitona (conserva) 5,42%

Pescado fresco 5,18%

Vinho 5,18%

Batata inglesa 2,23%

Couve 2,23%

Fonte: FGV Ibre

*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi