Independentemente de crença ou religião, boa parte da população já ouviu falar sobre os sete pecados capitais. Talvez você não conheça todos de cabeça mas, ainda assim, consegue citar alguns. De forma geral, eles representam sete comportamentos básicos que trazem malefícios para a vida de quem os pratica, seja a nível ético, moral, prático ou — mais comum devido à sua origem religiosa — espiritual.
No franchising, não há igrejas nem deuses, mas alguns erros cometidos por franqueadores e franqueados podem, sim, ser comparados aos pecados originais. Antes de fazer um investimento na área de franquias, é necessário tomar cuidados. Em material exclusivo, Marcelo Cherto, CEO da Cherto Consultoria, ensina como evitar os deslizes que podem levar à falência do negócio.
No geral, esses pecados estão relacionados a sensações universais, às quais todos nós estamos suscetíveis. São elas: avareza, gula, inveja, ira, luxúria, preguiça e soberba. Os pecados podem ser vistos como a contraparte das virtudes, qualidades que constituem bons indivíduos, como humildade, generosidade, empatia, etc.
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1 – Ira
No mundo das grandes corporações, as relações tendem a ser mais racionais, havendo pouco espaço para a ira. Mas, no mundo do franchising, a coisa é um pouco diferente, pois os franqueados são um grupo formado, em sua maioria, por empresários com pouca experiência. Para Cherto, nesse contexto, as emoções estão sempre muito presentes.
"A maioria dos negócios no mundo do franchising foi construída com muito sacrifício e dedicação. Então, as relações tendem a ser próximas entre o franqueador e franqueados, especialmente no início da rede.
Cuidar dessa relação é dever das duas partes. Uma relação entre franqueadores e franqueados que seja baseada em mentiras é certamente uma relação de curto prazo. Mas não é preciso que haja mentira para que ocorra a quebra de confiança. Basta que a comunicação entre as partes seja ruim", explicou o especialista.
Segundo o CEO, se a comunicação entre franqueadores e franqueados não é bem feita, fica a margem para interpretações erradas. Então, é fundamental que as expectativas de ambas as partes sejam muito claras e, assim, a raiva – algo que eclode normalmente quando as expectativas estão desalinhadas – não se sobreponha à razão.
2 – Gula
A característica básica do pecado da gula é o consumo compulsivo, excessivo. De acordo com Cherto, no franchising, a gula quase sempre está centrada na ânsia de crescer rapidamente, de ampliar o número de franquias custe o que custar. "Numa rede com uma franqueadora gulosa, o crescimento tende a ser desordenado e pode se mostrar insustentável", explica.
"Mas é importante observar que esse pecado pode acometer tanto o franqueador como o franqueado. Quando vê que a sua operação está crescendo, a tendência é que o franqueado também queira acelerar esse crescimento, e é aí que mora o perigo", ressalta o CEO.
Nesse tipo de situação, Cherto afirma que é comum que o franqueado que está indo muito bem com sua unidade acabe adquirindo novas franquias, sejam da mesma rede ou mesmo de outras marcas. "Se as coisas vão dando certo, ele já sai abrindo mais três, quatro, cinco negócios simultaneamente, sem se estruturar adequadamente. E, muitas vezes, nesse momento de gula, de querer fazer e acontecer, acaba atropelando processos e enfraquecendo as suas operações, colocando-as em risco".
3 – Soberba
A soberba é o pecado original de onde vêm todos os outros pecados. Envolve os sentimentos de arrogância, presunção e vaidade e leva ao orgulho desmedido e ao egocentrismo. Segundo o CEO, a soberba é comum nas grandes corporações, em que certos executivos em cargos mais altos parecem acreditar que são verdadeiros deuses.
"Infelizmente, o mundo do franchising não está livre desse pecado, o que é um contrassenso. Afinal, o sistema de franquias é baseado em parcerias e relações de troca. Por isso, franqueadores e franqueados prepotentes devem pensar muito bem se estão no negócio. Qualquer relação entre duas partes onde uma acha que é a dona da verdade – e acredita que a opinião da outra não precisa ser considerada – está fadada ao fracasso", observa Cherto.
4 – Avareza
Quando se pensa no pecado da avareza, imagina-se uma pessoa velha sozinha, contando suas moedas e guardando com todo o cuidado a sua riqueza. O desejo excessivo por riqueza, pelo acúmulo de bens, pode virar um vício.
Para Cherto, também é assim no mundo dos negócios, onde o dinheiro sempre presente facilita o aparecimento desse tipo de sentimento e promove o isolamento de certas pessoas. "No sistema de franquias, o pecado da avareza é mortal. Para que uma rede de franquias tenha sucesso, é preciso que os dois lados, tanto franqueador como franqueado, saiam ganhando", diz.
"A avareza é uma questão bastante delicada, porque existe um limiar entre você pagar o preço justo por um produto ou insumo e subvalorizar aquilo que se está pagando. No franchising, franqueados e franqueadores avarentos não conseguem crescer muito. Achar que, pagando mal funcionários e fornecedores, obterão maiores lucros, é uma grande ilusão", pontua.
De acordo com o CEO, quem pensa assim está impedindo o crescimento da própria empresa. "Afinal, o negócio só cresce se for bom para todos os stakeholders, para todos os que, de alguma forma, participam dele. Pensar pura e simplesmente no lucro é condenar a sua rede ao fracasso".
5 – Inveja
Segundo Cherto, um franqueado nunca deve enxergar como concorrente um integrante da mesma rede. "Os franqueados são como soldados que lutam sob uma mesma bandeira. Devem unir suas forças e lutar juntos contra os verdadeiros concorrentes e não desperdiçar energia lutando uns com os outros", afirma.
"E isso vale também para o franqueador que tem franqueados muito bem-sucedidos – sim, porque há casos em que o franqueador tem inveja dos próprios franqueados. Muitas vezes, o que ocorre é o franqueador não aceitar que o franqueado possa ganhar mais dinheiro que ele próprio, franqueador", explica.
Para o CEO, na relação entre franqueadores e franqueados, a inveja pode aparecer se os dois estiverem em momentos diferentes de prosperidade. "A inveja leva o empresário a dar mais atenção ao negócio do outro do que ao próprio empreendimento. E essa é uma forma muito eficiente para fazer com que um negócio dê errado", diz.
6 – Luxúria
O desejo e as tentações da busca pelo prazer – o pecado da luxúria – no mundo dos negócios estão relacionados à realização profissional por meio de riquezas materiais. Cherto pontua que o sucesso pode inebriar e criar a necessidade de exibi-lo a todos ao redor, o que pode levar à ostentação por meio de carros caros, joias e escritórios luxuosos.
"No franchising, tudo o que puder passar a ideia de abundância excessiva acaba servindo à luxúria. O pecado da luxúria manifesta-se quando o franqueador e o franqueado tentam mostrar aos outros aquilo que eles não são. E o que acontece, muitas vezes, é que o sujeito – tanto o franqueador como franqueado – está muito rico, e o negócio está muito pobre", declara.
O CEO explica que muitas vezes, essa pessoa ganha mais dinheiro do que o que tinha planejado e acaba criando um padrão de vida mais alto do que aquele negócio pode gerar, até mesmo porque os negócios podem enfrentar os altos e baixos da economia – ou mesmo daquela determinada empresa ou segmento.
7 – Preguiça
Cherto ressalta que no mundo do franchising, esse cenário se estabelece na acomodação, seja do franqueado, seja do franqueador. Em alguns casos, a preguiça aparece quando a rede alcança a liderança de mercado. "Afinal, depois do longo e duro caminho para chegar lá, nem sempre é fácil fugir da zona de conforto", diz.
Segundo o CEO, a preguiça pode surgir do franqueador, quando ele acredita poder deitar-se no berço esplêndido do sucesso e deixar de inovar. "Quando ele crê que o padrão de excelência foi alcançado e que, dali para a frente, é só tocar o barco, sem maior esforço. Hoje, o mercado exige mudanças constantes, mas há empresários bem-sucedidos que se acomodam, perdem de vista as necessidades reais ou percebidas de seus clientes e deixam de fazer aquilo que efetivamente tem que ser feito a cada momento" ressalta.
"Quando você lidera uma franqueadora ou quando investe numa franquia, o que acontece em todas as áreas do negócio depende do seu parecer final e do seu estilo de liderança – e liderar requer esforço, requer energia. Como é que uma equipe vai seguir um líder preguiçoso?", questiona.
Para o especialista, se seus franqueados ou seus funcionários perceberem que tudo pode ser adiado, certamente não irão se esforçar para cumprir prazos e metas. "E, com a cultura do 'deixa para depoi', do 'deixa que eu deixo', seu negócio estará condenado a dar errado", pontua.
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