O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, fez comentários positivos sobre o novo arcabouço fiscal, mas alertou que a nova âncora não garante um corte imediato na taxa básica de juros (Selic) e que a inflação vem caindo de forma mais lenta que o esperado. O chefe da autoridade monetária disse não ter lido em detalhe ainda o texto do projeto de lei da nova regra fiscal, entregue na véspera ao Congresso, mas avaliou que a proposta é "bastante razoável".
"Acho que é uma boa indicação de que estamos avançando na direção correta. Remove o risco que vi em algumas projeções por aí, de que a dívida fosse para 100% (do PIB) muito rápido", disse ontem, em reunião com investidores em Londres, organizada pelo European Economics & Financial Centre (EEFC).
A equipe econômica argumenta que o arcabouço fiscal e outras medidas adotadas pelo governo criariam condições para um corte da Selic. No entanto, Campos Neto jogou um balde de água fria na expectativa do governo, ao reiterar que a nova âncora fiscal não tem nenhuma "relação mecânica" com a condução da política monetária, que depende da evolução das expectativas de inflação. Ele disse ainda que é necessário observar como se dará a tramitação no Legislativo. "Estamos observando para ver os efeitos do que o governo apresentou", declarou.
Mesmo com os juros em patamares altos, o presidente do BC avaliou que a inflação no Brasil tem caído de forma mais lenta do que o esperado e que a "batalha não foi vencida". "Olhamos muitas coisas e cruzamos muitos dados. Mas a realidade é que a queda da inflação é mais lenta do que esperávamos, considerando o patamar da taxa real de juros no Brasil. O que nos diz que a batalha não foi vencida e temos que persistir", afirmou.
A declaração sinaliza que não há indicativos para um corte dos juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 2 e 3 de maio. O patamar elevado da taxa, atualmente em 13,75% ao ano, virou alvo de críticas recorrentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e um impasse entre o governo e a autoridade monetária.
A previsão, de acordo com Campos Neto, é de que a inflação volte a ganhar força no segundo semestre. Assim, o corte dos juros não se tornaria uma opção. A projeção do BC é de que a inflação geral deve ir a 3,5% em junho, e depois voltará a subir. As expectativas para 2024 e 2025 aumentaram quase 1% desde dezembro, em parte devido ao pacote fiscal aprovado no fim do ano passado e ao fato de o governo falar em mudança da meta de inflação.
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"Contaminação"
O presidente do BC considera que as projeções para os próximos anos estão melhores do que para 2023, mas ainda distantes das metas. Para ele, a inflação ainda está "contaminada" por medidas tomadas no período eleitoral, como a desoneração dos combustíveis. "O índice bruto de inflação está poluído pelas mudanças na tributação de gasolina, energia e gás. Quando olhamos para o cerne da inflação, está levemente abaixo dos 8%, o que é muito alto. Precisamos de seis a 12 meses para amadurecer a tomada de decisão", avaliou o presidente do BC, reforçando que as projeções acima da meta são "um sinal de alerta".
O governo chegou a defender a alteração das metas de inflação, consideradas pelo presidente Lula como excessivamente baixas. Para este ano, a meta é de 3,25% e, para os dois anos seguintes, de 3%. Campos Neto considera que a elevação da meta geraria um risco altista para a inflação. "Nossa opinião é mais no lado de que o risco vai aumentar e, mesmo que não aumente muito, não significa que não tem custo num prazo mais longo. No prazo mais longo, você pode criar danos ao fazer isso", disse.
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