O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação do país, subiu 0,71% em março. O resultado ficou abaixo do registrado em fevereiro, quando o indicador teve crescimento de 0,84%. Segundo os dados, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apesar da desaceleração, a taxa soma seis meses seguidos de alta.
O número veio em linha com as expectativas do mercado financeiro, que esperava uma alta de 0,75%. Com isso, a inflação acumula elevação de 2,09% neste primeiro trimestre de 2023, e de 4,65% nos últimos 12 meses, abaixo dos 5,60% observados nos 12 meses imediatamente anteriores.
Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, oito tiveram alta em março. Os maiores impacto e variação vieram do grupo de transportes — que avançou 2,11%, consequência principalmente do aumento de 8,33% da gasolina. Este foi o item de maior impacto individual no índice do mês. O etanol, por sua vez, subiu 3,20%.
O analista da pesquisa, André Almeida, atribuiu o saldo ao retorno da cobrança de impostos federais. "Os resultados da gasolina e do etanol foram influenciados principalmente pelo retorno da cobrança de impostos federais no início do mês, estabelecido pela Medida Provisória 1157/2023. Havia, portanto, a previsão do retorno da cobrança de PIS/Cofins sobre esses combustíveis a partir de 1º de março", explicou.
Em seguida apareceu o grupo de saúde e cuidados pessoais (0,82%) e habitação (0,57%) — que desaceleraram em relação ao mês anterior. O resultado foi puxado pela alta de 1,20% dos planos de saúde, enquanto habitação se deu principalmente pela energia elétrica residencial, que apresentou crescimento de 2,23%.
Alimentação e bebidas, grupo de maior peso no IPCA, desacelerou em relação a fevereiro, ficando em 0,05%, influenciado pela variação negativa da alimentação em domicílio. Houve queda nos preços da batata inglesa e do óleo de soja. Foram registrados também recuos nos preços da cebola, tomate e das carnes. Pelo lado das altas, os destaques foram para cenoura e ovo de galinha.
O único grupo que registrou deflação em março foi o de artigos de residência (-0,27%), após uma alta de 0,11% em fevereiro. O resultado foi puxado pelas quedas de quase 2% nos itens de TV, som e informática, principalmente dos itens de televisor e computador.
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Juros
Na avaliação da economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, a desaceleração do IPCA é um sinal importante sobre os resultados do aperto monetário, que visa justamente frear a atividade econômica. "Precisamos ver se nos próximos meses essa será uma tendência. Sabemos que a inflação dos serviços está ligada à atividade econômica, o setor é um dos que mais cresceu nos últimos dois anos e o fato é que este pode ser um sinal importante do desaquecimento promovido pela taxa básica de juros", alertou.
O coordenador dos Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), André Braz, destaca que os juros altos já mostram reflexos sobre os preços dos bens duráveis, enquanto os serviços seguem como um desafio para o Banco Central.
"Para o mês abril, esperamos uma inflação em torno de 0,4%", projetou o economista, que afirmou ainda que mesmo com a alta, o processo de desinflação está em curso. Isso porque o índice de difusão, que mede a proporção dos produtos e serviços com o aumento de preços, ficou em 60%.", ressaltou.
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Mercado
Apesar dos reajustes da gasolina e da energia elétrica, o IPCA desacelerou em março, o que ajudou, entre outros fatores, a derrubar ontem as taxas de juro futuras e a impulsionar os negócios na Bolsa de Valores. Chamou a atenção do mercado o fato de o resultado ter ficado dentro do teto de tolerância da meta de inflação para este ano, que é de 4,75%. A última vez que isso aconteceu foi em fevereiro de 2021: variação de 5,20% em 12 meses até aquele mês, ante teto de 5,25% no ano.
Na Bolsa, a alta dos negócios veio ainda pela manhã de ontem, com o anúncio do IPCA. A primeira avaliação é de que os sinais de menor pressão sobre os preços poderia levar o BC a rever o aperto dos juros. No fim do dia, o Ibovespa fechou aos 106,2 mil, com alta de 4,29% - a maior desde 3 de outubro. Dos 88 papéis que compõem o índice, 85 tiveram valorização. (Com Agência Estado)
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