O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira (10/4), que fechará os textos da nova regra fiscal e do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2024 antes da viagem que fará com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China. A agenda internacional começa amanhã.
"Antes de viajar, conforme a gente prometeu, temos que fechar os textos da PLDO e da nova proposta do arcabouço", afirmou ele a jornalistas. Antes, o ministro já havia dito que ambos os projetos seriam enviados juntos ao Congresso Nacional. O ministro acompanhará a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que embarca nesta terça (11) para Pequim.
- Haddad adia anúncio de marco de PPPs para depois de viagem à China
- Entenda como o governo pretende aumentar a arrecadação de impostos
- Governo deve encaminhar arcabouço fiscal na próxima semana, anuncia Padilha
De acordo com Haddad, dentro dos projetos, ainda falta validar pequenos detalhes de redação nas propostas. "O que vou fazer agora é validar os pequenos detalhes que estão faltando para a gente poder viajar numa segurança de que a área econômica e a Casa Civil estão com os textos em ordem. São coisas de redação, é coisa pequena, de redação, mas precisa de validação formal da nossa parte”, disse.
A data limite para que o governo entregue ao Legislativo o projeto da PLDO, com as premissas orçamentárias para o ano seguinte, é 15 de abril. Portanto, o texto pode ser enviado com a proposta de arcabouço fiscal até a sexta-feira (14). "A ministra Simone (Tebet) vai estar aqui. O dia 15 é o prazo para mandar (para o Congresso Nacional), e ela vai estar tranquila de que está validada por todos os ministros", completou Haddad.
Expectativas
Em meio à expectativa do ministro da Fazenda em encaminhar o texto do projeto de lei complementar do novo arcabouço fiscal ao Congresso, que substituirá o teto de gastos — emenda constitucional que limita o aumento de gastos pela inflação do ano anterior — analistas lembram que a proposta não será suficiente para fazer a economia voltar a crescer.
O economista Benito Salomão, professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), destaca que a economia é um fator crítico para qualquer governo e será desafiador para o presidente Lula evitar uma onda de pessimismo diante da expectativa de crescimento baixo na economia neste ano.
“Se o presidente Lula vai conseguir espantar o pessimismo ou não, ainda é cedo para falar, pois nós temos uma economia mundial que está desacelerando, está crescendo cada vez menos, o que não é um contexto internacional fácil. Mas é lógico que com arcabouço fiscal o governo já passa a sinalizar uma política econômica de melhor qualidade do que seria se fosse simplesmente a política econômica do PT raiz”, destaca.
Salomão observa que é difícil dizer se o novo arcabouço fiscal será suficiente para calar a oposição nas pautas econômicas. “A oposição que surgiu, sobretudo nas eleições de 2018, é muito mais a questão da pauta moral do que da pauta econômica”, disse.
Sobre a implementação das políticas sociais pelo atual governo, o economista disse que o governo Lula já está conseguindo seguir esse caminho. “O Bolsa Família teve reajuste para R$ 600 e o governo também concedeu aumento nas bolsas de pesquisa das agências de fomento. Houve recuperação da política cultural, que estava meio jogada às traças, isso é o governo que está conseguindo”, pontua.
Na avaliação do economista, o principal obstáculo à frente é a margem pequena que o governo tem no Congresso para aprovar reformas. “Temos a reforma tributária no radar e não sabemos como o governo vai conseguir uma maioria tranquila para poder passar essa reforma, pois ela mexe com muitos interesses. Porém, se o governo conseguir vencer esse obstáculo, vai ser uma grande coisa”, afirma.
Para o advogado tributarista, Fernando Zilveti, sócio do Zilveti Advogados, o arcabouço fiscal é muito importante para qualquer governo. “É preciso sinalizar de onde virão os recursos e como serão feitos os gastos. O projeto é bom e tem sido aplaudido, mas precisa passar pelo Congresso”, diz. “Esse Congresso tem uma característica importante, é muito heterogêneo e com forças políticas bastante peculiares. Se passar, é o primeiro passo para que a economia comece a andar, sinalizando para os agentes econômicos que o governo tem propósitos sólidos e tem estabilidade.”
Segundo Zilveti, ninguém sabe ainda se o arcabouço vai diminuir os juros. “Os juros não dependem só do arcabouço fiscal. Depende de uma série de fatores, principalmente de fatores hoje mais ligados à política externa ou ao cenário externo. O mundo está em crise, então é muito difícil saber se amanhã vai tudo estar resolvido ou ainda vai demorar um pouco, se os fatores externos se ajustarem e os fatores internos também”, observa. “É bem provável que a gente espante a crise e a economia comece a mostrar resultados. Muita calma, muita política, muita negociação para que isso tudo aconteça, e também uma grande sorte de dose para isso que a gente está brigando no dia a dia. O governo está fazendo a parte dele.”
O economista César Bergo, do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal, faz um alerta para o fato de que o arcabouço fiscal não pdoe ser colocado como a única solução para o país. “No caminho em que o governo atual está trilhando, ele também coloca a reforma tributária como passo importante para alcançar o equilíbrio fiscal. Mas, no tocante ao arcabouço fiscal apresentado, não tenha dúvida que existem muitas lacunas. Uma delas é com relação a arrecadação”, afirma.
É preciso lembrar que a arrecadação passada vem batendo recordes mês a mês, mas devido, em grande parte, a receitas não recorrentes, e é preciso ficar atento ao avanço das despesas futuras, segundo ele. “O governo coloca um limite de 70% para o despesas em relação às receitas. Então, provavelmente, vai dar um valor bem maior do que ele conseguiria naquela metodologia do teto de gastos”, compara Bergo.
“Desta forma o governo tem recursos para alocar as questões sociais e também alguns gatilhos que ele coloca na própria medida encaminhada e que ainda vai ser formalizado ao Congresso”, pontua o especialista. “De qualquer forma, se a economia vai bem, o governo é bem avaliado. Mas, se ela vai mal, as avaliações pioram. Então, esses aspectos do ponto de vista social, e de buscar reduzir a desigualdade, que é a bandeira do próprio partido do presidente presidente Lula, são importantes para ajudar na melhora da avaliação”, destaca.
Bergo lembra ainda que, nos dois primeiros mandatos do presidente, entre 2002 e 2010, também no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, os governos gastavam muito. “Então, a partir do momento em que esse novo arcabouço fiscal coloca algumas regras com relação às despesas, o mercado realmente começa a ficar mais aliviado. Mas o grande desafio é o Congresso Nacional”, ressalta.
Saiba Mais
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.