Jornal Correio Braziliense

Conjuntura

Produção industrial recua 0,3% em janeiro ante dezembro, segundo IBGE

A queda em janeiro vem após uma variação nula em dezembro de 2022, quando interrompeu dois meses consecutivos de crescimento, período em que acumulou expansão de 1,5%. Com o resultado, o setor ainda se encontra 2,3% abaixo do patamar pré-pandemia

A produção industrial recuou 0,3% na passagem de dezembro para janeiro, de acordo com os dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgados nesta quinta-feira (30/3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com o resultado, o setor ainda se encontra 2,3% abaixo do patamar pré-pandemia. Na comparação com janeiro de 2022, houve variação de 0,3%. Em 12 meses, a indústria acumula recuo de –0,2%.

O resultado negativo de janeiro vem após uma variação nula em dezembro de 2022, quando interrompeu dois meses consecutivos de crescimento, período em que acumulou expansão de 1,5%. “Embora a produção industrial tenha mostrado alguma melhora de comportamento no fim do ano, uma vez que marcou saldo positivo nos últimos meses de 2022, inicia o ano de 2023 com perda na produção, e permanece longe de recuperar as perdas do passado recente”, explica o gerente da pesquisa, André Macedo.

Segundo Macedo, em janeiro de 2021 a indústria chegou a superar o patamar pré-pandemia, ficando 4% acima. Porém, questões tanto na demanda doméstica quanto na oferta afetaram o ritmo da produção. “Além dos fatores que impactam na renda disponível das famílias — inflação alta de alimentos, elevada taxa de juros impactando na concessão de crédito e endividamento, trabalhadores na informalidade ou fora do mercado de trabalho —, a indústria também foi afetada por restrições de oferta, dificuldades de obtenção de matérias-primas, componentes eletrônicos e insumos para a produção dos bens finais”, avalia.

Três das quatro grandes categorias econômicas e 11 dos 25 ramos pesquisados mostraram recuo na produção. Entre as atividades, as influências negativas mais importantes foram de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-13,0%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-6,0%), produtos alimentícios (-2,1%).

Alimentos

No caso dos produtos alimentícios, o gerente da pesquisa destaca que a atividade vinha de três meses consecutivos de crescimento, período em que acumulou alta de 19,7%. “Além dessa base de comparação elevada, dois grupamentos chamam atenção: açúcar e carnes, tanto de bovinos quanto de aves e suínos. Porém, esse comportamento negativo, até aqui, é algo muito mais pontual do que propriamente uma trajetória descendente desse segmento.”

O principal impacto positivo, por sua vez, veio do setor extrativo, com alta de 1,8% após dois meses no campo negativo, que acumularam queda de 7,7%. “Além da base depreciada, tanto o petróleo como gás natural apresentaram crescimento, justificando o avanço”, avalia o gerente.

Esta é a primeira divulgação da nova série da pesquisa, que passou por atualizações na seleção da amostra de empresas, ajustes nos pesos dos produtos e das atividades, além de alterações metodológicas, para retratar mudanças econômicas da sociedade. São atualizações já previstas e implementadas periodicamente pelo IBGE.

De acordo com o economista-chefe do Banco Original, Marcos Caruso, a projeção é de queda de que a indústria registre queda de 0,9% em 2023. “Esse valor reflete uma preocupação com o risco de uma recessão global e das incertezas oriundas do conflito entre a ala política e a ala econômica, que mantém a tendência de juros altos por um bom tempo. Um cenário que pode alterar essa perspectiva para cima é a China, já que o país pode se apresentar como um forte demandante das commodities brasileiras”, avaliou.