Apesar da promessa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de entregar logo um novo modelo para o arcabouço fiscal e da nova crise financeira gerada pela quebra de dois Silicon Valley Bank (SVB), da Califórnia, e do Signature Bank, de Nova York, o Itaú Unibanco mantém as perspectivas sobre um impacto pequeno dessa nova crise e ainda não vê espaço para o Banco Central reduzir a taxa básica da economia (Selic), como alguns analistas e integrantes do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendem.
De acordo com Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, “há grandes chances” de uma antecipação da queda dos juros agora “dar errado”. Ele destacou que a nova expectativa para o Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) de redução no ritmo de alta dos juros, de 0,50 ponto percentuaL, para 0,25 ponto, é praticamente um consenso após a quebra dos dois bancos e, mesmo se o Fed paralisar os juros na próxima reunião do Fomc — comitê de política monetária da instituição —, na próxima semana, não fez com que ele mudasse as projeções dos juros no Brasil.
Mesquita e sua equipe preveem queda da Selic apenas a partir de novembro, na penúltima reunião do ano do Copom.
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“Mantivemos nossas projeções para a Selic, mesmo se o Fed não aumentar os juros”, afirmou Mesquita, nesta quarta-feira (15/3), a jornalistas durante apresentação das estimativas macroeconômicas do Itaú Unibanco.
O banco manteve em 1,3% a previsão do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano e também não alterou a estimativa de alta em 2024, de 1%. “As medidas do Fed anunciadas no fim de semana parecem eficientes, mas os preços das ações devem seguir com bastante volatilidade”, avaliou.
Cavalo de pau
O economista fez um alerta sobre os riscos de um cavalo de pau na política monetária, como ocorreu em 2011, quando o Banco Central começou a reduzir os juros antes do tempo, sob a justificativa de se antecipar a uma crise na Europa, e acabou errando a mão no controle da inflação, que disparou naquele ano e fechou no teto da meta, de 6,5%.
"Cortar a taxa de juros, agora, seria muito arriscado e com boas chances de dar errado. O cenário global está mudando e as previsões podem ser alteradas. Mas a experiência do passado mostra que, quando o Banco Central tentou antecipar um choque negativo, colocando a meta em segundo plano, deu bastante errado. E o BC tem uma memória institucional daquele erro”, afirmou. A reunião do Fomc ocorre no mesmo dia do Comitê de Política Monetária (Copom), entre 21 e 22 deste mês.
Mário Mesquita reconheceu que ainda há muita incerteza em torno do arcabouço fiscal para conseguir mudar as previsões de aumento da trajetória da dívida pública em relação ao PIB e ajudar o Banco Central a iniciar o processo do ciclo de queda da Selic, que deverá ser gradual. Pelas projeções do Itaú, a Selic continuará com dois dígitos neste ano e no próximo, encerrando 2023 em 12,50%, e, no fim de 2024, passará para 10%. Ele fez críticas pesadas sobre as recomendações sobre quem defende ignorar a preocupação com a dívida pública e pedir mais emissão de moeda como forma de garantir crescimento econômico.
Nesse caso, ele mandou as pessoas olharem para a Argentina, que está com inflação anual rodando em 100% e deve registrar queda de 3% no PIB deste ano.De acordo com Mesquita, é preciso monitorar os riscos de um colapso do crédito por conta dessa nova crise bancária no exterior. "Existe um problema para o crédito das empresas no mercado de capitais”, alertou, ao justificar a volatilidade atual nas bolsas em geral. Segundo ele, os fundos de renda fixa, que financiam as empresas por meio da compra de debêntures, estão sentindo o impacto da fuga dos investidores. Com isso, o financiamento das empresas por esse mecanismo de crédito tende a ficar mais escasso se essa crise bancária se prolongar.
Reforma tributária
Na avaliação de Mesquita, ao contrário do discurso do governo de que será possível aprovar a reforma tributária neste ano, a resistência de certos grupos, como a bancada da agricultura, que é contra o imposto único (IVA), será enorme. “Há diversos setores fazendo questionamentos para a reforma tributária”, frisou. Para ele, a proposta da reforma não será aprovada com facilidade pelo Congresso e, portanto, não será possível incluir na conta para permitir uma queda dos juros.
O economista do Itaú Unibanco destacou que não existe discordância no mercado de que o sistema tributário brasileiro é uma “panaceia” e prejudica o crescimento da economia, porque limita a competitividade do país, contudo, há muitas divergências ao mesmo tempo. “Todo mundo concorda que o sistema tributario é complexo e atrapalha a competitividade do país. Mas temos dúvidas sobre as chances de aprovação”, completou.
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