O mercado de trabalho formal registrou a criação de 83.297 vagas em janeiro. Mesmo com saldo positivo, o dado foi o pior resultado para o mês da série histórica do novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego, iniciada em janeiro de 2020 com nova metodologia. Em relação a janeiro do ano passado, quando foram criados 167.269 empregos formais, houve queda de 50,2%, ou seja, metade do volume de postos gerados no primeiro mês de 2021.
O dado positivo do Caged de janeiro é resultado de um número maior de contratações do que de demissões no mercado formal de trabalho. No primeiro mês do ano, foram registrados 1.874.226 admissões e 1.790.929 desligamentos. Conforme os dados do ministério, a geração de vagas formais ocorreu em 16 das 27 unidades da federação, conforme os números do Caged.
Quatro dos cinco principais setores pesquisados pelo Caged criaram vagas em janeiro, com exceção do comércio, que apresentou fechamento de 53.524 vagas. Já o setor de serviços teve um saldo positivo de 40.686 novos postos formais de trabalho, com destaque para o setor da administração pública, defesa e seguridade social, educação, saúde e serviços sociais.
O relatório revela ainda que o salário médio real (descontada a inflação) de admissão no mês alcançou R$ 2.012,76, enquanto o salário médio real de desligamento foi de R$ 2.034,98. Em janeiro de 2022, esses valores eram de R$ 2.021,49 e R$ 1.977,89 respectivamente. O salário médio de admissão dos homens chegou a R$ 2.096,25, enquanto o das mulheres alcançou R$ 1.887,60, ou seja, 10% a menos do que os trabalhadores de sexo masculino.
Os números do Caged foram divulgados ontem, pelo ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, na sede da pasta, em Brasília. Ele não poupou críticas aos juros altos como um dos fatores do fraco volume de geração de emprego formal em janeiro, apesar da melhora em relação a dezembro, quando o saldo ficou negativo em 400.669.
Um dos diagnósticos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é que a Selic (taxa básica da economia) — atualmente em 13,75% ao ano —, mantida em patamares mais elevados pelo Banco Central para conter a inflação, tem prejudicado a atividade econômica, o que se reflete na renda e nas demissões dos trabalhadores. Na ata de seu último encontro de política monetária, realizado no início de fevereiro, o Banco Central já havia alertado para o enfraquecimento do mercado de trabalho.
Para Luiz Marinho, os juros no atual patamar penalizam a economia e o emprego, pois, o nível de endividamento das famílias e o comprometimento de renda em alta, somado ao aumento de despesas fixas em janeiro, levam as empresas a reduzir as contratações diante da expectativa de queda do consumo. "Janeiro é tradicionalmente um mês forte. Em janeiro de 2023, temos uma política monetária ainda restritiva. O Banco Central tem uma tarefa importante de monitorar o processo econômico para a retomada da economia. Os juros altos sacrificam demasiadamente a população de baixa renda do país", afirmou o ministro. "Em janeiro, apesar de todos esses 'senões', temos um saldo positivo nos empregos formais", frisou.
Atividade fraca
Analistas avaliaram os dados do Caged com cautela, pois janeiro é um mês tradicionalmente fraco no mercado de trabalho e a economia está em processo de desaceleração. Rafael Ribeiro, executivo de mercado e consultor corporativo, ressaltou que, apesar de os números serem positivos, há uma tendência de queda de refração da economia após a queda de 0,2% no Produto Interno Bruto (PIB) do último trimestre de 2022. "Temos uma movimentação de mudança de governo e de algumas coisas mais estruturais como o setor de construção civil, em cooperação com as mudanças do Minha Casa e Minha Vida", disse. "Existe um otimismo por parte do empresariado. Porém, quando vamos para setores como comércio em que dependemos do poder de compra do cliente para poder efetivamente prosperar, o clima é de pessimismo e os números do primeiro trimestre não estão bons", acrescentou.
De acordo com a consultora corporativa Juliana Alencar, CEO da Weird Garage, os dados do Caged refletem a insegurança do mercado sobre a taxa de juros. "Isso pode incentivar que os profissionais busquem os padrões de empregos formais, em vez de projetos autônomos, que era uma tendência a alguns meses atrás", observou. "As empresas estão entendendo cada vez mais a sua cultura e o tipo de profissional que esteja alinhado a ela. Por isso, têm optado por um time que entregue os resultados mas esteja alinhado a sua cultura", disse a analista.
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