INVESTIMENTO

Por que ações do Credit Suisse despencaram em meio a temores sobre futuro do setor bancário

As preocupações com os rumos do setor bancário se espalharam pelos mercados de ações, com todos os principais índices caindo acentuadamente

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postado em 16/03/2023 09:52 / atualizado em 16/03/2023 09:52
 (crédito: Reuters)
(crédito: Reuters)

As ações do Credit Suisse despencaram nesta quarta-feira (15/3) para uma mínima recorde - em meio à tensão já existente entre investidores após a quebra do banco americano Silicon Valley Bank (SVB).

Os papéis do banco suíço chegaram a perder 30% do valor, dando continuidade ao movimento de desvalorização iniciado na terça-feira, quando a instituição financeira informou ter identificado "fragilidades" em seus controles contábeis.

Os investidores estão preocupados com a forma como o banco, assolado por problemas, lidará com as consequências das falências dos bancos americanos – além do SVB, o Signature Bank sofreu intervenção das autoridades financeiras dos EUA nos últimos dias.

As preocupações com os rumos do setor bancário se espalharam pelos mercados de ações, com todos os principais índices caindo acentuadamente.

Os mais importantes índices da Europa caíram mais de 3%, enquanto as principais bolsas dos EUA também recuaram, com as ações de grandes e pequenos bancos em queda.

O temor quanto ao futuro do setor bancário e seus impactos para a economia global derrubou ainda o preço do petróleo, com o Brent fechando em queda de 4,85% e o WTI em baixa de 5,22% nesta quarta-feira.

No Brasil, o Ibovespa fechou em queda de 0,25%, com algum alívio após o banco central da Suíça indicar que fornecerá liquidez ao Credit Suisse "se necessário", além de rumores quanto a uma possível fusão entre a instituição em dificuldades e o grupo UBS.

Nova crise ou mais um 'caso isolado'?

"Os problemas no Credit Suisse mais uma vez levantam a questão se este é o começo de uma crise global ou apenas outro caso 'idiossincrático'", escreveu Andrew Kenningham, da Capital Economics.

Após admitir "fragilidades" em suas demonstrações contábeis, o Credit Suisse insistiu que sua posição financeira não é uma preocupação, com o executivo-chefe dizendo que as reservas de caixa do banco "ainda são muito, muito fortes".

Mesmo assim, o medo de problemas em uma instituição internacional tão grande pressionou as ações de bancos em todo o mundo.

As dificuldades no setor bancário começaram nos Estados Unidos na semana passada, com o colapso do SVB, o 16º maior banco do país.

O banco – especializado em empréstimos para empresas de tecnologia – sofreu intervenção pelos reguladores dos EUA na sexta-feira, na maior falência de uma instituição financeira americana desde 2008. O braço britânico do SVB foi arrematado pelo valor de uma libra pelo HSBC.

Na esteira do colapso do SVB, o Signature Bank, com sede em Nova York, também faliu, com os reguladores americanos garantindo todos os depósitos em ambos os casos.

Mas persistem temores de que outros bancos possam enfrentar problemas semelhantes, e as negociações de ações de instituições financeiras enfrentam volatilidade nesta semana.

Fila em frente a uma agência do Silicon Valley Bank
Reuters
Clientes do SVB fizeram fila diante de agências tentando sacar seu dinheiro

'Ainda é cedo para saber'

"É muito cedo para saber quão generalizado é o estrago", escreveu Laurence Fink, presidente-executivo da gigante de investimentos BlackRock em uma carta anual a investidores.

"A resposta regulatória até agora tem sido rápida e ações decisivas ajudaram a evitar riscos de contágio. Mas os mercados permanecem tensos."

Fundado em 1856, o Credit Suisse enfrentou uma série de escândalos nos últimos anos, incluindo acusações de lavagem de dinheiro e outras questões.

O banco registrou prejuízos em 2021 e novamente em 2022 – seu pior ano desde a crise financeira de 2008 – e alertou que não previa ter lucro até 2024.

As ações da empresa já haviam sido severamente atingidas antes desta semana – perdendo cerca de dois terços do valor de mercado no ano passado.

A queda dos papéis ocorreu em meio a uma onda de saques de recursos por clientes, que somaram 110 bilhões de francos suíços (R$ 625 bilhões) somente no último trimestre de 2022.

Principal acionista descarta novo aporte

A divulgação na terça-feira pelo Credit Suisse de "fragilidades" em seus controles financeiros renovou as preocupações com relação ao futuro da instituição financeira.

O temor se agravou quando o principal acionista do banco, o Saudi National Bank, informou que não injetaria mais recursos na instituição suíça.

As ações do Credit encerraram o dia em queda de 24%, enquanto outros bancos corriam para reduzir sua exposição à empresa.

A Bloomberg informou que o BNP Paribas havia parado de aceitar certos negócios, se o Credit Suisse fosse a contraparte.

"Essa crise bancária veio dos Estados Unidos. E agora as pessoas estão observando como tudo isso também pode causar problemas na Europa", disse Robert Halver, chefe de mercado de capitais do Baader Bank da Alemanha.

"Se um banco teve qualquer problema no passado, e grandes investidores dizem 'não queremos mais investir neste banco', então o recado é claro."

Efeito da alta de juros

Um dos problemas que atingiram o banco americano SVB antes de sua falência foi que ele foi forçado a vender títulos do governo americano que possuía para levantar dinheiro.

Mas esses títulos perderam valor ao longo no ano passado, quando o Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) elevou juros para tentar conter a inflação.

Muitos outros bancos centrais também aumentaram as taxas de juros. À medida que as taxas sobem, o valor das carteiras de títulos dos bancos diminui.

As quedas significam que muitos bancos podem estar enfrentando perdas potenciais significativas. No entanto, a mudança no valor normalmente não seria um problema.

O problema acontece quando essa perda de valor ocorre em meio a outras pressões – como uma retirada significativa de recursos por clientes –, forçando o banco a vender seus ativos desvalorizados.

"A preocupação é que os bancos com grandes perdas não realizadas em suas carteiras de títulos possam não ter reservas suficientes se houver uma rápida retirada de depósitos [pelos clientes]", explica Susannah Streeter, diretora de mercados da Hargreaves Lansdown.

"Embora as maiores instituições não estejam em risco, graças à grande camada de capital em que estão apoiados e à natureza estável de seus depósitos, o nervosismo é palpável."

-Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/articles/c87vlgdv1z3o

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