A quebra de dois bancos norte-americanos em apenas três dias deixou o mercado financeiro internacional tenso com a possibilidade de uma nova crise bancária global, semelhante à de 2008. Mas a rapidez com que as autoridades agiram para tentar evitar o contágio de outras instituições acalmou os investidores, pelo menos em parte.
O maior nervosismo, ontem, ocorreu nos mercados europeus, onde a Bolsa de Frankfurt teve perda de 3,04% e a de Londres caiu 2,58%. No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) abriu o dia no vermelho, acompanhando as bolsas estrangeiras. Chegou a atingir o menor piso do ano, de 102.255 pontos, mas encerrou o pregão com recuo de 0,48%, a 103.121 pontos. Em Nova York, o Índice Dow Jones recuou menos, 0,28%, e a Nasdaq, bolsa das empresas de tecnologia, subiu 0,45%.
Na última sexta-feira, o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, interveio no Silicon Valley Bank (SVB) e, no domingo, foi a vez do Signature Bank. O Fed anunciou um programa emergencial para minimizar os riscos de um colapso no sistema bancário. O órgão assumiu os ativos dos dois bancos e se comprometeu a garantir os saques dos correntistas, e não apenas os US$ 250 mil garantidos. A medida evitou um tombo maior nas bolsas e fez os juros futuros fecharem em queda, ontem, tanto no Brasil quanto nos EUA.
"As bolsas acabaram caindo pouco porque muitos precificaram que o Fed, em consequência da quebra dos bancos, vai reduzir o ritmo de alta dos juros. Com isso, as curvas de juros caíram. Mas os casos parecem isolados. O SBV era bem específico, muito concentrado no setor de startups, tanto em empréstimos, quanto em depósitos. Esse setor foi muito bem em 2020-2021 e o banco achou ok elevar essa concentração, mas, desde o ano passado, houve uma virada", comentou Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo está "monitorando" a crise dos bancos norte-americanos e descartou a chance de uma crise semelhante à de 2008, desencadeada pela quebra do Lehman Brothers, que era, então, a quarta maior instituição financeira dos EUA. Segundo Haddad, o sistema financeiro brasileiro é "mais robusto" do que os estrangeiros.
Analistas também descartaram o risco de uma crise sistêmica como a de 2008. Na época, o Fed, se recusou a prestar socorro ao Lehman, atitude bem diferente da adotada agora, quando o banco central norte-americano se apressou a evitar o contágio dos mercados.
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Riscos
De acordo com a Oxford Economics, a quebra dos dois bancos não deve ter implicações significativas para a economia, mas é um "sinal de riscos sistêmicos no setor bancário". Na avaliação da consultoria, a economia dos EUA passará por uma leve recessão no semestre. "Em grande parte, a razão para essa perspectiva tem sido nossa visão de que o Fed continuará a apertar a política monetária até quebrar alguma coisa", afirma o relatório assinado pelo analista John Canavan.
O economista e ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega não vê a quebra dos dois bancos regionais dos EUA como a origem de uma nova grande crise global, e, consequentemente, não considera um bom argumento para o governo defender a queda da Selic. "O governo brasileiro está tão fissurado em querer derrubar os juros que qualquer motivo serve para as autoridades dizerem que a taxa de juros tem que baixar", afirmou.
Já para o economista e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Luiz Gonzaga Belluzzo, "se a Selic continuar no patamar atual, vai ferrar com a economia".
Tanto Mailson, um ortodoxo, quanto Belluzzo, que segue a linha desenvolvimentista, o episódio dos bancos dos EUA coloca por terra o argumento de correntes liberais que defendem o Estado mínimo, porque o sistema financeiro depende do socorro do Estado quando as instituições quebram.
"A característica do Estado moderno não é a ausência do Estado. Pelo contrário, o Estado é fundamental para desenhar instituições, fazer políticas contracíclicas e agir nas crises quando necessário, além de estimular o investimento privado", frisou o ex-ministro.
"O Estado protegeu os depósitos e preservou os ativos dos bancos. O Fed vai comprar os ativos do SBV pelo valor de face para não deixar desvalorizar e evitar uma corrida bancária. O Fed agiu bem e rápido, porque não caiu no conto de que era uma crise regional", avaliou Belluzzo.
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