Finanças

Mercados mostram nervosismo com intervenção em duas instituições nos EUA

Mercados mostram nervosismo com intervenção em duas instituições nos Estados Unidos, mas ação do Fed acalma investidores

Rosana Hessel
postado em 14/03/2023 06:00
 (crédito:  AFP)
(crédito: AFP)

A quebra de dois bancos norte-americanos em apenas três dias deixou o mercado financeiro internacional tenso com a possibilidade de uma nova crise bancária global, semelhante à de 2008. Mas a rapidez com que as autoridades agiram para tentar evitar o contágio de outras instituições acalmou os investidores, pelo menos em parte.

O maior nervosismo, ontem, ocorreu nos mercados europeus, onde a Bolsa de Frankfurt teve perda de 3,04% e a de Londres caiu 2,58%. No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) abriu o dia no vermelho, acompanhando as bolsas estrangeiras. Chegou a atingir o menor piso do ano, de 102.255 pontos, mas encerrou o pregão com recuo de 0,48%, a 103.121 pontos. Em Nova York, o Índice Dow Jones recuou menos, 0,28%, e a Nasdaq, bolsa das empresas de tecnologia, subiu 0,45%.

Na última sexta-feira, o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, interveio no Silicon Valley Bank (SVB) e, no domingo, foi a vez do Signature Bank. O Fed anunciou um programa emergencial para minimizar os riscos de um colapso no sistema bancário. O órgão assumiu os ativos dos dois bancos e se comprometeu a garantir os saques dos correntistas, e não apenas os US$ 250 mil garantidos. A medida evitou um tombo maior nas bolsas e fez os juros futuros fecharem em queda, ontem, tanto no Brasil quanto nos EUA.

"As bolsas acabaram caindo pouco porque muitos precificaram que o Fed, em consequência da quebra dos bancos, vai reduzir o ritmo de alta dos juros. Com isso, as curvas de juros caíram. Mas os casos parecem isolados. O SBV era bem específico, muito concentrado no setor de startups, tanto em empréstimos, quanto em depósitos. Esse setor foi muito bem em 2020-2021 e o banco achou ok elevar essa concentração, mas, desde o ano passado, houve uma virada", comentou Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo está "monitorando" a crise dos bancos norte-americanos e descartou a chance de uma crise semelhante à de 2008, desencadeada pela quebra do Lehman Brothers, que era, então, a quarta maior instituição financeira dos EUA. Segundo Haddad, o sistema financeiro brasileiro é "mais robusto" do que os estrangeiros.

Analistas também descartaram o risco de uma crise sistêmica como a de 2008. Na época, o Fed, se recusou a prestar socorro ao Lehman, atitude bem diferente da adotada agora, quando o banco central norte-americano se apressou a evitar o contágio dos mercados.

Riscos

De acordo com a Oxford Economics, a quebra dos dois bancos não deve ter implicações significativas para a economia, mas é um "sinal de riscos sistêmicos no setor bancário". Na avaliação da consultoria, a economia dos EUA passará por uma leve recessão no semestre. "Em grande parte, a razão para essa perspectiva tem sido nossa visão de que o Fed continuará a apertar a política monetária até quebrar alguma coisa", afirma o relatório assinado pelo analista John Canavan.

O economista e ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega não vê a quebra dos dois bancos regionais dos EUA como a origem de uma nova grande crise global, e, consequentemente, não considera um bom argumento para o governo defender a queda da Selic. "O governo brasileiro está tão fissurado em querer derrubar os juros que qualquer motivo serve para as autoridades dizerem que a taxa de juros tem que baixar", afirmou.

Já para o economista e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Luiz Gonzaga Belluzzo, "se a Selic continuar no patamar atual, vai ferrar com a economia".

Tanto Mailson, um ortodoxo, quanto Belluzzo, que segue a linha desenvolvimentista, o episódio dos bancos dos EUA coloca por terra o argumento de correntes liberais que defendem o Estado mínimo, porque o sistema financeiro depende do socorro do Estado quando as instituições quebram.

"A característica do Estado moderno não é a ausência do Estado. Pelo contrário, o Estado é fundamental para desenhar instituições, fazer políticas contracíclicas e agir nas crises quando necessário, além de estimular o investimento privado", frisou o ex-ministro.

"O Estado protegeu os depósitos e preservou os ativos dos bancos. O Fed vai comprar os ativos do SBV pelo valor de face para não deixar desvalorizar e evitar uma corrida bancária. O Fed agiu bem e rápido, porque não caiu no conto de que era uma crise regional", avaliou Belluzzo.

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