Apesar da desaceleração dos preços de combustíveis e de alimentos, com destaque para as carnes, que ficaram mais baratas devido à suspensão das exportações para a China — por conta do caso de vaca louca no Pará —, a inflação oficial voltou a acelerar em fevereiro, puxada, principalmente, pelos reajustes das mensalidades escolares.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,84%, em fevereiro, acima dos 0,53% de janeiro e dos 0,76% do IPCA-15, a prévia da inflação. O resultado também superou as estimativas do mercado, que apontavam para alta de 0,78%.
Especialistas observam que as pressões inflacionárias persistem e estão mais espalhadas na economia do que no início do ano. O índice de difusão, que mede a proporção de produtos que tiveram alta de preços, passou de 63% para 65% de janeiro para fevereiro.
Diante da surpresa do IPCA do mês passado, analistas começaram a elevar as projeções para a carestia. O economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, elevou a estimativa para a inflação oficial deste mês de 0,60% para 0,65%, e aumentou a de abril para 0,70%.
"Todos estão revisando as projeções para cima, porque a inflação mensal está bastante pressionada. É um problemaço", disse ele, em referência ao desafio do Banco Central (BC) para controlar a inflação.
A autoridade monetária está sob pressão do governo para baixar a taxa básica da economia (Selic), de 13,75% ao ano, patamar elevado que está travando a atividade econômica, o que tem motivado críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao BC.
Com a pressão inflacionária, dizem analistas, fica difícil esperar queda na Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 21 e 22 deste mês, mesmo se o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, antecipar a apresentação do novo arcabouço fiscal, as regras que devem garantir que a dívida pública não saia do controle.
"A inflação veio muito acima das expectativas. É claro que existe um processo de desinflação, mas ele é muito lento e muito longe das metas. Portanto, ainda não há espaço para corte de juros", avaliou Padovani, que vê possibilidade de redução da Selic apenas no segundo semestre.
André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), destacou que, em março, a gasolina e a energia elétrica, por conta da recomposição dos impostos estaduais, tendem a continuar pressionando o IPCA, que pode chegar a 1%. Braz, contudo, manteve em 0,8% a previsão para o indicador deste mês, mas ressaltou que, com os números acima do teto da meta oficial, de 4,75% neste ano, ainda é prematuro cogitar queda na Selic.
"O governo acenou que está comprometido com um novo arcabouço fiscal, retornando os impostos federais nos combustíveis, mas ainda é um pequeno aceno frente a um compromisso maior, que é divulgar sua estratégia de política fiscal em 2023. Então, acho que ainda é cedo para que o Banco Central reduza a taxa básica de juros", afirmou.
Vale lembrar que a inflação continua espalhada. Dos nove grupos pesquisados pelo IBGE, apenas o de vestuário, com deflação de 0,24%, registrou baixa em fevereiro, com impacto quase nulo no indicador.
O grupo educação foi o que mais contribuiu para o IPCA, com 0,35 ponto percentual (p.p.), ao registrar variação média de 6,28%, mas com reajustes acima de 10% no ensino médio (10,28%) e no ensino fundamental (10,06%).
Os grupos transportes e alimentação e bebidas, que são os que mais costumam pesar no bolso do consumidor, desaceleraram em fevereiro. O primeiro teve alta de 0,37%, com impacto de 0,07 p.p. no IPCA, devido à alta de 1,16% da gasolina, o único combustível a subir no mês. Nos alimentos, a alta média foi de 0,16%, abaixo dos 0,59% de janeiro. Um dos principais motivos da desaceleração foi a queda de 1,22% das carnes.
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