Consumidores que foram abastecer o carro ontem, um dia após o anúncio do aumento de tributos sobre os combustíveis se assustaram com os novos preços, que ficaram bem acima do projetado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Segundo o ministro, considerando a reoneração de R$ 0,47 e a redução dos preços da gasolina vendida pela Petrobras nas refinarias, o litro do produto teria uma alta por volta de R$ 0,34. No entanto, na maioria dos postos, a elevação foi bem maior. A média de aumento em todo o país foi de R$ 0,50 a R$ 0,70, segundo o presidente do Sindicato dos Postos de Combustíveis do Distrito Federal (Sindicombustíveis-DF), Paulo Tavares.
No Distrito Federal, o litro da gasolina chegou a R$ 6,19 em um posto da Ceilândia para quem optasse em pagar no cartão de crédito. Num revendedor de bandeira Petrobras, na 215 Norte, o preço anunciado era de R$ 5,95. Outro posto com a mesma bandeira, no Setor Hoteleiro Norte oferecia gasolina por R$ 5,89. Motoristas ouvidos pelo Correio foram praticamente unânimes ao reclamar do que consideraram preços abusivos.
O motorista de aplicativo Emerson Pereira Alves, de 53 anos, afirmou que o aumento acima do esperado trará um grande impacto para quem trabalha com essa modalidade de transporte. "A gente perde muitos dos nossos lucros, que já não são tão altos assim, porque os próprios aplicativos tiram bastante. Esse aumento da gasolina vai trazer para nos um impacto de, no mínimo, uns mil e poucos reais, que vão deixar de entrar", calculou.
Alves disse que a única alternativa dos motoristas é procurar postos que vendem mais barato. "Eu vou a vários postos e pechincho para saber onde está mais em conta. A gente passa a abastecer naquele posto e já indica no grupo do Whatsapp", revelou.
Para a personal trainer Alessandra Oliveira, 52, o preço atual é um abuso. "A gente tem que abastecer os carros e acho que o governo tem que ter um olhar mais minucioso e atento em relação a isso, porque, realmente, (o preço) está muito abusivo", afirmou.
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Denúncia
O representante dos postos no DF responsabiliza as distribuidoras de combustíveis pelos aumentos elevados. Paulo Tavares afirmou que vai entrar com uma denúncia no Ministério Público do DF (MPDFT) contra as distribuidoras, que ainda não se pronunciaram sobre o aumento acima do esperado. Segundo o líder do sindicato, o aumento chegou a ser superior ao triplo do que deveria, de fato, ser implementado.
Ao fazer um cálculo, levando em consideração a mistura obrigatória de 73% de gasolina A com 27% de etanol anidro, o Sindicombustíveis chegou ao valor de reajuste de R$ 0,34 para a gasolina vendida ao consumidor. No entanto, com a diminuição de R$ 0,13 do preço do combustível pela Petrobras, a alta deveria ser de R$ 0,25. Um valor bem abaixo do que foi praticado pelas distribuidoras. "Pegando o total de impostos, menos o que a Petrobras fez, é o que devia ter aumentado hoje nas distribuidoras. O aumento que nós deveríamos receber hoje (ontem), era de R$ 0,25. Porém, houve uma alta de mais de R$ 0,70 nas distribuidoras", disse Tavares.
O economista e professor da Universidade de Brasília (UnB) César Bergo afirma que o consumidor precisa ficar atento à diferença de preço entre os postos de gasolina, o que vai exigir muita pesquisa. "Cabe ao consumidor também denunciar caso haja abuso por parte do posto de gasolina. Porque a Agência Nacional de Petróleo (ANP) e as entidades de direito e defesa ao consumidor estão de olho nesse aspecto", aconselhou o professor.
Além disso, antes de abastecer, o cliente também deve observar se é mais vantajoso completar o tanque com gasolina ou com etanol. Se o preço do álcool estiver inferior a 70% do valor da gasolina, vale a pena, tanto por motivos de economia, bem como pela contribuição para uma poluição menor do meio ambiente. A título de exemplo, um posto na 206 norte, vendia etanol a 66% o preço da gasolina na tarde de ontem.
O professor de economia do Ibmec-DF William Baghdassarian também revela outro aspecto que pode causar um aumento maior nos preços da gasolina nos postos, que é a demanda cativa. Se o posto possui um público fiel, a tendência é que os preços permaneçam altos, pois não há tendência de queda na demanda.
"Então, o grande conselho para as pessoas é tentarem, na medida do possível, e dentro do seu padrão de consumo, pesquisar onde está sendo vendida a gasolina pelo preço mais adequado. É lógico que a pessoa não vai andar 200 km para encher um tanque. Mas dentro de uma certa razoabilidade, de um raio de 10 a 15 quilômetros, talvez valha a pena você fazer isso", considerou o professor.
*Estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo
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