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NEGÓCIOS

Conflitos políticos são maior risco para investimentos, mostra pesquisa

Levantamento com 108 empresas espanholas que atuam na América Latina mostra que 80% delas estão preocupadas com a forte polarização na região. Economia deve registrar significativa desaceleração neste ano

Madri — A instabilidade política é hoje a maior preocupação dos investidores espanhóis que têm negócios na América Latina. Brasil e Peru despontam como os dois principais focos de tensão, como mostra pesquisa realizada pela IE University com 108 companhias. Pelo levantamento, 80% consideram esse tema o de maior potencial de risco, superando, de longe, a quase certa desaceleração da economia (50%). A previsão, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI) é de que o Produto Interno Bruto (PIB) da região avance, em média, minguado 1,8% ante os 4% estimados para o ano passado — o número ainda não foi fechado. “Os riscos (para os negócios de empresas espanholas na América Latina) vão crescer consideravelmente em 2023. A polarização política tende a aumentar, assim como os conflitos sociais”, diz o professor de Economia da IE Juan Carlos Martínez Lázaro.

Apesar desse quadro de instabilidade, incertezas e baixa expansão econômica, 51% das empresas espanholas acreditam que seus negócios na América Latina terão incremento nos próximos três anos — em 2022, apenas 35% trabalhavam com tal possibilidade. Quanto ao faturamento, 77% projetam alta. A maior fonte de ganho virá, sobretudo, dos mercados internos dos países latinos, conforme citação de 67% das firmas. Com isso, mais de 50% das companhias afirmam que vão computar receitas maiores na região que na Espanha. “Estamos falando de um mercado enorme, interconectado, com um florescente número de multinacionais”, afirma Victor Salamanca, CEO da Auxadi, consultoria que tem o Brasil como terceira maior fonte de receitas, “mesmo sendo um local complicado para trabalhar”.

A pesquisa mostra, ainda, que 76% das empresas espanholas pretendem ampliar seus investimentos na América Latina. A lista de preferência como destino de recursos são, pela ordem: México, Colômbia, Chile e Brasil. Entre os locais mais atraentes para o capital estão Cidade do México, Miami, Bogotá e São Paulo, desbancando Santiago, que se mantinha nesse ranking havia oito anos. Quanto aos países que devem ter melhor desempenho econômico em 2023, as companhias citam Panamá, Uruguai, República Dominicana, México e Colômbia. Os piores resultados devem ser registrados na Argentina, em Cuba e na Nicarágua. O Brasil pode apresentar ligeira melhora, mas está longe de seu potencial.

Além das incertezas políticas e da desaceleração econômica, resultado na combinação de inflação e juros altos, os investidores ressaltam como problemas na América Latina a insegurança jurídica e a infraestrutura precária. Em relação a 2008, quando foi realizado o primeiro levantamento, mudou o perfil de interesse das empresas espanholas na região. Naquele ano, os focos estavam nos mercados bancário, de telefonia, de hotelaria e de construção. Agora, os donos do dinheiro se concentram em companhias que atuam com energias renováveis, tecnologia e marketing e em startups. A Cabify, por exemplo, prevê destinar 300 milhões de euros (R$ 1,7 bilhão) nos países em que atua nos próximos três anos “Dois terços dos nossos negócios estão na América Latina”, diz o fundador da empresa de transportes por aplicativos, Juan de Antonio.

A crescente presença de firmas chinesas na América Latina não tira o sono das empresas espanholas que têm operações na região. Para 46% delas, as companhias do país asiático não são vistas como concorrentes, 20% as encaram como competidoras e 24%, como concorrentes adicionais. Ciente da forte presença da China em território latino-americano, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, tem se movimentado para o fortalecimento do Mercosul. A meta é que os parceiros do país — Argentina, Uruguai e Paraguai — acertem os ponteiros para conter as exportações chinesas à região, que têm roubado mercado de produtos industriais brasileiros, de maior valor agregado. O Brasil também quer acelerar o acordo do Mercosul com a União Europeia. A Espanha, por sinal, está na linha de frente para que um acerto saia ainda neste ano.

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