Após acumular desgastes com a cruzada contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o governo de Luís Inácio Lula da Silva (PT) busca alternativas para reduzir os juros e estimular o crescimento da economia.
Nos bastidores de Brasília, comenta-se que o governo pode propor uma revisão das metas de inflação na próxima reunião do Conselho Monetário Nacional, marcada para quinta-feira. Oficialmente, tanto o Ministério da Fazenda quanto o Palácio do Planalto não se manifestaram. Mas o consultor Thomas Traumann, ex-porta-voz da Presidência da República, informou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, conseguiu chegar a um acordo com o Lula para adiar o debate sobre as metas de inflação.
Segundo o ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, durante o governo de Dilma Rousseff, Lula não deve apresentar uma proposta na reunião de quinta-feira. "Haddad convenceu Lula a adiar o debate sobre metas para depois do anúncio da nova âncora fiscal, em abril. Os papéis apresentados pelo ministro indicavam que mesmo uma mudança de meta para 2023 não implicariam um corte da Selic", destacou.
Hoje, Haddad deve se reunir com Lula no Palácio do Planalto, e a expectativa é que a questão seja novamente abordada. A discussão do assunto tem levado instabilidade ao mercado, com resultado contrário ao pretendido pelo governo. De acordo com o Boletim Focus, do BC, divulgado ontem, instituições financeiras e empresas de consultoria elevaram a estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano para 5,79%, ante a uma projeção de 5,78% na semana anterior. Já a taxa básica de juros, a Selic, deve ficar em 12,75% no fim de 2023. Antes, a previsão era de 12,50%. Essa é a primeira projeção de alta da Selic para este ano.
O crescimento econômico também teve uma atualização, porém para baixo. Segundo o Focus, o mercado espera que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 0,76% em 2023. Na semana anterior, a projeção era de 0,79%. A previsão para o PIB no ano que vem se manteve em 1,5%.
A ideia em debate no governo é aumentar a meta de inflação de 2023 dos atuais 3,25% para 3,5%. O economista-chefe da Gladius Research, Benito Salomão, afirma que a medida seria maléfica para a economia do país, e que não haveria ganhos em termos de política monetária.
"A longo prazo, a política monetária não exerce efeito sobre o lado real da economia", afirmou. "A longo prazo, o PIB vai se comportar de acordo com outros condicionantes, como a produtividade dos fatores, aspectos fiscais e taxa de poupança. Mudar a meta de inflação vai significar simplesmente uma inflação maior no futuro, sem nenhum ganho em termos de produto", completou o economista.
O bonde passou
O economista da FGV/Ibre André Braz comenta que o ajuste da meta não seria bem visto se implementado de maneira intempestiva. "Começar o debate sobre a meta ideal de inflação para o Brasil é super bem-vindo, mas impor uma mudança agora, eu não sei. Eu acho que esse 'bonde' já passou", avaliou.
De acordo com Braz, se a meta tivesse sido discutida antes da pandemia, o cenário poderia ser mais propício para o debate. "Agora, usar isso como um remendo só diminui a imagem da autoridade monetária, que é algo que tem que ser preservado para que não haja uma total desancoragem das expectativas", considerou.
Seguindo a mesma linha, o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria, afirma que a forma com que o governo pretende ajustar a meta de inflação não é positiva. De acordo com ele, o mercado tenderia a reagir mal, o que levaria para cima as expectativas de inflação e a curva de juros.
Na visão do economista Felipe Queiroz, a mudança da meta pode ser ser positiva. Segundo ele, o Brasil não vive uma inflação de demanda, e os preços estão aumentando em decorrência de movimentações turbulentas no cenário internacional, como a Guerra da Ucrânia, pandemia e crise do petróleo.
"Nós temos uma taxa de inflação de 5,8% e taxa de juros em 13,5%. Isso é muito discrepante no cenário internacional. O efeito prático disso é aumentar o custo de crédito de modo substancial, tem um estímulo excessivo à especulação e ao rentismo, desestimula atividade econômica, evita que o país se recupere e, acima de tudo, acentua o processo de desindustrialização do país", avaliou.
*Estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo
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