O Banco Central decidiu manter a taxa básica da economia (Selic) em 13,75% ao ano — mesmo patamar desde agosto do ano passado — na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) encerrada ontem, a primeira no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Lula, vários ministros e o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), vinham criticando os juros básicos aplicados pela autoridade monetária por travar o crescimento da economia .
A manutenção da Selic pela quarta reunião seguida do Copom era esperada pelo mercado e, assim, a taxa continua no maior nível desde dezembro de 2016, quando estava em 13,75%. O Brasil ostenta, ainda, a maior taxa real (descontada a inflação) de juros do mundo, com 7,38% ao ano, segundo ranking da Infinity Asset Management.
Se setores do governo querem juros menores para facilitar a expansão da atividade, o foco do BC é outro. No comunicado divulgado após o encontro, o comitê reforçou a preocupação com os riscos fiscais e com a deterioração do cenário inflacionário, que terminam por desorganizar a economia. Por conta disso, sinalizou que deverá manter a Selic no patamar atual por um período mais prolongado, e ainda deixou a porta aberta para uma nova alta, caso necessário. "O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado", afirma o texto.
Na avaliação do economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, o BC indicou que os juros devem continuar no atual patamar por um bom tempo. Caso comece a reduzir a Selic, a partir de agosto, a redução será pequena, de um ponto percentual, até dezembro. "Se os juros ficarem onde estão, segundo o BC, a inflação ficará abaixo da meta em 2024. Mas há pouco espaço para isso", alertou.
Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, disse que não houve surpresas na decisão do Copom. "Há um capítulo importante por vir: o novo arcabouço fiscal que vai substituir a regra do teto de gastos, e que o ministro Fernando Haddad (Fazenda) prometeu divulgar em abril, para que seja incluído na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024. Mas não há nada de concreto, ainda", destacou.
Ele lembrou que as projeções do mercado para a Selic no fim deste ano voltaram a subir, como reflexo de declarações de Lula sobre a possibilidade de elevar a meta de inflação. De 11,25% em novembro, a previsão avançou para 12,50% nesta semana. Estudo do Itaú Unibanco alertou para o risco de a Selic chegar a 15% caso o governo insista nessa ideia, que, se concretizada, teria, como consequência imediata a alta das expectativas inflacionárias.
Caruso observou também que bancos centrais de países desenvolvidos têm sinalizado que podem antecipar o fim do aperto monetário. Ontem, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), reduziu o ritmo de alta dos juros básicos para 0,25 ponto percentual, colocando a taxa no intervalo de 4,50% a 4,75% ao ano, como esperado pelo mercado. "O comunicado sugeria que haveria umas quatro altas de juros ainda, mas Jerome Powell (presidente do Fed) deu a entender que eles subirão apenas nas próximas duas reuniões, ou seja, até maio", destacou.
"Se os bancos centrais começarem a frear a alta dos juros, isso pode ajudar o trabalho do nosso BC", frisou Caruso. "Contudo, a grande questão é o quadro fiscal. O governo precisa apresentar um novo arcabouço que recupere a credibilidade do controle das contas públicas para ancorar as expectativas de inflação", alertou.
Pelas estimativas do Banco Original, o Copom poderá iniciar a redução da Selic em setembro. Mas, para a XP Investimentos, isso só será possível no início de 2024. Na avaliação de Tatiana Nogueira, economista da XP, o comunicado do Copom acabou sendo mais duro do que o esperado, porque as previsões para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiram. Para este ano, aumentaram de 5% para 5,6%, acima do teto da meta, de 4,75%; para 2024, passaram para 3,5%, acima do centro da meta, que é de 3%.