O reajuste das mensalidades e os custos mais elevados dos materiais escolares puxaram a inflação em fevereiro. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado uma prévia da inflação oficial, apresentou alta de 0,76% neste mês, acelerando em relação à variação de 0,55% registrada em janeiro. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, o grupo de produtos e serviços de educação avançou 6,41%, sendo responsável, sozinho, por um impacto de 0,36 ponto percentual no indicador.
No acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA-15 mostra variação de 5,63%. O indicador recuou em relação a janeiro (5,87%), mas ainda está acima do teto da meta de inflação definida pelo governo para este ano, que é de 4,75%.
No grupo educação, a maior contribuição de alta em fevereiro veio dos cursos regulares (7,64%) por conta dos reajustes habitualmente praticados no início do ano letivo. As maiores variações ocorreram no ensino médio (10,29%), no ensino fundamental (10,04%), na pré-escola (9,58%) e nas creches (7,28%). Com exceção de vestuário, cujos preços recuaram 0,05% depois da alta de 0,42% em janeiro, oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta em fevereiro.
A secretária executiva Mariana Fonseca, 45 anos, tem dois filhos que estão no ensino médio. "A mensalidade do meu filho mais velho foi de R$ 3.000 para R$ 3.500. Eu só sei que esse valor aumentou, porque mães que tinham filhos no terceiro ano me disseram qual era o valor anterior", explicou. "Já no caso do meu caçula, a mensalidade subiu de R$ 2.000 para R$ 2.500."
Segundo Fonseca, o aumento é um absurdo, pois ainda há alta nos valores dos materiais escolares. "Os livros, que são os principais materiais dos meu filhos, subiram muito. O que ano passado eu paguei R$ 1.500 pela lista, e neste ano já foram quase R$ 3.000", afirmou. "Hoje em dia é muito difícil manter os filhos em uma boa escola, pois, a cada ano que passa, os custos ficam mais salgados", pontuou.
De acordo com o economista e professor da Universidade de São Paulo (USP) Rica Mello, a inflação segue bastante resiliente em todos os segmentos. Entretanto, a especialista afirmou que é normal que as mensalidades escolares sofram reajustes no início do ano, refletindo a inflação acumulada durante o ano anterior, já que, por lei, esses aumentos só podem acontecer uma vez ao ano.
Investimentos
"Para as escolas que realizaram reajustes acima da média da inflação, muitas dessas despesas são justificadas como investimentos em material pedagógico, contratação de equipes, reformas etc. Muitas instituições não fizeram esse repasse no ano anterior, onerando um pouquinho mais o reajuste deste ano. Porém, a concorrência ajuda a balizar esses valores", avaliou Mello.
Sobre o grupo vestuário, o único que mostrou recuo, o economista pontuou que é comum que ocorra uma queda de preços depois de dezembro e das festas de fim de ano. Alimentos e bebidas, que também pesam bastante no orçamento, subiram menos neste mês. "De qualquer forma, isso afeta o poder de compra do brasileiro e desestimula o consumo", disse.
Mello ressalta que a inflação está resiliente e continua alta, ficando acima do que os analistas imaginavam. "Não é um bom cenário", observou. Para o economista da FGV André Braz, em março não vai ter uma alta na educação, pois é um impacto restrito a fevereiro. "Mas, provavelmente, no mês que vem teremos um aumento nos combustíveis, devido à volta da cobrança dos impostos federais. Com esse aumento, o setor explicará boa parte da inflação que pode vir em março", afirmou.
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