A onda de demissões em massa nas big techs demonstra um processo intenso de ajustes das contas das gigantes da tecnologia. Um relatório da consultoria Challenger, Gray & Christmas, divulgado em janeiro deste ano, apontou que as demissões no setor global de tecnologia aumentaram 649% em 2022 em comparação ao ano anterior, e a crise deve seguir em 2023.
A Alphabet, empresa dona do Google, anunciou que irá demitir 12 mil funcionários, o que corresponde a 6% de toda sua força de trabalho. Em comunicado, a Microsoft declarou que dispensará 10 mil empregados, sendo que já demitiu cerca de mil trabalhadores em 2022. A Amazon planeja dispensar 18 mil pessoas, enquanto a Salesforce anunciou que pretende desligar 10% da equipe. A Meta, controladora do Facebook, também não se safou da onda e afirmou que realizará um novo corte de 11 mil empregos.
A crise causada pela pandemia da covid-19, a digitalização das forças de trabalho e a desaceleração da economia pelo mundo são alguns dos fatores que contribuem para o cenário, de acordo com especialistas. Para justificar as demissões em massa, os anúncios oficiais das big techs falam de uma suposta necessidade de "enxugamento" e "reestruturação". Especialistas da área chegam a dizer que as demissões em massa são necessárias para promover uma elevação de critérios de qualificação na contratação de profissionais.
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Excesso de otimismo
"A princípio, a pandemia desencadeou uma série de desafios, incluindo a necessidade de adaptar modelos de negócios e aumento dos custos operacionais. Aliado a isso, o aumento da preocupação com o impacto ambiental e a sustentabilidade também tem afetado essas empresas", afirma Rogério Guimarães, CEO da Covenant, braço de tecnologia do Grupo Crowe Macro.
"Não obstante, o aumento da regulamentação e investigações antitruste, preocupações com a privacidade e segurança de dados, pressão para elevar salários e benefícios para funcionários e crescente competição de empresas emergentes desencadearam a atual crise no mercado de grandes empresas de tecnologia dos EUA", acrescenta Guimarães.
Segundo Rafael Franco, CEO da Alphacode, a conjunção de fatores macroeconômicos foi inflada pelo excesso de otimismo que aconteceu com a aceleração na adoção da tecnologia no período da pandemia. "As pessoas em suas casas passaram a consumir produtos e serviços tecnológicos em uma velocidade nunca antes vista, e esse movimento fez as big techs acelerarem como nunca as contratações. Passada a pandemia, o consumo vem se adequando e, por isso, a demanda caiu e as empresas precisaram adequar o tamanho das equipes", observa.
Desafios
Além disso, de acordo com Franco, cada uma dessas empresas vem passando por desafios próprios. "A Meta, por exemplo, vem mantendo um nível muito alto de investimento nas iniciativas de metaverso que ainda não trazem resultado financeiro e pressionam o caixa da empresa. No caso da Amazon, existe o desaquecimento da economia e o alto investimento em automação e robótica que a empresa vem fazendo", conta.
A Microsoft vem se transformando com o passar das décadas, mas, de acordo com Franco, a empresa "perdeu o bonde" dos smartphones e vem buscando se posicionar primeiro em outros mercados. "Isso aconteceu com a aquisição do Linkedin, do Github e, recentemente, com o aporte na OpenAI. Esse posicionamento mais agressivo em novos mercados foi o que fez a empresa retomar o protagonismo e, aparentemente, a estratégia será aprofundada."
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