conjuntura

Setor de serviços ganha fôlego e cresce 8,3% em 2022

Foi o segundo ano seguido de crescimento, o que ampliou o distanciamento em relação ao nível pré -pandemia

Rafaela Gonçalves
postado em 11/02/2023 03:55
 (crédito: Febrac/Divulgação)
(crédito: Febrac/Divulgação)

O setor de serviços teve expansão de 3,1% em dezembro passado, segundo os dados da Pesquisa Mensal de Serviços, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta fez o segmento, que representa cerca de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) doméstico, fechar 2022 com alta de 8,3%, atingindo o maior patamar da série histórica iniciada em 2011. Foi o segundo ano seguido de crescimento, o que ampliou o distanciamento em relação ao nível pré-pandemia. Hoje, o setor opera 14,4% acima do volume apresentado em fevereiro de 2020.

Segundo o analista da pesquisa, Luiz Almeida, o avanço anual do setor pode ser explicado pela retomada mais intensa das atividades presenciais, depois de dois anos de medidas restritivas por conta da pandemia. A principal influência positiva para o ano veio do grupo de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio, que cresceu 13,3%.

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economia-serviços (foto: economia-serviços)

"O setor de transportes cresce desde 2020, mas com dinâmica diferente: inicialmente, por causa da área de logística, com alta nos serviços de entrega, em substituição às compras presenciais. Já em 2022, há a manutenção da influência do transporte de carga, puxado pela produção agrícola, mas também pela reabertura e a retomada das atividades turísticas, impactando o índice no transporte de passageiros", explicou o pesquisador.

Outro destaque foi a alta de 24% em serviços prestados às famílias, terceira maior influência no indicador, puxada por segmentos como restaurantes, hotéis, buffet, catering e condicionamento físico. "Em linhas gerais, são setores também ligados a atividades presenciais", reforçou Almeida.

O único segmento a apresentar retração no ano passado foi o de outros serviços, que teve retração de 2,1%, sob a influência de serviços financeiros auxiliares, como corretoras de títulos e valores mobiliários, administração de bolsas e mercados de balcão organizado, e administração de fundos por contrato ou comissão.

Neste caso, o movimento, de acordo com o analista, também tem a ver com a retomada de serviços presenciais, mas de maneira inversa. "Durante os períodos de isolamento mais severos, as famílias de maior renda, que participam mais desse segmento, realocaram o gasto para esse setor. Com a retomada pós-isolamento, a leitura é que a distribuição de investimentos mudou, com uma realocação dos gastos familiares", afirma o pesquisador.

O desempenho positivo dos serviços vem descolado dos demais setores da economia, como a indústria, que ainda não deu sinais concretos de recuperação, e o comércio varejista, que está em desaceleração. "O desempenho dos serviços também parece explicar o número do varejo, ao passo que as famílias trocaram consumo de bens por serviços no curto prazo. O resultado ajuda a traduzir a característica do crescimento do país, fundamentado sobre um processo de recomposição do nível de oferta e demanda, e não de uma expansão efetivamente sustentável no tempo", avaliou Matheus Pizzani, economista da CM Capital.

De acordo com Pizzani, inflação e juros altos dificultam o consumo de bens duráveis por parte das famílias, que é o principal vetor industrial. "Neste sentido, é importante atentar para o fato de que a política monetária restritiva tende a inibir também o consumo dos serviços que integram este grupo, que possuem caráter supérfluo e deixam de ser demandados na medida em que a condição financeira das famílias se deteriora", acrescentou o economista, que prevê um desempenho mais atenuado neste ano. 

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