conjuntura

Vendas caem e varejo perde fôlego com retração de 2,6% em dezembro

O setor de hiper e supermercados, que é o de maior peso na pesquisa, está há dois meses no campo negativo, mas encerrou o ano com ganho acumulado de 1,4%

Rafaela Gonçalves
postado em 10/02/2023 03:55
 (crédito:  Ed Alves/CB)
(crédito: Ed Alves/CB)

As vendas do comércio varejista caíram 2,6% em dezembro do ano passado em comparação ao mês anterior. Segundo os dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a queda registrada no mês em que se comemora o Natal — e em que tradicionalmente as vendas crescem — foi o segundo recuo consecutivo, já que em novembro foi constatada retração de 0,9% no setor varejista. Frente a dezembro de 2021, as vendas tiveram variação positiva de 0,4%. Mesmo com o resultado, o índice fechou o ano acumulando alta de 1%, o pior desempenho para o setor em seis anos.

"O resultado acumulado em 2022 ficou muito próximo ao dos anos anteriores. Em 2021, por exemplo, houve ganho acumulado de 1,4%. Então, foi um crescimento similar, mas ainda mais tímido. Além disso, muito concentrado, em termos de variação, no setor de combustíveis e lubrificantes, que acumulou alta de 16,6% no ano", disse o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.

Segundo o economista-chefe do Banco Original, Marcos Caruso, apesar de dezembro ser um mês tradicionalmente de compras, o enfraquecimento do varejo já era esperado, refletindo um mix de condições macroeconômicas desfavoráveis às famílias. "A título de exemplo, citamos os recordes do comprometimento de renda e níveis de endividamento da população, reforçados pelos baixos rendimentos médios habituais e inflação ainda elevada. Esses fatores comprimem o orçamento do consumidor, que diminui o consumo e tende a recorrer a linhas de crédito, que, hoje, possuem juros elevados", observou.

Cinco das oito atividades analisadas apresentaram resultado positivo no ano. Entre os setores que registraram alta, além de combustíveis e lubrificantes, o ramo de livros, jornais, revistas e papelaria também foi destaque, com crescimento de 14,8%. O gerente do levantamento, afirmou que a alta na área de combustíveis e lubrificantes foi motivada, desde julho do ano passado, pela política de redução dos impostos de gasolina, etanol e diesel.

"Com essas mudanças, essa atividade teve aumento significativo e, após aquele momento, teve quedas grandes. Em novembro, houve uma perda de 5,4% e o resultado de dezembro intensificou ainda mais essa trajetória. Mesmo assim, o acumulado do ano para esse setor foi o maior da série histórica", avaliou Santos. Só no segundo semestre do ano, o segmento de combustíveis e lubrificantes cresceu 27,8%.

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pri-1002-varejo (foto: pri-1002-varejo)

Supermercados

O setor de hiper e supermercados, que é o de maior peso na pesquisa, está há dois meses no campo negativo, mas encerrou o ano com ganho acumulado de 1,4%. "Em 2022, tivemos o efeito da inflação elevada, sobretudo em alimentos, o que favorece mais esse setor que outros, já que muitos deixam de consumir outro tipo de produto para continuar comprando esses itens básicos, ainda que reduzam o dispêndio de forma geral. No último trimestre, tivemos também o efeito do aumento do Auxílio Brasil, alcançando as famílias de menor renda, que tendem a usar o valor do benefício em hiper e supermercados", analisou Cristiano Santos.

O diretor da Faculdade do Comércio de São Paulo (FAC-SP), Wilson Rodrigues, avalia que, se não fossem as medidas de incentivo ao consumo adotadas pelo governo, o resultado viria pior. "Não se pode deixar de mencionar o dinheiro que se colocou na mão da população por meio do Auxílio Brasil. Com essa ajuda financeira, as pessoas, embora endividadas, tiveram um pouco mais de fôlego para o consumo", afirmou.

A projeção preliminar do Banco Original indica uma estagnação do setor, com expectativa de avanço de apenas 0,6% do varejo ampliado em 2023. "Se por um lado temos uma ampliação de transferência de renda estimulando o comércio, por outro, o conflito do governo com o Banco Central vem causando recorrentes revisões altistas para a inflação futura. Esse cenário reforça uma política monetária com a manutenção dos juros elevados por mais tempo, dificultando o consumo e o acesso ao crédito", avaliou o economista-chefe, Marcos Caruso.

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