Negócios

Caso Americanas deixa lições para os empreendedores; veja quais

Crise enfrentada por um dos maiores grupos varejistas do país serve de alerta. Especialista lista pontos que devem servir de aprendizado

Fernanda Strickland
postado em 02/02/2023 14:30 / atualizado em 02/02/2023 14:32
 (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A. Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A. Press)

No último mês, o grupo Americanas descobriu "inconsistências contábeis" no valor aproximado de R$ 40 bilhões. Sérgio Rial, ex-CEO da empresa, renunciou ao cargo após nove dias no comando e declarou que o impacto bilionário estava relacionado ao “risco sacado’’.

A operação mencionada pode ser explicada como um empréstimo entre a companhia e o banco, no qual o dinheiro emprestado é utilizado para antecipar recebíveis aos fornecedores. Assim, o banco realiza o pagamento e a empresa paga à instituição financeira o dinheiro financiado com juros.

O grupo recorreu à recuperação judicial, e por mais que consiga, terá um grande trabalho para reconquistar a confiança dos compradores, que agora possuem receio em adquirir um produto pelo canal, pois não sabem se irão receber a compra. A crise na reputação da empresa ficou clara por meio dos dados divulgados pela SimilarWeb, ferramenta que monitora o tráfego nos sites. Desde o dia 11 de janeiro, foi registrada uma queda de cerca de 50% no site da Americanas.com, enquanto o número de ofertas de concorrentes, como a Magalu e Casas Bahia, cresciam.

Para Rodrigo Garcia, diretor-executivo da Petina Soluções Digitais, o ocorrido, que ainda está sendo apurado em diversas camadas, pode servir de alerta para os empreendedores de e-commerces e marketplaces, uma vez que todas as empresas estão suscetíveis a deslizes. “É necessário ter um olhar minucioso para não deixar passar nenhum erro, pois da mesma forma que um marketplace de grande porte quebra, o mesmo pode acontecer proporcionalmente com um empreendimento de pequeno porte. Assim como o autônomo está suscetível a essa mesma situação”, afirma.

Lições aos empreendedores

Transparência na gestão

Durante a teleconferência do BTG Pactual, Sérgio Rial declarou que identificou os problemas em pouco tempo porque notou “sinais de que talvez o nível de transparência e a vontade da própria gestão de querer falar de problemas e desafios não estivessem tão fluídos como deveriam”. Garcia explica que, para uma boa gestão de empresa, é importante que os superiores tenham um diálogo aberto com seus contratados, para que todos fiquem a par de tudo que está acontecendo na instituição. Desta forma, segundo ele, se houver uma emergência, os funcionários saberão como conduzir a situação da melhor maneira possível.

Atenção ao controle contábil

A área contábil da Americanas identificou que os empréstimos (risco sacado) não estavam sendo registrados como dívidas nos balanços contábeis, o que resultou no acúmulo dos valores, seguidos dos juros que também deveriam ter sido levados em consideração. “No marketplace você consegue movimentar muito dinheiro se houver uma boa administração, obtendo um lucro alto. Mas, se esse controle não for efetivo, você pode se perder com a quantidade de dinheiro que está entrando”, aponta Garcia.

Evitar alongamento dos prazos de pagamento

Muitas vezes, ao se deparar com uma dívida de alto custo, os empreendedores acabam optando pelo alongamento dos prazos de pagamento ou o reparcelamento da dívida com juros, como uma forma de “desafogar’’ o comércio. Entretanto, essa prática pode cometer a saúde do negócio a longo prazo e, somado com outras despesas, se tornar uma bola de neve.

“Durante os anos de 2021 e 2022, a Americanas havia conseguido reduzir o valor dos empréstimos de R$ 3,4 bilhões para R$900 milhões, porém, ao olhar para o valor dos financiamentos e empréstimos a longo prazo — os contratos possuem validade superior a 12 meses —, a quantia quase dobra, saindo da marca de R$ 8 bilhões para R$ 15,5 bilhões. Portanto, nem sempre essa opção é a melhor saída”, ressalta o especialista.

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