O mercado financeiro continua reagindo negativamente às primeiras declarações de autoridades do governo Lula. Ontem, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) começou o dia em queda firme e encerrou o pregão com o Ibovespa, principal indicador dos negócios, marcando baixa de 2,08%, aos 104.166 pontos. Com receio dos rumos do novo governo na área fiscal, boa parte dos investidores correram para o dólar, que subiu 1,72%, terminando a sessão cotado a R$ 5,452 para a venda.
Além da indefinição do novo arcabouço fiscal, sinais de que o novo governo deseja sanar o rombo das contas públicas via incremento das receitas pesaram no humor dos investidores. As declarações do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, de que pretende rever a reforma da Previdência, argumentando que o sistema não seria deficitário, trouxeram mais viés de baixa à B3, que acumulou retração de 5,07% nos dois primeiros pregões de 2023.
Segundo analistas, avolumam-se sinais de que o governo se inclina à heterodoxia, com a ala política do Planalto, respaldada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, abafando qualquer tentativa de esfriar os ânimos empreendida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ainda ecoam no mercado a decisão de prorrogar em 60 dias a desoneração dos combustíveis (prazo que pode ser ampliado segundo debates dentro do governo), em oposição ao defendido por Haddad, e declarações de que a política de preços da Petrobras será alterada.
As ações preferenciais da estatal, que vem sofrendo um longo processo de baixa desde o final do ano passado, recuaram 2,53% ontem, e as ordinárias, 1,41%. Também contribuiu para a queda o recuo de 4,3% das cotações do petróleo tipo Brent no mercado internacional, para US$ 82,10 por barril, movimento que reduz os lucros da companhia.
Na carteira teórica do Ibovespa, apenas cinco ações fecharam no campo positivo. Entre as blue chips, observou-se um comportamento similar ao de segunda-feira, com as ações da Vale tentando se livrar da maré negativa, embora tenham sucumbido no fim do dia (-0,18%) enquanto bancos também afundavam. Papéis do Bradesco caíram mais de 4%. Banco do Brasil ON, a despeito do temor de ingerência das estatais, perdeu bem menos (-1,86%).
"Existe uma grande aversão ao risco em razão do quadro fiscal" afirmou Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos. "Ninguém sabe o que vai substituir teto de gastos, e a possibilidade de mudança de política de preços da Petrobras sugere possível intervencionismo do governo nas estatais", acrescentou a economista-chefe da B. Side Investimentos, Helena Veronese.