A Associação Brasileira de Investidores (Abradin), que representa minoritários, fez um pedido para que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) apure as responsabilidades no caso do buraco contábil da Americanas, da ordem de R$ 20 bilhões. A associação está trabalhando com auditores próprios e vê "indícios de desvio de caixa", que seriam acobertados por irregularidades contábeis.
"Fizemos uma denúncia na CVM pedindo para apurar as informações relativas ao buraco contábil, para que com base nos dados apurados possamos fazer uma denúncia mais concreta. Ainda não entramos com ação, pois seria aventureiro e açodado", diz o advogado Marco Aurélio Valporto, presidente da associação, que tem sede no Rio.
De acordo com Valporto, a associação tem auditores trabalhando em paralelo às investigações oficiais. "Estamos usando uma auditoria nossa, com técnicos nossos, para chegar às nossas conclusões", afirmou, para completar: "Há evidências de que havia desvio de caixa, não apenas erros contábeis. Estes serviriam para acobertar aqueles. Já encontramos indícios sérios desse tipo de prática".
Para o advogado, não há dúvida de que houve erro da auditoria PwC, embora não esteja claro se houve dolo. "Ninguém sabe o que está acontecendo. O que sabemos é que há uma fraude, que aumentou de R$ 20 bilhões para 40 bilhões. Não sabemos como correu. Precisamos de mais detalhes para apontar mais corretamente a culpa e eventualmente o dolo", explicou.
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Capitalização
A capitalização da Americanas, por meio de uma injeção de recursos dos acionistas de referência — Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira —, é o ponto crucial na visão dos fornecedores para destravar o fluxo de vendas de novas mercadorias para a varejista. Desde a semana passada, quando o rombo bilionário da varejista se tornou público, parte da indústria de bens duráveis teria interrompido o faturamento para companhia. Segundo um deles, a questão é saber se os acionistas "vão colocar dinheiro ou não".
Outro executivo da indústria de bens duráveis confirmou que está "em compasso de espera" das negociações sobre o futuro da empresa antes de aprovar novas vendas, mesmo tendo seguro de crédito.
Fornecedores reconhecem o risco de uma interrupção do fluxo de mercadorias por um período mais longo quebrar a varejista. Por isso, buscam uma saída negociada. O termo dessa tratativa seria a indústria aprovar uma nova venda mediante o pagamento à vista de uma parcela de uma venda mais antiga. Para um executivo, isso "diminuiria a bola de neve".
Com 1,8 mil lojas físicas, a Americanas é um canal de vendas importante para a indústria, que precisa da varejista para escoar a produção. Empresas dizem que a suspensão momentânea das vendas não chega a afetar os negócios da varejista porque há estoques. Entretanto, segundo outro fornecedor, a Americanas suspendeu compras até segunda ordem. Por isso, os produtos são agora vendidos para varejistas como Magazine Luiza e Via.
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