Após os ataques terroristas de apoiadores do presidente do Jair Bolsonaro (PL) às sedes dos Três Poderes, ontem, em Brasília, a expectativa de analistas é de que os agentes financeiros passem a operar no mercado mais nervosos do que nos últimos dias. Uma fuga de investidores estrangeiros não está descartada, inclusive, após a versão tupiniquim da invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021.
A expectativa de analistas é de queda na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), não apenas hoje, mas ao longo da semana, com muita oscilação ao longo do ano, pois os extremistas mostraram que, para fazer oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), estão dispostos a tudo, inclusive deixar um rastro de destruição, como o de ontem, no ataque aos prédios públicos.
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, acredita que a Bolsa pode abrir a semana com novas quedas, mas acrescentou que o que aconteceu pode fortalecer a relação entre os Três Poderes, pois todos foram atacados e precisam dar uma resposta à altura. "Num primeiro momento, a reação do mercado financeiro deverá ser negativa. Mas tenho a impressão de que, se o governo conseguir reagir de forma adequada, a tendência pode até ser positiva", afirmou. "Vamos ter que esperar os próximos dias para ver como é que vai ser a reação das instituições e a interlocução entre os Três Poderes. Acho que, na verdade, a união entre eles se fortalece", afirmou.
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Na avaliação de Vale, "é preciso colocar processos em cima de um monte de gente para evitar que isso aconteça de novo". Para ele, as invasões de ontem foram um tiro no pé, "ou uma metralhadora no pé" dos bolsonaristas radicais. "Isso pode enfraquecer o bolsonarismo e toda essa estrutura radical que está atuando no país", destacou o economista.
Para Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, a repercussão será negativa entre os investidores estrangeiros. "Eu tomo como parâmetro as eleições do ano passado. Do primeiro para o segundo turno, houve um movimento de aversão a risco dos investidores estrangeiros. Quando não aconteceram protestos, e as eleições foram tranquilas, sem manifestações e sem violência, houve uma onda de compra da Bolsa brasileira. Entendo que, agora, vai haver movimento inverso, porque essa preocupação se concretizou e, portanto, haverá, sim, um fluxo negativo, com a saída de investidores do Brasil", alertou.
Cruz lembrou que o cenário do novo governo Lula será diferente daquele dos dois primeiros mandatos. "O PT, nos dois governos de Lula e no primeiro de Dilma Rousseff, teve uma oposição bem silenciosa e tranquila do PSDB. Agora, haverá uma oposição barulhenta com a população cobrando qualquer proposta não cumprida", acrescentou. De acordo com Cruz, o movimento da Bolsa nesta semana será negativo. "Existe o temor desse tipo de evento que aconteceu em Brasília", disse.
O consultor André Perfeito, ex-economista-chefe da Necton Investimentos, destacou que os ataques de ontem foram reflexo de uma crise institucional que está se instalando e deve impactar negativamente o preço dos ativos financeiros devido ao aumento da percepção de risco e de incertezas.
"A questão é simples. As autoridades policiais e militares além do governador do DF não cumpriram as determinações do ministro da Justiça, que havia chamado a Força Nacional para garantir a ordem. Essa manifestação era 'bola cantada' e, nesse sentido, parece a quem observa o caos em Brasília que houve insubordinação", disse. Ele lembrou que há relatos de que as manifestações não acabaram e informações de obstrução de vias públicas em outras cidades do país. "A questão é de autoridade. Ou bem se restabelece a ordem, ou bem se desorganiza a hierarquia. O silêncio dos militares não passa sem ser notado e, se não se posicionarem, uma espada ficará sobre a cabeça do presidente e ele não pode tolerar isso", acrescentou. "Provavelmente a situação será superada, mas serão dias tensos nos mercados e no país.
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