As projeções do mercado mostram que, no próximo ano, o Brasil deverá crescer menos do que o resto do mundo, que está em processo de desaceleração forte. Enquanto a expectativa do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia global passou de 3,2%, neste ano, para 2,7%, em 2023, a mediana das estimativas do mercado para o PIB do Brasil prevê avanço de 0,79%, mas até mesmo uma retração não está descartada. As projeções do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), por exemplo, são mais conservadoras que as do mercado, prevendo expansão de 0,2% na atividade econômica em 2023, que terminaria no vermelho se não fosse o carregamento estatístico de 0,4% do PIB deste ano, de acordo com a economista Silvia Matos.
Conforme dados do relatório final da equipe de transição, a inflação acumulada no Brasil durante o governo Bolsonaro supera 26%, uma das maiores do mundo, atrás apenas de Argentina, Rússia e Turquia. Em dois dos quatro anos de governo, o Brasil terá estourado o limite superior da meta de inflação. Mesmo com as custosas desonerações tributárias para reduzir o preço dos combustíveis, a inflação acumulada em 12 meses é de 5,9%. "E, na esteira do baixo crescimento e da elevada inflação, o salário mínimo praticamente não teve ganho real. O rendimento médio real caiu nos três primeiros anos do governo Bolsonaro, saindo de R$ 2.471 para R$ 2.265, em 2021. O rendimento real per capita de todas as fontes, em 2021, foi de R$ 1.353, também o menor da série histórica", destaca o relatório da transição. O documento informa ainda que, em 2019, o salário mínimo comprava duas cestas básicas, e, agora, compra 1,6.
"Por fim, o atual governo deixa um legado de perda de credibilidade na política fiscal e orçamentária. Após alterar por cinco vezes o arcabouço fiscal vigente para permitir gastos de R$ 800 bilhões acima do permitido pela regra do teto, o governo Bolsonaro apresentou uma proposta de lei orçamentária irrealista para 2023, incapaz de garantir a continuidade das políticas públicas necessárias à garantia da cidadania da população", completa o documento citando a falta de recursos dos órgãos públicos no fim do mandato de Bolsonaro.
De acordo com a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, a piora na percepção de risco fiscal pode travar o crescimento da economia em 2023, devido ao impacto da política monetária, pois os juros tendem a ficar em patamar elevado por um período mais longo. Ela prevê queda de 0,2% no PIB do ano que vem no cenário mais pessimista, que tem 35% de probabilidade de ocorrer.
No cenário base da Tendências, considerando a adoção de uma nova âncora fiscal, a projeção é de alta de 0,9%. "O equilíbrio fiscal será fundamental para o crescimento. Uma piora aumenta a percepção de risco e a curva de juros tende a subir", alerta.
Renda estagnada
O cenário de baixo crescimento e de incerteza na questão fiscal deve continuar limitando o rendimento do brasileiro. Pelas projeções da Tendências, a renda per capita média continuará abaixo de US$ 10 mil por ano até 2026. O país perdeu o patamar de dois dígitos em 2014. "O Brasil cresce pouco e não consegue escapar da armadilha da renda média", lamenta Alessandra, ao comentar sobre o cenário básico, que contempla uma reforma não muito ampla. Ela reforça a necessidade de uma verdadeira reforma tributária, que corrija injustiças e permita ao país recuperar a competitividade. O futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sinalizou que pretende fazer a reforma no primeiro semestre de 2023.
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