O futuro presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, aproveitou um encontro com empresários dos setores produtivo e financeiro, em São Paulo, para anunciar os integrantes da diretoria da instituição. Ele confirmou que os ex-ministros Nelson Barbosa e Tereza Campello vão fazer parte da cúpula do banco a partir de janeiro, e disse que pretende combinar nomes do mercado com pessoas com experiência em administração pública.
Conforme explicou Mercadante, cada um deve trabalhar nas áreas em que tem expertise. Assim, Barbosa deve ser responsável pela diretoria de Planejamento, enquanto Tereza Campello deve ficar com o Desenvolvimento Social, áreas nas quais os dois tiveram experiência como ministros no governo Dilma Rousseff. A maior surpresa veio com a indicação de três pessoas vindas do mercado financeiro.
Alexandre Abreu, que já presidiu o Banco do Brasil (BB) e o Banco Original, do grupo J&F, da família Batista, ocupará a diretoria de Finanças. Luciana Costa vai deixar a presidência no Brasil do banco francês de investimentos Natixis para cuidar da diretoria de Sustentabilidade, ao passo que Natalia Dias, hoje CEO do Standard Bank Brasil, vai tocar a área de Mercado de Capitais.
Atual presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), o economista José Luis Gordon ficará com a diretoria de Inovação. Luiz Navarro, ex-ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU) também fará parte da diretoria, mas Mercadante não antecipou qual será a posição dele no banco.
Tradutores
“Cada um terá uma função especifica, mas é um time que joga junto”, afirmou o futuro presidente do BNDES. Mercadante, que teve sua indicação para presidente o BNDES questionada por integrantes do mercado financeiro — há dúvidas, inclusive se a Lei das Estaias permite que ele tome posse —, afirmou, em tom irônico, que Brasília, centro político do país, e a Avenida Faria Lima, centro financeiro paulista, parecem falar idiomas diferentes. Por isso, disse, convidou três “tradutores” para facilitar o diálogo, numa referência a Alexandre Abreu, Luciana Costa e Natalia Dias, nomes que já foram ou são CEOs de bancos.
Mercadante também afirmou que a nova gestão do BNDES terá como prioridade a “geração de mais emprego” e com “mais ênfase na economia verde”. Com isso, o banco vai dar “mais apoio a micro e pequenas empresas”, afirmou. O futuro presidente do BNDES procurou também afastar temores do mercado com relação à sua gestão. Ele assegurou que não está nos planos resgatar a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que servia de base dos financiamentos subsidiados de longo prazo a grandes grupos econômicos, durante os governos petistas, na controvertida política de formação dos chamados “campeões nacionais”.
Subsídios
“Não há espaço para a volta da TJLP, ninguém discute isso”, garantiu Mercadante em entrevista à imprensa, após o almoço com os empresários. Ele ponderou, porém, que a TLP, taxa que substituiu a TJLP, precisa de ajustes, defendendo que a inflação, considerada no cálculo da taxa, seja baseada numa média, e não na variação mensal, o que contribuiria para maior estabilidade maior do encargo. Adiantou, porém, que esse ajuste precisaria ser debatido no Congresso.
O economista apontou, ainda a necessidade de reindustrializar o País, citando que a participação do setor industrial na carteira no BNDES caiu de 43% para 16% nos últimos anos. Também prometeu um “olhar especial” para as micro e pequenas empresas, que, tendo como referencia países como Alemanha e Itália, podem, segundo ele, dobrar o peso relativo no PIB, hoje em 29%. Apesar disso, garantiu que a intenção do futuro governo não será trazer de volta o passado. “Estamos construindo um BNDES para o futuro”, disse, após repetir que não há espaço fiscal no orçamento para financiar empréstimos subsidiados pelo banco de fomento. “Temos de buscar novas fontes de financiamento”, declarou, citando oportunidades de captação de recursos da Europa, um total de 55 bilhões de euros à disposição de países de fora do continente, além do montante de R$ 1 bilhão do Fundo Amazônia.
Gênero
Além da organização da nova diretoria, Mercadante deverá receber, nos primeiros dias na liderança do BNDES, uma carta sobre a questão da paridade de gênero no banco. O principal problema estaria na no comitê que analisa e aprova crédito e operações, composto quase que exclusivamente por homens. Relatório interno do banco de 2021 mostra que mulheres representam 35,5% do corpo funcional, enquanto pretos e pardos correspondem a apenas 14,6% dos concursados.
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