Os investidores reagiram de maneira positiva às negociações para desidratar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição. Ontem, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), subiu pelo segundo dia consecutivo e avançou 2,03%, fechando aos 106.864 mil pontos. O indicador, que mostrava tendência de baixa na abertura dos negócios, passou a operar em alta firme após a notícia de que parlamentares e integrantes do novo governo haviam chegado a um acordo para reduzir o prazo de ampliação do teto de gastos com o objetivo de cobrir despesas com o Bolsa Família e outros programas.
No mercado de câmbio, a possibilidade de que o estouro do teto seja reduzido fez o dólar perder força, movimento que também refletiu a queda da moeda norte-americano no exterior. A divisa fechou em baixa de 1,90% perante o real, cotada a R$ 5,21 para venda, depois de atingir R$ 5,20 na mínima do dia.
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"O valor da PEC, de R$ 145 bilhões, não deve ser alterado, mas existe a expectativa de que ela seja desidratada, o que, no fim das contas, é positivo para o risco fiscal que os investidores vêm precificando", avaliou Jader Lazarini, analista do TradeMap, antes do resultado da votação do novo texto na Câmara.
A perspectiva de menor descontrole das contas públicas aliviou também as taxas de juros do mercado. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,73% ao ano, ante 13,93% na segunda-feira. A do DI para janeiro de 2025 caiu de 13,72% para 13,36%.
"A questão do prazo é mais importante que o tamanho do gasto extra, pois, se a ampliação for por somente um ano, haverá mais incentivos para aprovar a nova âncora fiscal em 2023. O mercado está certo em comemorar a notícia", afirmou o economista e ex-diretor do Banco Central Tony Volpon, em sua conta no Twitter.
Nomeações
Sidney Lima, analista da Top Gain, observou que o mercado continua de olho também nas nomeações para a equipe do futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad. "Ele não anunciou ontem novos nomes para se dedicar às negociações sobre a PEC. Então, ainda fica a expectativa para a definição desses colaboradores", disse.
Em meio à melhora do humor dos investidores, porém, a Câmara aprovou, no início da noite, após o encerramento do pregão, o aumento do salário de parlamentares, do presidente da República e dos ministros. Os reajustes têm impacto orçamentário previsto por cada órgão para os anos de 2023, 2024, 2025 e 2026. Na Câmara dos Deputados, em 2023 o impacto é de R$ 86 milhões. Em 2024, R$ 18,8 milhões; seguidos por R$ 19,1 milhões e R$ 20,2 milhões, respectivamente em 2025 e 2026. Apesar de representar bem menos do que as cifras bilionárias da PEC de Transição, a decisão pode não ser bem digerida pelo mercado, de acordo com analistas.
À parte os fatores políticos, as bolsas costumam apresentar resultados positivos entre os meses de dezembro e janeiro, marcados pelo maior peso do investidor de curto prazo, o que provoca volatilidade nos papéis. Apesar disso, os desdobramentos da PEC da Transição e dos juros nos Estados Unidos podem influenciar negativamente os índices brasileiros nesta reta final do ano.
Para o analista da Ouro Preto Investimentos Bruno Komura, o otimismo visto ontem não deve perdurar. "Talvez esse movimento continue até o final do ano, mas não deve ser longo, é de curto prazo. Podemos, sim, sonhar com um fim de ano positivo, como é de costume no mercado, mas é preciso ficar de olho nesses ajustes da PEC", avaliou.
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