A indústria brasileira teve a maior perda de participação para outros países no mercado doméstico em 19 anos. De acordo com o estudo Coeficientes de Abertura Comercial (CAC), produzido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com a Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), o maior impacto foi sobre a importação no consumo de farmoquímicos e farmacêuticos, que aumentaram em função da pandemia.
O Coeficiente de Penetração das Importações mede a participação dos bens importados no consumo aparente do Brasil. O índice aponta tudo o que é produzido internamente, com exceção do que é exportado, adicionado aos bens que são importados. Em 2021, o indicador registrou a marca de 24,8%, com aumento de 1,4 ponto percentual em relação à edição anterior da análise, em 2019, quando atingiu 23,4%. O resultado obtido durante o período da pandemia de covid-19 marcou novo recorde da série, iniciada em 2003, em preços constantes.
O setor farmacêutico foi o que apresentou maior alta no indicador, com elevação expressiva de 13,6 pontos, na comparação entre 2021 e 2019, e alta de 80,1% no valor importado no período. "De fato, a necessidade de maior oferta de medicamentos e de vacinas para o enfrentamento da pandemia foi um fator que motivou o crescimento do coeficiente de penetração das importações", reconhece o superintendente de Desenvolvimento Industrial da CNI, Renato da Fonseca. "Mas é importante ressaltar que, independentemente desse setor, há uma tendência de crescimento da participação de importados no mercado brasileiro", observa.
Baixa competitividade
No cenário macroeconômico, o aumento das importações ocorreu mesmo com a desvalorização do real, o que pode ser explicado, de acordo com o estudo, pela defasagem usual de resposta da quantidade importada à taxa de câmbio. Segundo Fonseca, o levantamento reforça a baixa competitividade brasileira em relação aos concorrentes estrangeiros, o que é um desafio para o país.
"O crescimento dos indicadores sobre importação e a relativa estabilidade da exportação apontam que seguimos com o desafio de elevar a competitividade da indústria brasileira. Quando a competitividade é baixa, as empresas enfrentam dificuldades para competir tanto no mercado doméstico quanto no externo, e a retomada do crescimento econômico é comprometida", descreve o superintendente.
Paralelamente à participação de produtos do exterior, em movimento similar, também cresceu o coeficiente de insumos industriais importados. O indicador, que avalia a participação dos insumos importados no total de insumos industriais utilizados pela indústria de transformação brasileira, também bateu recorde, com crescimento de 24,3% em 2021, um aumento de 1,6 pontos percentuais.
De acordo com Leonardo Paz, pesquisador do Núcleo de Prospecção e de Inteligência Internacional da Fundação Getulio Vargas (NPII- FGV), o país não tem capacidade de suprir sua demanda interna por insumos industriais. "Sem dúvida a indústria brasileira vem sofrendo há bastante tempo. É o chamado custo Brasil, um velho conhecido, somado a graves problemas de infraestrutura, juros e impostos altos. É uma soma de fatores que afetam a nossa competitividade", afirma.
Saiba Mais
Exportações
O Coeficiente de Exportação, que mede a importância do mercado externo para a indústria brasileira, registrou uma relativa estabilidade em relação aos últimos dois anos. O aumento das exportações tem acompanhado proporcionalmente o crescimento na produção, e o coeficiente em preços constantes praticamente não sofreu alterações: aumentou de 18,5%, em 2019, para 18,6%, em 2021.
Apesar disso, uma parte significativa dos setores registrou aumento da participação das exportações em sua produção: entre os 23 setores avaliados, 14 tiveram aumento no coeficiente de exportações e nove tiveram declínio, na comparação entre 2021 e 2019. O setor de alimentos, que tradicionalmente tem maior coeficiente de exportação na indústria brasileira, registrou o maior crescimento na produção destinada ao mercado externo do setor, passando de 23,3%, em 2019, para 28,3% em 2021.
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