Apesar das desigualdades sociais persistentes no Brasil e da carência da saúde bucal para milhões de brasileiros, a adesão aos planos de saúde exclusivamente odontológicos atingiu o maior patamar da história em 2022.
Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) mostram que o número de usuários de planos odontológicos chegou a 30,4 milhões, em agosto deste ano, o equivalente a 14,% da população brasileira. Na comparação com o mesmo mês de 2021, quando o total era de 28 milhões de pessoas, o incremento foi de 2,4 milhões de indivíduos. Ainda de acordo com dados da ANS, os 26 estados registraram crescimento no comparativo anual, com destaque para Minas Gerais, com expansão de 11,47%; São Paulo, de 7,84%; e Rio de Janeiro, de 5,03%.
O recorde de adesões aos planos odontológicos se deve, principalmente, ao entendimento dos brasileiros sobre saúde bucal, de acordo com especialistas. "As pessoas precisam entender que se trata de um investimento de longo prazo, que vale a pena manter seus planos ativos, de forma a cuidar continuamente de seu sorriso. Este é o objetivo final dessas 30 milhões de pessoas: sorrir, com qualidade", avalia o presidente da Associação Brasileira de Planos Odontológicos (Sinog), Roberto Cury.
A última edição da Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que, em 2020, ao menos 34 milhões de brasileiros adultos (acima dos 18 anos) perderam 13 ou mais dentes. Outros 14 milhões vivem sem nenhum, após perdas ao longo da vida.
O cenário ainda possui um imenso passivo de pessoas que vivem ou viveram sem acesso à saúde bucal. Dados do IBGE revelam que 39 milhões de brasileiros utilizam prótese dentária.
Desigualdade
A desigualdade social é um dos fatores da persistência dos problemas odontológicos no Brasil, segundo os especialistas. "A falta de políticas de saúde pública na área bucal e dentária, prevenção e cuidados primários nesta área acentuam as desigualdades socioeconômicas que já existem em todos os níveis e cenários da realidade brasileira", afirma Igor Figueiredo, pesquisador do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), doutor em ciências sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Evidentemente, as classes médias buscam a sua própria solução. Contudo, os planos de saúde bucal poderiam complementar uma política pública nacional, ampla, universalizada, que incluísse alimentação saudável, educação preventiva e mais idas ao dentista anualmente. Assim, a falta de acesso a uma saúde bucal de qualidade reduz ainda mais a qualidade e a expectativa de vida da maior parte da população", acrescenta.
O levantamento Percepções Latino-americanas sobre Perda de Dentes e Autoconfiança, feito pela Edelman Insights, em 2018, mostra que o edentulismo (a perda de dentes) é o segundo fator que mais prejudica a vida de pessoas com idade entre 45 e 70 anos na região. Além disso, 41,5% da população chega aos 60 anos de idade com a arcada totalmente comprometida, enquanto 32% dos entrevistados destacaram que a perda de dentes os impede de ter um estilo de vida saudável e ativo. A pesquisa ouviu 600 pessoas na América Latina, sendo 151 delas brasileiros.
Analistas destacam que o avanço do segmento acompanha também a entrada no mercado de trabalho de novos profissionais da área de saúde bucal. De acordo com dados do Conselho Federal de Odontologia (CFO), o Brasil possui, atualmente, 381.247 cirurgiões-dentistas, o que significa dizer que há um dentista para cada 550 cidadãos. Porém, o cenário ainda é abaixo do desejável. "Há estudos que comprovam que um número ideal gira em torno de um dentista para mil pessoas. Apesar de registrar um dos melhores percentuais profissional/população atendida do mundo, o brasileiro ainda carece de cuidados com sua saúde bucal", afirma Cury, do Sinog.
Conforme os dados da ANS, existem 411 operadoras em atividade no mercado oferecendo 4.669 planos exclusivamente odontológicos. Entre eles, os custos variam de R$ 23 a R$ 1.786 mensais.