conjuntura

Apesar de tensão no campo político, mercado segue otimista

Bolsa de Valores de São Paulo registra nova alta no segundo dia após a eleição presidencial, e dólar termina mais uma sessão em queda, com forte presença de investidores externos

Descolado do exterior, o mercado brasileiro operou mais um dia com tranquilidade no pós-eleição, apesar do clima ainda tenso na política. O dólar comercial registrou queda de 0,92% e fechou cotado a R$ 5,11, enquanto o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), avançou 0,77%, aos 116.928 pontos. O dia foi marcado por uma certa aversão ao risco, típica de véspera de feriado. Entretanto, a recuperação pontual dos papéis ligados a commodities metálicas garantiu nova alta no índice ontem.

Em Nova York, o Dow Jones recuou 0,25%, enquanto o S&P 500 teve queda de 0,41% e o Nasdaq de 0,89%. Por lá, investidores continuam se posicionando com cautela, esperando a decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), que sai nesta quarta-feira. A expectativa é de que a taxa básica de juros americana avance 75 pontos-base, para o intervalo entre 3,75% e 4% ao ano.

No cenário doméstico, os ativos começaram a perder fôlego no início do curto discurso do presidente Jair Bolsonaro (PL), que fez seu primeiro pronunciamento após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Sem um sinal claro de admissão de derrota, o principal índice da bolsa devolveu parte dos ganhos. "Ele disse que iria respeitar a Constituição, porém que os sonhos nunca estiveram tão vivos quanto antes. Não foi claro nem objetivo, também não cumprimentou Lula, como é de praxe. Então o mercado sentiu uma certa indiferença em sua fala", afirmou o head de renda variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno.

Os investidores continuam sensíveis ao movimento político nacional, e esperavam que Bolsonaro afastasse de maneira mais contundente a possibilidade de uma ruptura institucional. No entanto, a confirmação do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), como coordenador do processo de transição de governos foi bem recebida, visto que ainda é aguardado o anúncio da equipe econômica do novo governo.

"O mercado estava realmente esperando passar a eleição para tirar um pouco do peso desse viés político e, desde segunda-feira, vem conseguindo se recuperar. Notamos também que os estrangeiros seguem de olho nos nossos ativos. Tivemos destaque principalmente do setor de minério com os rumores de uma certa flexibilização da política covid zero na China, o que refletiu em uma performance positiva", avaliou Alison Correia, CEO da Top Gain. Entre as principais altas no Ibovespa ficaram os papéis da Vale, que tiveram ganho de 3,34%.

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Otimismo

O dia seguinte à vitória de Lula ficou marcado como o melhor resultado do mercado financeiro após a escolha de um presidente dentre todas as eleições em que o real era a moeda brasileira, de acordo com um levantamento da LCA Consultores. Na ultima segunda-feira, primeiro dia após a terceira vitória de Lula, o índice da B3 fechou em alta de 1,31% e o dólar caiu 2,21%.

Segundo os analistas, as reações relativamente benignas estão associadas às sinalizações de que o governo eleito está construindo alianças num arco mais amplo do espectro político. Na história recente das eleições, a bolsa brasileira só teve alta no dia seguinte à vitória de primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2010. Naquele dia, o Ibovespa subiu 1,26%. Já o pior desempenho do índice foi na eleição de segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quando o país enfrentava uma crise externa e a bolsa caiu 4,47%.

O levantamento só considera o dia seguinte à eleição, mas o dólar registrou uma disparada histórica antes da primeira vitória de Lula — na época, contra o então candidato governista, José Serra (PSDB) —, quando as pesquisas deixaram claro que o petista seria eleito no segundo turno. De agosto a outubro de 2002, a moeda norte-americana saiu de R$ 2,84 para R$ 4, valor que, se fosse corrigido, seria equivalente, hoje, a cerca de R$ 7,50.

Naquele momento, o mercado considerava que o petista representava uma ameaça à economia, o que levou os investidores a retirarem dinheiro em massa do país, trocando reais por dólares. Levando em conta o histórico e os nomes que demonstraram apoio a Lula nesta eleição, o mercado espera que sejam adotadas medidas alinhadas com o compromisso fiscal.