Normalmente, com a combinação do dinheiro extra do 13° salário e as festas de fim de ano, os brasileiros tendem a gastar mais neste período. No entanto, grande parte dos consumidores está com o poder de compra limitado pelas dívidas contraídas nos últimos meses. A mais recente pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC) aponta que 79,3% das famílias estão endividadas, das quais 30,3% em situação de inadimplência. Segundo analistas, esse cenário decorre da falta de educação financeira, que leva as pessoas a gastar mais do que podem. Para especialistas, é um bom momento para aprimorar a capacidade de usar o dinheiro.
Os profissionais da área costumam usar a expressão "analfabetismo financeiro" para caracterizar a situação em que o indivíduo não sabe lidar com dinheiro de uma forma consciente. São aquelas pessoas que não fazem ideia do quanto gastam por mês, realizam compras por impulso, sem pensar se a aquisição é ou não necessária. Esse comportamento não afeta apenas o bolso. O educador financeiro Felipe Tapi explica que não ser educado financeiramente pode trazer problemas de saúde, como ansiedade, estresse e depressão.
"A longo prazo, a falta da educação financeira pode acarretar, ainda, um problema sério: não ter renda suficiente para se manter na terceira idade", acrescenta Tapi. "Em meus atendimentos individuais, porém, percebo que o pior problema para as pessoas não são dívidas, ficar sem patrimônio ou algo do gênero e, sim, a frustração. O lado emocional está pesando muito mais que o quantitativo", diz.
A consultora financeira Andreza Stanoski Rocha ressalta que saber lidar com dinheiro não depende, necessariamente, do nível de renda. "Independentemente de uma pessoa ganhar R$ 100 ou R$ 100 mil, se ela não souber administrar o pouco, também não saberá lidar com o muito", explica.
Segundo Rocha, pessoas "alfabetizadas economicamente" têm compreensão dos conceitos básicos financeiros e, assim, podem aplicar esses conhecimentos à própria vida, servindo de exemplo para familiares.
"Com esse tipo de instrução, é possível aprender a importância de pagar as contas em dia, de criar um orçamento familiar, do real funcionamento do crédito, sobre como economizar dinheiro para o futuro, comparar produtos financeiros, como os investimentos e os cartões de créditos, por exemplo, e, principalmente, a utilizar a dívida de forma responsável", afirma.
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Exemplo
Para a educadora, nunca é tarde para aprender, mas a melhor fase para se ensinar é na infância — principalmente se a criança tem na família exemplos de inadimplência e gastos excessivos. "Como é mais fácil desaprender do que aprender, principalmente no que tange a costumes negativos, o ideal é pensar na saúde do bolso da mesma forma que se cuida da saúde física", afirma.
Para o educador financeiro Ruda Lins, procurar um especialista é a melhor solução para quem tem problemas na administração do próprio dinheiro. "O ideal é ter alguém ao lado para ajudar."
Lins aponta ainda que o tempo para aprender a se organizar financeiramente varia muito. "Depende do esforço de cada um, mas de acordo com a minha experiência pessoal, numa média de seis a 12 meses, os consumidores conseguem ter uma virada de chave. Eu acredito que em 12 meses uma pessoa tem capacidade total de mudar a mentalidade", afirma.
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