O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) elevou a taxa de juros de referência em 0,75 ponto percentual, para o intervalo entre 3,75% e 4% ao ano. A decisão, amplamente esperada no mercado financeiro, é mais uma tentativa de conter a inflação no país, que chegou a 8,2% na variação anual, um recorde. Esta é a quarta vez consecutiva que a instituição eleva a taxa de juros nesta proporção, o que nunca havia sido feito pelo BC norte-americano.
A nova rodada de aperto monetário do Fed pode ter efeitos negativos no Brasil, invertendo o fluxo de recursos de investidores estrangeiros que vem proporcionando alta da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) e queda do dólar diante do real, apesar das turbulências políticas locais. Com juros mais altos nos EUA, os ativos domésticos tendem a se tornar menos atraentes, favorecendo também o dólar frente a moedas de países emergentes.
A B3 estava fechada ontem pelo feriado de finados, mas os ativos brasileiros listados nos EUA já sofreram desvalorização com a alta dos juros e as incertezas causadas pelas manifestações bolsonaristas, que continuam travando parte das rodovias pelo país. "Podemos esperar nesta quinta-feira uma desvalorização do real e provavelmente uma queda da B3 nos primeiros momentos, com um cenário doméstico também conflituoso. Tudo isso trará mais volatilidade", avaliou o economista e sócio da G2W Ciro de Almeida.
Em comunicado divulgado após anunciar a decisão, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) sugeriu que poderia reduzir o ritmo de aperto monetários nas próximas reuniões. No entanto, o presidente do Fed, Jerome Powell, foi na direção contrária.
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Powell disse enxergar a possibilidade de discutir uma desaceleração da alta das taxas nas reuniões de dezembro ou de janeiro, mas, segundo ele, ainda há um caminho a se percorrer. "À medida que avançamos no território restritivo, a questão da velocidade das altas se torna menos importante. E é por isso que, em algumas coletivas de imprensa, os diretores afirmaram que será importante desacelerar o ritmo dos apertos monetários", disse. "Essa hora está chegando, podendo ser nas duas próximas reuniões", completou.
Apesar disso, Powell afirmou que o Fed ainda não está pensando em interromper os aumentos, o que seria, segundo ele, prematuro. "As pessoas quando ouvem falar em desaceleração pensam em uma pausa, mas não é isso. Temos um caminho a percorrer", argumentou.
O mercado interpretou as sinalizações de Powell como mais duras do que as que eram esperadas, e, por conta disso, as bolsas americanas derreteram. Em Nova York, o índice Dow Jones recuou 1,55%, o S&P 500 teve queda de 2,50% e o Nasdaq, das empresas de tecnologia, desabou 3,36%. "Com essas falas, investidores perceberam que o pior pode ainda não ter passado, e que este tom agressivo, nas entrelinhas, pode acabar afetando diretamente a economia e, obviamente, o apetite quanto à renda variável", avaliou Sidney Lima, analista da Top Gain Investimentos.
Segundo o comunicado do Fomc, "a inflação permanece elevada, refletindo desequilíbrios de oferta e demanda relacionados à pandemia, preços mais altos de alimentos e energia e pressões mais amplas sobre os preços".
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