FINANÇAS

Mercado de crédito cresce e tem leve queda nos juros, diz BC

Com a Selic estável, custo de alguns empréstimos apresentaram redução em setembro, de acordo com BC, mas analistas alertam que taxas ainda são muito altas e a tendência é de aumento nos próximos meses

Um dia depois de o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, manter a taxa básica da economia (Selic) em 13,75% ao ano, pela segunda reunião consecutiva, o órgão divulgou, nesta quinta-feira (27/10), dados positivos do setor de crédito, com crescimento no volume de concessões e leve redução na taxa média dos juros cobrados pelo setor financeiro.

De acordo com informações do BC, em setembro, o saldo de crédito com recursos livres emprestados às famílias chegou a R$ 1,7 trilhão em setembro, com altas de 1,3%, no mês, e de 21,7%, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Por modalidades, o crescimento foi disseminado, como nos últimos meses, com destaque, por exemplo, para o crédito consignado para trabalhadores do setor público, com alta de 1,5%; o cartão de crédito rotativo, com salto de 5,8%; e o crédito pessoal destinado à composição de dívidas, com avanço de 3,1%. Outros créditos livres registraram expansão de 5,5%.

A taxa média de crédito operados com recursos livres do Sistema Financeiro Nacional (SFN) passou de 40,6% ao ano, em agosto, para 40,4% no mês passado. Contudo, a alta em 12 meses é de 9,9 pontos percentuais. Esse recuo na variação mensal foi puxado, principalmente, pela redução do juro do rotativo do cartão de crédito — a mais cara modalidade de crédito do SFN — que passou de 399,6% ao ano, em agosto, para 388,7% anuais, em setembro, uma das taxas mais altas do mundo. Já os juros do cheque especial continuaram subindo, passando de 128,4% para 134,6% anuais, entre agosto e setembro. Até mesmo o consignado para servidores ficou mais caro, passando de 22,8% para 26,8% ao ano na mesma base de comparação.

“A expansão do crédito em 2022 vem sendo puxada pelo crédito livre, como um todo, que cresceu 19% nos últimos 12 meses. E esse crescimento é mais acentuado nas operações para a pessoa física”, destacou Renato Baldini, chefe adjunto do Departamento de Estatísticas do Banco Central. Ele reconheceu que a leve queda na taxa média do crédito livre, em parte, corresponde ao comportamento da Selic, que ficou estável desde setembro.

A inadimplência do crédito total do sistema financeiro, que considera os atrasos superiores a 90 dias, permaneceu estável em setembro, em 2,8%. Já o endividamento total das famílias com o SFN recuou pela primeira vez no ano, alcançando 52,9% da renda familiar disponível em agosto, contudo, continua elevado, de acordo com analistas. No mês anterior, o percentual era de 53,2%, o maior da série histórica do BC, iniciada em janeiro de 2005.

O comprometimento da renda das famílias com o pagamento de dívidas junto ao STF, por sua vez, aumentou entre agosto e setembro, passando de 28,6% para 29,4%, conforme os dados do BC.

“O que podemos ver nos dados do BC é que algumas taxas caíram, mas foram poucas e a queda foi pequena. Com a Selic inalterada, mas em patamar elevado, de 13,75% ao ano, a tendência é de que os juros cobrados pelo mercado continuem subindo, porque o risco de crédito vai ser maior daqui para frente”, alertou Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo de estudos e pesquisas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). “Na média, a taxa caiu pouco, mas é uma queda. Mas a tendência é de os juros subirem e se manterem elevados daqui para frente, porque a inflação deve voltar a pressionar os custos, pois haverá uma série de reajuste de tarifas depois das eleições”, acrescentou.

“As taxas de crédito para pessoas físicas caíram 30 pontos-base, mas para um patamar ainda muito alto, de 53,7% ao ano, após 13 aumentos mensais consecutivos, totalizando 1.440 pontos. As taxas cobradas no crédito corporativo aumentaram 20 pontos para 22,9%, alta de 840 pontos desde junho de 2021”, destacou o economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, ao comparar o desempenho das taxas de juros de mercado desde o início do ciclo de aperto monetário do Banco Central brasileiro, em março de 2021, quando a taxa Selic estava no piso histórico de 2% ao ano.


Expansão do crédito

Conforme os dados do BC, o saldo das operações de crédito SFN cresceu 2,2%, em setembro, na comparação com o mês anterior, totalizando R$ 5,2 trilhões.

Em setembro de 2022, o saldo do crédito ampliado ao setor não financeiro, incluindo a dívida pública e endividamento externo de governo e de empresas, alcançou R$ 14,5 trilhões, o equivalente a 153,6% do Produto Interno Bruto (PIB), com elevação de 1,5% no mês, de acordo com o BC.

Esse aumento, segundo a autoridade monetária, foi explicado majoritariamente pelos empréstimos do SFN no mercado doméstico, que cresceram 2,2%, e pelos empréstimos da dívida externa – com expansão de 4,5%, associada à depreciação cambial de 4,4% observada no mês.

Na quarta-feira, o Copom manteve a Selic em 13,75%, patamar que confirmou mais uma vez o Brasil no topo do ranking dos juros reais mais altos do mundo, conforme dados da Infinity Asset Management.

  

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