Após dois meses consecutivos de queda, a prévia da inflação oficial voltou a aumentar e registrou avanço de 0,16% em outubro, puxada, principalmente por planos de saúde, que subiram 1,44%, e pelas passagens aéreas, que ficaram, em média, 28,17% mais caras. Outro fator que ajuda a explicar a volta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), ao terreno de alta é a elevação dos preços de alimentação e bebidas (0,21%), que haviam caído no mês passado, e pesam bastante no bolso da população.
O IPCA-15 acumula alta de 4,80% no ano e de 6,85% nos últimos 12 meses, ainda cima do teto da meta perseguida pelo Banco Central (BC), de 5%. O grupo alimentação mostra aumento anual de 13%, quase o dobro da inflação.
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Em outubro, o encarecimento dos convênios médicos impactou o item saúde e cuidados pessoais, que teve elevação de 0,8%. Já o grupo transportes, mesmo com a alta dos bilhetes aéreos, recuou 0,64%, refletindo a queda de preços de produtos importantes, como gasolina, etanol e óleo diesel, ainda sob efeito dos cortes de tributos promovidos pelo governo e da decisão da Petrobras, sob pressão política, de segurar reajustes dos combustíveis.
Entre os nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a maior variação foi registrada em vestuário (1,43%), com destaque para as altas de calçados e acessórios (1,82%), roupas infantis (1,71%) e joias e bijuterias (1%).
Para o economista da MAG Investimentos Felipe Rodrigo de Oliveira, o resultado do índice, com a alta de 0,16%, veio acima do esperado pelo mercado. "A surpresa altista se deu principalmente pelo aumento das passagens aéreas. No entanto, houve altas menores do que o esperado nos alimentos, e bens industriais ficaram mais bem comportados — à exceção do grupo de vestuário que tem apresentado elevação constante", explicou.
Oliveira disse ainda que o resultado favorece a expectativa de melhora no cenário inflacionário, "embora não seja suficiente para voltarmos ao intervalo de tolerância da meta de inflação do BC".
Apenas três grupos registraram recuo de preços em outubro: transportes, comunicação e artigos de residência. No grupo transportes, houve queda no etanol (-9,47%), na gasolina (-5,92%), no óleo diesel (-3,52%) e no gás veicular (-1,33%).
Alimentação
A alimentação no domicílio subiu 0,14%, influenciada pelo aumento nos preços de frutas (4,61%), batata-inglesa (20,11%), tomate (6,25%) e cebola (5,86%). Já o leite longa vida, que era um dos "vilões", nos meses anteriores, recuou 9,91%.
O economista da FGV André Braz, apontou que, apesar da alta mais moderada em outubro, a alimentação acumula, em 12 meses, está no radar entre as principais fontes de pressão inflacionária. "Ela ofereceu uma trégua em setembro, mostrando uma queda discreta, mas ainda chama atenção", disse. "Neste índice, vimos vários alimentos naturais subindo, como hortaliças, legumes, raízes dos tubérculos. Com o volume de chuvas aumentando, esses preços também vão atrás."
A dona de casa Angela Teodoro, 41 anos, que faz compras toda semana, observa que os preços têm variado muito, o que prejudica o orçamento da família. "Tenho percebido o aumento, principalmente, de itens básicos de alimentação, como arroz, feijão, macarrão, carne, frango, ovos", afirmou. "Como minha renda familiar é baixa, preciso me privar de outros consumos para não faltar a comida na mesa", apontou.