Os últimos meses do ano prometem aquecer o setor de bares e restaurantes. Além das festas tradicionais, como Natal e réveillon, a Copa do Mundo, que este ano tem início em novembro, promete movimentar o segmento. Um levantamento feito pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), realizado com 1.709 empresários em todo o país, apontou que 45% deles têm a intenção de contratar funcionários até o fim do ano — sendo que 25% revelaram já ter aumentado o quadro de funcionários em setembro. Outros 51% têm a expectativa de manter o time atual e apenas 4% dizem que irão realizar demissões.
O presidente executivo da Abrasel, Paulo Solmucci, explicou que, nos últimos dois anos, o setor perdeu muitos postos de trabalho. "Os dois períodos em que o setor mais demitiu trabalhadores foram em março de 2020 e em meados de maio de 2021. Juntando esses dois momentos, nós perdemos 1,3 milhão de postos de trabalho", disse. "Agora, o setor está tendo uma retomada. Até setembro de 2022, já recuperamos 1,2 milhão de postos. Neste final de ano, estamos recuperando cerca de mais 100 mil vagas."
Solmucci apontou que, superada a pandemia, o setor está evoluindo. "Estamos crescendo 5% em termos reais, acima da inflação, sobre o ano passado. Quando se olha para 2019, que é pré-pandemia, nós estamos em 8% em termos reais acima. Ou seja, estamos faturando bastante", observou.
Ainda segundo o presidente-executivo da Abrasel, o número de empresas que estão contratando funcionários é alto, mas não surpreende. "Estamos acompanhando de perto a movimentação dos estabelecimentos e já prevíamos a melhora dos indicadores na economia. Estamos entrando em um ciclo virtuoso nos próximos meses, com vários fatores contribuindo positivamente: o fim da pandemia, a melhora no poder aquisitivo, os benefícios sociais como o Auxílio-Brasil, a baixa nos índices de desemprego, o aumento de pessoas frequentando bares e restaurantes depois de tempos tão difíceis", afirmou.
Solmucci destacou que a redução da inflação geral é muito importante para os negócios, pois permite a redução nos custos para um setor que estava há meses pressionado, segurando os repasses do cardápio e absorvendo parte importante dos aumentos. "A cereja do bolo é a Copa do Mundo em novembro, estamos muito animados", acrescentou.
Entre os empresários que pretendem contratar trabalhadores, 63% apontam como motivo o aumento de demanda previsto, em função dos eventos. Também chama a atenção o número de empresas que busca mais gente para ampliar o negócio com novos produtos e serviços (11%) ou para abrir filiais (9%). Além disso, 25% procuram profissionais para recompor o quadro e readequar a empresa à nova configuração de mercado pós-pandemia.
Apesar da procura, nem todos os empresários estão encontrando os profissionais desejados. A quase totalidade (99%) dos entrevistados que pretende contratar disse ter algum grau de dificuldade na seleção. Quanto mais especializado o profissional, mais difícil de encontrar. É o caso de cargos como padeiro e sommelier, apontados como alto grau de dificuldade para contratação por 72% e 71% dos respondentes, respectivamente. Chef de cozinha (62%), gerente (59%) e profissional de TI (39%) também estão em falta no mercado. No entanto, os profissionais mais procurados não são os de maior qualificação. A maior procura é por cargos de auxiliar de cozinha (há vagas abertas em 59% dos estabelecimentos), garçom (55%) e atendente/cumin (49%).
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Dificuldades
Encontrar bons profissionais sempre foi uma dificuldade do setor, de acordo com o presidente-executivo da Abrasel, o que se torna mais evidente em momentos de alta demanda. "Os estabelecimentos acabam formando muita gente, mas isso leva tempo e exige investimento. Além disso, na dinâmica do nosso setor, o garçom de hoje é o empresário de amanhã, e muita gente trocou o emprego por um negócio próprio, como microempresário, durante a pandemia. Então encaramos esta dificuldade como algo transitório", explicou Solmucci.
A pesquisa revelou também que a situação econômica dos estabelecimentos está se estabilizando. Depois de aumentos constantes nos últimos meses no número de empresas realizando lucro, o índice se estabilizou em 45%. Também o mesmo número de respondentes disse ter trabalhado em setembro com equilíbrio financeiro (36%) ou com prejuízo (19%), exatamente os mesmos números relativos ao desempenho no mês de agosto.
Caiu, no entanto, o número de empresas inadimplentes no regime do Simples: 31% disseram estar com parcelas em atraso. O número é menor do que o apurado em agosto (36%), julho (38%) e junho (42%). Cerca de 84% das empresas respondentes da pesquisa se encontram enquadradas neste regime fiscal.