ECONOMIA GLOBAL

Para Guedes, FMI tem negligenciado a natureza e a magnitude da inflação

"Infelizmente, a supervisão bilateral e multilateral do FMI tem negligenciado a natureza, magnitude, e extensão do aumento da inflação que começou em 2021", disse o ministro da Economia, Paulo Guedes, em documento divulgado pelo FMI

O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a criticar o Fundo Monetário Internacional (FMI), em uma declaração dele divulgada pelo organismo multilateral, nesta terça-feira (11/10), durante o encontro anual de outono (no Hemisfério Norte). Para o chefe da equipe econômica do governo Jair Bolsonaro (PL), o Fundo não tem desempenhado o seu papel corretamente e errado muito em avaliações, principalmente, sobre a inflação.

“Infelizmente, a supervisão bilateral e multilateral do FMI tem negligenciado a natureza, magnitude, e extensão do aumento da inflação que começou em 2021. Como resultado, o conselho de política do Fundo foi equivocada em vários casos. O Fundo deve, por conseguinte, reorientar e reforçar a sua análise macroeconômica e financeira, supervisão e assessoria política para restaurar credibilidade que se perdeu nesse processo”, afirmou Guedes, no documento divulgado pelo FMI que resume a avaliação do ministro sobre os principais temas na conjuntura econômica atual mundial. 

Na avaliação do ministro brasileiro, embora a agenda do Fundo tenha sido ampliada nos últimos anos para incorporar questões não essenciais, o FMI deve se concentrar em seu mandato central tradicional, que traz o maior valor agregado aos membros. Ele ainda defendeu a revisão de cotas da instituição. "Uma conclusão bem-sucedida e oportuna da 16ª Revisão Geral de Cotas (GRQ) continua sendo uma alta prioridade", defendeu.

Para o economista, o Fundo tem um papel crítico a desempenhar para enfrentar os desafios atuais enfrentados pela economia, "confrontando a alta inflação de várias décadas, altos níveis de dívida, crescimento sincronizado desaceleração e espaço fiscal amplamente esgotado, os formuladores de políticas em todo o mundo devem contar com a FMI como um farol de análise e aconselhamento de alta qualidade para reequilibrar as economias mundial e nacional com o menor custo possível".

Guedes também reconheceu a importância do combate à inflação e admitiu o aumento dos riscos da desaceleração econômica e das condições financeiras mais apertadas, apontados pelo FMI. O Fundo divulgou o Relatório de Estabilidade Financeira Global, nesta terça-feira, alertando para os riscos do aumento excessivo dos juros na atividade econômica.

“A desaceleração econômica e condições financeiras mais apertadas aumentam os riscos de instabilidade financeira. O ritmo mais rápido de aperto da política monetária está levando a uma maior volatilidade, avaliações mais baixas e prêmios de risco mais elevados em vários mercados financeiros importantes. Isso também pode levar a uma correção acentuada em mercados imobiliários e falhas corporativas em setores mais vulneráveis”, destacou o ministro no documento.

“Com a perspectiva de aperto quantitativo nos principais bancos centrais, as condições de liquidez nos mercados financeiros podem deteriorar-se ainda mais. Os elevados níveis de dívida soberana acumulados durante a pandemia, particularmente quando denominados em moeda estrangeira, deixam muitos governos expostos a condições de mercado desordenadas, especialmente em países com buffers limitados”, acrescentou.

Na avaliação do ministro, embora uma recessão global não esteja no cenário de linha de base do relatório Panorama Econômico Global, divulgado nesta terça-feira com revisões de projeções para a economia mudnial, “os riscos aumentaram substancialmente”. “A redução da inflação exigirá, infelizmente, uma nova desaceleração no atividade econômica. Uma combinação de políticas credível e consistente ajudará a conseguir isso com o mínimo de custo possível. Qualquer hesitação ou inconsistência política pode desencorajar as expectativas, aumentando a probabilidade de empurrar o mundo para a recessão. Advertimos contra qualquer complacência nesta área”, reforçou Guedes.

Assim como o FMI, o ministro destacou que a pandemia e a guerra na Ucrânia geraram gargalos de abastecimento afetando o setor real, com impacto, principalmente, por meio de aumentos de preços de alimentos e energia. Ele ainda reforçou que houve "aumento significativo" dos riscos de dificuldades financeiras nos mercados de crédito doméstico e internacional no cenário atual.

Guedes ainda voltou a fazer declarações otimistas em relação à economia brasileira e destacou que o Banco Central brasileiro saiu na frente no processo de ajuste monetário, aumentando os juros em março de 2021, em um claro sinal de que a inflação não era temporária, como alguns dirigentes de países desenvolvidos alegavam na época. “O Brasil está acima da curva. O país tem tomado ações oportunas e decisivas para garantir a sustentabilidade fiscal e combater a inflação”, disse.

Na avaliação de Guedes, o crescimento econômico do Brasil, em 2022, “surpreenderá pelo lado positivo”. “O crescimento anual do PIB manteve-se positivo por seis trimestres consecutivos, atingindo 3,3% no segundo trimestre (na comparação anual). A economia brasileira deve crescer 2,5% em 2022, superando todas as projeções iniciais, que no início do ano girava em torno de apenas 0,3 por cento. Os indicadores de alta frequência mostram um contínuo fortalecimento da confiança empresarial e do consumidor, bem como atividade”, afirmou.

Pelas novas projeções do FMI, o Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer 2,8%, neste ano. Mas, em 2023, a instituição prevê desaceleração de 1%.

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