Eleições 2022

Aguardando decisões econômicas de Lula, mercado opera em modo cautela

À espera de definições sobre integrantes da equipe econômica do novo governo Lula e apolítica fiscal que será implementada, investidores devem assumir postura defensiva a curto prazo, avaliam especialistas

Rafaela Gonçalves
postado em 31/10/2022 03:55
 (crédito: Luiz Prado/Divulgação)
(crédito: Luiz Prado/Divulgação)

A vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais deve levar o mercado financeiro a iniciar a semana na defensiva, segundo analistas, com grande volatilidade nas ações, especialmente as mais sensíveis a mudanças políticas, como as de empresas estatais. Os investidores aguardam atentos às divulgações de nomes que irão compor os ministérios, sobretudo o da Economia, e qual âncora fiscal será adotada a partir do próximo ano.

As três primeiras semanas após o primeiro turno, que mostrou uma disputa mais acirrada do que se previa entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro (PL), foram de ânimo para o Ibovespa, principal termômetro da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), com o índice acumulando ganhos de 9% em outubro. As ações da Petrobras renovaram máximas históricas, com alta de 12%, enquanto os papéis do Banco do Brasil subiram 14% no período. No entanto, a expectativa é de que o mercado reaja com certo temor neste primeiro momento, já que Lula não deixou claro como conduzirá pautas importantes, como a privatização de empresas estatais.

É esperado um forte ajuste de posições envolvendo Petrobras e Banco do Brasil. "As duas estatais devem amargurar quedas, porque Lula falou durante a campanha que iria 'abrasileirar os preços dos combustíveis' e o Banco do Brasil deixaria de atuar como um banco privado, se tornando mais social, cobrando taxas de juros abaixo dos bancos privados. Entretanto, se Lula anunciar Henrique Meirelles como ministro da Economia, as quedas podem se amenizar", avaliou o analista da Levante Investimentos, Flávio Conde

O apoio dado a Lula por Henrique Meirelles, criador do teto de gastos, foi uma mensagem importante ao mercado financeiro e ao empresariado, chegando a impulsionar altas da Bolsa na última semana. Meirelles foi presidente do Banco Central nos dois mandatos de Lula e ministro da Fazenda no governo de Michel Temer (MDB) e defende uma política de ajuste das contas públicas.

Uma das grandes preocupações do mercado é a de que o teto seja simplesmente revogado, sem que outro mecanismo de controle seja colocado em prática, para que o governo possa aumentar investimentos e programas sociais. Segundo a economista e professora de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carla Beni, há uma lacuna neste aspecto, que só será definida após o anúncio do comando da pasta da Economia. "A questão fiscal é central. Há uma manifestação de que o teto de gastos deve ser rompido e deve ser trocado por outra âncora, mas não há uma alternativa clara do PT para garantir essa responsabilidade fiscal", observou.

Outro fator importante, de acordo com Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, será a reação de Jair Bolsonaro (PL), que perdeu a disputa. "É possível que Bolsonaro não faça uma transição suave de poder. Precisamos monitorar esse 'terceiro turno', qualquer contestação por parte dele pode causar bastante incerteza por mais tempo", avaliou.

Novo olhar

A vitória de Lula, segundo os analistas, deve mudar ainda a perspectiva de investimentos, tirando o foco de estatais e impulsionando papéis de empresas de setores voltados para o público de mais baixa renda. A afirmação de Lula de que vai turbinar o programa de habitação popular do governo, que voltaria a se chamar Minha Casa Minha Vida, com mais recursos e taxas de juros menores, tende a impulsionar o setor de construção civil.

"Há um olhar voltado para as empresas do setor de educação e construtoras, por exemplo, além de empresas direcionadas ao público de mais baixa renda, que seriam impulsionados por possíveis programas sociais. Esses papéis devem se destacar", disse Beni. Ações de varejistas também devem acelerar ganhos, segundo as projeções.

Baseado no histórico de Lula e nas políticas anunciadas em seu programa de governo, analistas da Toro Investimentos divulgaram um relatório indicando estratégias de alocação de investimentos para 2023 e o próximo ciclo político do Brasil. Os economistas acreditam que os próximos anos serão marcados por medidas fiscais expansionistas, que podem beneficiar alguns setores, porém podem trazer pressão nas taxas de juros futuras.

"Com o teto de gastos mais flexível, ou extinto, é possível que o panorama fiscal passe por algum nível de deterioração, possivelmente aumentando os juros e spreads dos títulos de renda fixa prefixados e atrelados à inflação", destaca o relatório. A depender dos impactos dessas medidas sobre a inflação, pode ser necessário manter a taxa de juros em patamares mais elevados, apesar da posição já avançada no que diz respeito aos juros básicos brasileiros, quando comparados com outras economias.

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