Globalização

PIB da China cresce 3,9% no terceiro trimestre de 2022 e surpreende mercado

País registra crescimento de 3,9% no PIB no terceiro trimestre de 2022. Especialistas afirmam que desaceleração continua

Rosana Hessel
postado em 25/10/2022 03:55
 (crédito:  AFP)
(crédito: AFP)

A China registrou crescimento de 3,9% no Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre de 2022, de acordo com os dados oficiais, divulgados ontem, e que ficaram acima das previsões do mercado. A publicação do resultado do PIB chinês ocorreu um dia depois de o presidente Xi Jinping ser reeleito como líder do Partido Comunista da China, para um novo mandato de cinco anos, e com seis dias de atraso em relação à data originalmente prevista.

O resultado na comparação anual superou as estimativas dos analistas, que esperavam avanço entre 2,5% e 3,6%, de acordo com algumas projeções do mercado coletadas pelas agências internacionais. Apesar da surpresa positiva, analistas alertam para o fato de que o processo de desaceleração econômica da segunda maior economia do planeta continua em curso, em grande parte devido à política de tolerância zero contra a covid-19.

De acordo com especialistas, as medidas adotadas pelo governo chinês, que incluem com frequência o fechamento de empresas e fábricas de produção, afetaram a atividade econômica e os deslocamentos da população, derrubando o consumo. No segundo trimestre, o país cresceu apenas 0,4%, em ritmo anual, o pior resultado desde 2020. Na comparação com o segundo trimestre de 2022, a economia chinesa também avançou 3,9% — um bom sinal, pois entre o primeiro e segundo trimestre registrou contração de 2,6%.

"A tendência de desaceleração da economia chinesa é clara, assim como da economia global", destacou Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.

Neste mês, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu de 4,4% para 3,2% a projeção de crescimento do PIB chinês neste ano — a menor previsão desde 1976, com exceção de 2020, ano marcado pela crise gerada pela pandemia da covid-19.

Gustavo Cruz, economista-chefe da RB Investimentos, lembrou que a China é o principal parceiro comercial de vários países, inclusive o Brasil. Logo, se a economia chinesa tiver um desempenho melhor, isso é positivo para a atividade em diversas regiões. Contudo, ele reconheceu que as previsões de que continuará em processo de desaceleração estão mantidas. "Seguem as previsões que eles não atingem a meta de 5,5% (de avanço do PIB)", destacou. Segundo Cruz, ainda há desconfiança sobre a confiabilidade dos dados, após o atraso da divulgação dos dados sem uma explicação clara dos motivos durante o congresso do PCC.

Na avaliação de Julio Hegedus, economista-chefe da Mirae Asset, há também a desconfiança do mercado com a confirmação de Xi Jinping à frente do partido chinês, do governo do país e do comitê militar. "O presidente saiu do congresso ainda mais fortalecido. Crescimento da economia de 3,9% impactado pelos lockdowns, crise no mercado imobiliário e maior fiscalização pelas bigtechs. O que preocupa mais é o foco na segurança, maior do que no passado, voltado para a economia, e a nova configuração geopolítica, com a China mais próxima da Rússia, da Coreia do Norte, da Venezuela e do Irã", destacou.

Um processo "autoimposto"

Larissa Wachholz, sócia da Vallya e especialista sênior de Ásia Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), ressaltou que os dados mais positivos do que o esperado pelo mercado para a China refletem o fato de que vários indicadores, "como exportações e produção industrial, estavam melhores do que muitos economistas previam".

"Assim, me parece ser coerente que o PIB seja mais elevado do que o previsto por alguns analistas", explicou. Contudo, ela reforçou que o processo de desaceleração da China que está em curso é "autoimposto" pelo governo de Xi Jinping.

"É uma tentativa de se corrigir o que se entende como erros causados por um crescimento econômico muito acelerado — com efeitos sobre políticas ambientais e sociais, além da reestruturação de alguns segmentos como o imobiliário. Isso é uma visão de médio prazo, não é só neste momento, neste ano", afirmou Wachholz.

Segundo ela, a China vive outro processo de desaceleração que foi causada pelas políticas de contenção da covid-19. "Mas eu não imagino uma mudança radical nos critérios de contenção da covid 19 neste momento. Penso que pode haver uma mudança gradual e controlada, sobretudo a partir do primeiro trimestre de 2023", acrescentou.

Xi Jinping, no entanto, descartou qualquer esperança de retorno à vida normal e reafirmou, durante o Congresso do Partido Comunista, a manutenção da política de "covid zero". O desemprego na China aumentou e a taxa de desocupados passou de 5,3%, em agosto, para 5,5% em setembro, segundo agências internacionais.

Após a reeleição de Xi Jinping, a Bolsa de Hong Kong registrou forte queda, ontem, e recuou mais de 6%, pior resultado para uma sessão desde a crise financeira de 2009. A Bolsa de Xangai registrou queda de 2%. 

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