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Setor de consórcios volta a crescer e bate recorde de cotas vendidas

Com juros nas alturas e crédito escasso, modalidade vem ganhando mercado e, no primeiro semestre deste ano, alcançou o maior volume de vendas dos últimos 10 anos, totalizando 1,85 milhão de cotas

Fernanda Strickland
postado em 17/10/2022 03:55 / atualizado em 17/10/2022 07:17
 (crédito:  Maurenilson Freire/CB/D.A Press)
(crédito: Maurenilson Freire/CB/D.A Press)

Em tempos de incertezas tanto na política quanto na economia e de juros nas alturas, o consórcio pode se tornar uma opção mais barata para uma compra programada de bens e serviços, sobretudo, de produtos de valor elevado, como imóveis e veículos — para os quais a maioria da população brasileira não tem dinheiro para o pagamento à vista.

Os consórcios podem ser uma alternativa aos financiamentos, cujas taxas cobradas pela maioria dos bancos estão cada vez mais proibitivas — pois não param de subir enquanto o endividamento das famílias brasileiras gira em torno de 80%, conforme dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Diante desse cenário, o setor de consórcios está em franca expansão. Dados da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac) apontam que, nos primeiros seis meses de 2022, o setor bateu bateu recorde de cotas vendidas com 1,85 milhão — o melhor resultado para o período nos últimos 10 anos. Em relação aos dados do primeiro semestre de 2021, o crescimento foi de 12,1%. Aliás, todos os segmentos registraram crescimento nas vendas. Entre eletroeletrônicos e bens móveis duráveis, o avanço no primeiro semestre foi de 101%. As vendas de imóveis cresceram 29%. Quase um a cada dois carros vendidos no país foi comprado via consórcio, mais de uma a cada duas motos foram pagas com cartas de crédito, e a cada três caminhões negociados no mercado, um foi comprado por meio de consórcio, segundo a entidade.

Há quase 30 anos no mercado, o Consórcio Magalu registrou crescimento de 10,9% no valor médio das vendas. "A procura por nossa modalidade de crédito cresceu durante o cenário de inflação e altos níveis de endividamento das famílias", afirma Edna Honorato, diretora-executiva da empresa, que destaca o baixo nível de inadimplência do segmento. "Estamos em um momento em que as pessoas estão sem acesso ao crédito. Os consórcios também estão disponíveis para suprir a demanda desses consumidores", acrescenta a executiva.

Mas é preciso paciência, um pouco de sorte e muitos cuidados para não cair em armadilhas. Especialistas alertam que a primeira coisa a ter em mente é que consórcio não é investimento, mas uma dívida programada. A operação funciona como uma poupança realizada em grupo, com prazo de duração e número de cotas previamente estabelecidos, tudo organizado para permitir aos integrantes a aquisição de um bem ou serviço por meio de autofinanciamento. Isso significa que todos pagam uma parcela mensal por um longo período para que um sorteado por mês possa utilizar o montante arrecadado para comprar alguma coisa.

A definição fornecida pelo Banco Central para o consórcio é "autofinanciamento", pois mistura os dois lados, investimento e poupança com crédito. O produto do consórcio pode ser usado dessas duas maneiras. O problema que acontece atualmente é que a falta de explicação sobre o serviço faz com que os clientes se frustrem e, consequentemente, cancelem o consórcio.

Na avaliação do engenheiro mecatrônico Bruno Pinheiro, fundador e CEO da Turn2C Consórcio Inteligente, uma questão que precisa ser melhorada dentro do setor, além da falta de informações, é a tecnologia, porque ela ainda não chegou ao mercado de consórcio. "Afinal, em todos esses anos, poucas iniciativas foram iniciadas com base em recursos tecnológicos", destaca.

Pinheiro considera a modalidade democrática, porque equaliza as oportunidades entre as classes sociais. "No crédito, os clientes com maior renda, que apresentam um risco menor para a instituição financeira, recebem uma taxa de juros menor que os clientes com baixa renda", compara. Para o executivo, diferentemente do crédito que discrimina os clientes, o consórcio equipara e traz condições iguais entre os participantes. Por essa razão, ele acredita que o momento atual do consórcio é positivo, pois quanto mais caro ou mais escasso o crédito for, mais o produto se destaca. "Se falarmos sobre custos e compararmos o produto de financiamento e o produto de consórcio para compra de um bem, o consórcio fica mais barato", afirma ele, alertando que é preciso não esquecer da taxa de administração.

Comparativos

Para o advogado especialista em direito bancário, consumidor e empresarial, sócio do escritório VR Advogados, Ramon Melo, um dos pontos negativos do consórcio é o tempo de duração, que pode superar 10 anos no caso de aquisição de imóveis. "Isso reflete diretamente na velocidade da obtenção da carta de crédito, pois caso o consumidor não seja contemplado nos sorteios mensais ou não tenha recursos para fazer os lances que o colocam em posição estratégica para ser contemplado em prazo mais curto, terá que esperar até o final do consórcio", explica.

Outro ponto negativo indicado por Melo é a falta de liquidez monetária, pois não há a possibilidade de cancelamento e recebimento imediato do valor pago. Ele ainda faz alerta para as pessoas ficarem atentas com as fraudes praticadas no mercado, por meio de administradoras falsas ou de fachada.

Por outro lado, analistas também apontam vantagens do consórcio, como parcelas com valores mais baixos em razão do longo tempo de contrato, liberdade para usar a carta de crédito como quiser, sem cobrança de juros, apenas taxa de administração, que é diluída nas parcelas do consórcio. "A operação é de baixo risco e possibilita uma forma de planejamento financeiro que prestigia a negociação para aquisição de bens de maior valor agregado com a possibilidade de pagamento à vista com a carta de crédito", afirma.

O advogado aponta, ainda, que, para não cair em fraudes, o consumidor deve verificar se a administradora possui autorização para operar no mercado por meio do site do Banco Central. "É importante também não realizar pagamentos em dinheiro, em hipótese alguma. Os pagamentos são realizados por meio de boleto bancário ou transferências, em regra. Se o pagamento for realizado por meio de boleto, verifique se os dados do cedente/beneficiário e o CNPJ (Cadastro Nacional Pessoa Jurídica) são os mesmos do contrato formalizado. Caso surja alguma dúvida, faça contato com os canais oficiais da administradora", orienta Melo.

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