O prêmio Nobel de Economia de 2022 foi sobre bancos. A Real Academia Sueca distinguiu três economistas norte-americanos, Ben Bernanke, Douglas Diamond e Philip Dybvig, que dividirão o prêmio de 10 milhões de coroas suecas, o equivalente a cerca de US$ 900 mil, por suas pesquisas sobre o sistema bancário e as crises financeiras.
De acordo com o comunicado da Academia, responsável pelo prêmio anual em homenagem ao cientista Alfred Nobel, as pesquisas dos três economistas "melhoraram significativamente a nossa compreensão do papel dos bancos na economia, principalmente durante as crises financeiras". "Uma descoberta importante em sua pesquisa é por que evitar colapsos de bancos é vital", acrescentou o comunicado sobre o prêmio criado apenas em 1968, pelo banco central da Suécia, e a última premiação da academia.
Em entrevista coletiva sobre a premiação, John Hassler, integrante do comitê que organiza o prêmio, elogiou o trabalho dos três economistas e destacou que as ações tomadas por bancos centrais e órgãos reguladores ao redor do mundo para confrontar duas grandes crises recentes, como a crise financeira global, de 2008 a 2009 e a recessão gerada pela pandemia da covid-19, em 2020, "foram, em grande, parte motivadas pela pesquisa dos premiados".
O economista Ben Bernanke, 68 anos, formado em Harvard e com PhD pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), é, atualmente, pesquisador sênior de Estudos Econômicos do The Brookings Institution, em Washington. Sucedeu Alan Greenspan na presidência do Fedederal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), entre 2006 e 2014. Enfrentou a crise financeira global de 2008 a 2009, quando foi responsável pela criação do Quantitative Easing (QE), afrouxamento monetário que injetou liquidez nos mercados.
Diamond, 68, formado pela Universidade Brown, doutor em economia pela Universidade Yale, em New Haven, Connecticut (EUA), é professor de finanças, crise financeira e liquidez da Universidade de Chicago, em Illinois (EUA), desde 1979. O acadêmico é o 97º membro da tradicional universidade norte-americana a ser agraciado com um prêmio Nobel.
Já Dybvig, 67, é professor de bancos e finanças na Universidade Washington, em St. Louis, Missouri (EUA). Graduado pela Universidade de Indiana, tem mestrado e doutorado em economia pela Universidade Yale. Junto com Diamond, elaborou o modelo que carrega o nome de ambos, criado em 1983, bastante utilizado em pesquisas para entender as crises financeiras e suas consequências.
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Grande Depressão
Com a premiação de Bernanke, é a primeira vez que um ex-dirigente do Fed ganha um prêmio Nobel. O trabalho que foi reconhecido pelo comitê do Nobel é de 1983, no qual faz uma análise da Grande Depressão de 1930. "Antes do estudo de Bernanke, a percepção geral era de que a crise bancária era uma consequência de uma economia em declínio, e não uma causa dela. Em vez disso, Bernanke estabeleceu que os colapsos dos bancos foram decisivos para que a recessão se transformasse em depressão profunda e prolongada. Uma vez que um banco vai à falência, a relação entre o banco e seus mutuários é cortada; essa relação contém o capital de conhecimento necessário para que o banco gerencie seus empréstimos com eficiência", destacou a nota da academia. "Bernanke demonstrou que a economia não começou a se recuperar até que o Estado finalmente implementasse medidas poderosas para evitar pânicos bancários adicionais", emendou o comunicado.
Para especialistas, escolha é justa
Especialistas ouvidos pelo Correio elogiaram a escolha da Academia Sueca para a premiação em ciências econômicas. "Bernanke é um economista que se notabilizou mais como formulador de política monetária do que como teórico de economia. E o prêmio é muito justo, pois ele teve coragem de inovar num momento de grandes preocupações acerca da ameaça de depressão nos EUA, entre 2007-2008. Bernanke é o principal responsável pelo emprego de novos instrumentos de política monetária em momentos de juros nas mínimas. Refiro-me principalmente ao afrouxamento monetário conhecido por Quantitative Easing (QE). Acabou sendo seguido por banqueiros centrais de outras economias. Fez escola, apesar de, no início, haver muita dúvida sobre a eficácia do novo instrumento", avaliou o economista José Júlio Senna, doutor em Economia pela Universidade Johns Hopkins, em Washington, ex-diretor do Banco Central e chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
"O modelo Diamond-Dybvig se tornou canônico para a compreensão de crises bancárias, mas não só. Ele também trata de responder porque os bancos existem. A constatação de que bancos apresentam um descasamento natural de maturidades entre passivos e ativos é central para entender porque existem e qual é sua vulnerabilidade intrínseca", destacou a economista Monica de Bolle, pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics, estudiosa de crises financeiras. Doutora em economia pela London School of Economics, a especialista ressaltou que a literatura dos três economistas já está no sangue de tanto que ela estudou e deu aulas sobre as ideias do trio vencedor do Nobel. "Os trabalhos de Bernanke e de Diamond-Dybvig são super atuais e atemporais. Enquanto houver bancos, vai ter crise bancária e crise econômica. Muita literatura na economia que já ganhou o prêmio Nobel não sobreviveu por muito tempo, e é obsoleta. Esses trabalhos são eternos", frisou a especialista.
Base analítica
O economista Otaviano Canuto, ex-vice-presidente do Banco Mundial e membro sênior do Policy Center for the New South, também reforçou a importância do trabalho dos três premiados, não apenas para a pesquisa, mas para a economia global. "Diamond e Dybvig construíram uma base analítica que levou à frente nossa capacidade de abordar o que fazem bancos e a intermediação financeira. Bernanke, por sua vez, nos deu uma análise sobre como o crack da Bolsa nos EUA, em 1929, acabaria se desdobrando na Grande Depressão. Em grande medida, influenciou, quando assumiu o Fed, banqueiros centrais a fazer o que fizeram para evitar que a crise financeira de 2008 virasse apenas uma 'Grande Recessão' e não uma outra 'Grande Depressão'", afirmou.
A cerimônia de entrega do Nobel está marcada para 10 de dezembro, em Estocolmo. Na semana passada, foram divulgados os nomes dos premiados de Medicina, Química, Física, Literatura e da Paz.
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