Para fugir de uma dívida, é fundamental ter clareza dos gastos. Esse princípio vale muito se considerarmos um dos meios de pagamento mais utilizados — e mais perigosos — pelo consumidor brasileiro: o cartão de crédito.
Esse meio de pagamento é um dos maiores responsáveis do endividamento do brasileiro, por causa do juro rotativo. Essa cobrança ocorre quando a operadora oferece ao cliente a opção de pagar o chamado valor mínimo, deixando o restante da dívida para depois. A oferta é tentadora, mas se trata de uma armadilha. A média anual do juro no cartão de crédito chega a 370%.
O cartão de crédito é uma companhia constante no cotidiano dos brasileiros. Segundo o BC, em 2021, cerca de 65 milhões de pessoas — quase 40% da população adulta — realizaram mais de 200 milhões de operações mensalmente. Em média, as famílias têm cerca de 30% de suas dívidas com o Sistema Financeiro Nacional (SFN) relacionadas ao cartão de crédito, considerando as modalidades à vista, parcelada e de rotativo.
A fim de estimular o uso consciente desse meio de pagamento, o BC divulgou ontem uma análise parcial do efeito da mudança no layout da fatura de cartão de crédito no âmbito do Relatório de Economia Bancária (REB) de 2021. A íntegra do documento será publicada hoje.
A divulgação parcial mostra que a alteração na forma como as informações são disponibilizadas na conta do cartão tende a aumentar o grau de entendimento e pagamento dos consumidores, conforme os resultados de um experimento realizado com uma amostra aleatória e controlada.
A autarquia destacou que a utilização desatenta do cartão pode custar caro ao consumidor, uma vez que, quando o titular não paga a fatura inteira, a dívida derivada do crédito rotativo ou da opção de parcelamento terá as taxas de juros mais caras do mercado, acima de 300% ao ano. Essas modalidades mais caras são mais utilizadas por pessoas com renda inferior a dois salários mínimos. "Além da desatenção, a complexidade do produto, o baixo nível de letramento financeiro dos usuários e as faturas confusas são alguns dos fatores que podem resultar na utilização indesejada do crédito rotativo ou parcelamento", explicou o BC.
Segundo a analista financeira e CEO do Grupo Mide de Investimento, Milene Dellatore, o cartão de crédito pode se tornar um grande vilão a partir do momento em que o consumidor não consegue pagar 100% da fatura. "O cartão de crédito tem um dos juros mais altos do mercado, girando em torno de 355 a 370% ao ano. O atraso das faturas provoca juros sobre juros, o que faz criar uma grande bola de neve", alertou.
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Novo layout
Na avaliação da autoridade monetária, a simplificação das faturas de cartão de crédito pode contribuir para melhorar o uso desse instrumento. As conclusões do experimento, afirma a BC, sugerem que a mudança de layout facilita o entendimento do produto, aumenta o pagamento da fatura e diminui o endividamento.
Esses efeitos, segundo o BC, são mais fortes entre pessoas de menor escolaridade. "Os resultados sugerem que leiautes de fatura de cartão de crédito que aprimoram a clareza e a organização das informações oferecidas ao consumidor têm o potencial de melhorar o entendimento sobre o produto financeiro, incentivar melhores decisões financeiras e reduzir o endividamento", informou o Banco Central.
O experimento, feito dentro do escopo de promoção da Cidadania Financeira, foi conduzido em plataforma on-line pelo BC, em parceria com a empresa de consultoria e pesquisa Plano CDE e com apoio financeiro da Fletcher School of Law and Diplomacy, escola da universidade norte-americana Tufts University.
Para avaliar as hipóteses, os participantes, selecionados de forma a ter uma amostra balanceada em termos de idade, sexo e status socioeconômico, foram alocados aleatoriamente em um grupo de controle e dois grupos de tratamento.
"O experimento demonstrou que os participantes que receberam as faturas com os novos leiautes compreenderam melhor os dados apresentados e estavam mais bem informados para identificar as consequências de aceitar o crédito rotativo ou pagamento da fatura em parcelas", afirmou a autarquia. (Com Agência Estado)
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