O decreto de reprogramação orçamentária, publicado no último dia 30 no Diário Oficial da União (DOU), prevê um corte de R$ 10,5 bilhões de despesas do Executivo. A Educação foi a pasta mais afetada, com bloqueio de R$ 3 bilhões, ou 28,6% do novo contingenciamento realizado pelo governo, conforme dados levantados pela Instituição Fiscal Independente (IFI), que divulgou uma análise sobre o decreto nesta quarta-feira (5/10).
O decreto 11.216/2022, assinado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, foi publicado na última sexta-feira, às vésperas das eleições, e não foi divulgado pela área econômica, que não apresentou o detalhamento dos cortes, como é de praxe. O prazo para a divulgação do decreto com a reprogramação orçamentária vencia em 30 de setembro.
Saiba Mais
Coube à IFI fazer esse trabalho e, conforme dados do levantamento feito pela entidade ligada ao Senado Federal, apenas cinco pastas concentraram 85% do contingenciamento. Além da Educação, estão nessa lista os ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovações (R$ 1,7 bilhão de corte), da Saúde (R$ 1,6 bilhão), do Desenvolvimento Regional (R$ 1,5 bilhão) e o da Defesa (R$ 1,1 bilhão).
De acordo com a economista Vilma Pinto, diretora da IFI, os valores bloqueados no decreto estão em linha com o relatório de avaliação de receitas e despesas do 4º bimestre divulgados pelo Tesouro Nacional, e esse novo contingenciamento revela que o governo continua com problemas na gestão orçamentária por conta de despesas acima do teto de gastos, mesmo após a ampliação em mais de R$ 100 bilhões no limite deste ano com as mudanças aprovadas com a PEC dos Precatórios — que antecipou a mudança da metodologia de cálculo pela inflação acumulada de janeiro a dezembro em vez do indicador acumulado em 12 meses até junho.
Ajustes
Com base nos dados do decreto, a IFI destacou no levantamento que, ao reavaliar as despesas primárias, foi verificada a necessidade de ajuste de R$ 7,8 bilhões nas despesas primárias para cumprimento do teto de gastos, que foi atualizado em R$ 1,687 trilhão.
Essa necessidade de ajuste, no entanto, pode ser decomposta entre necessidade de ajuste de R$ 10,5 bilhões para o Poder Executivo e espaço fiscal de R$ 2,7 bilhões para os demais poderes. No relatório do 3º bimestre, o bloqueio previsto havia sido de R$ 12,7 bilhões mas, antes mesmo da divulgação, o governo tinha reduzido esse montante para R$ 7,9 bilhões.
“O novo corte de despesas reforça que a restrição orçamentária não está na meta de resultado primário, mas no teto de gastos, mesmo depois das mudanças feitas na regra”, frisou Vilma Pinto. Ela lembrou que a meta de resultado primário deste ano é folgada, pois permite um rombo de até R$ 170,5 bilhões e, pelas projeções do último relatório, o rombo fiscal deverá ficar em torno de R$ 65,5 bilhões.
Questionada sobre a falta de divulgação dos dados do decreto, a assessoria do Ministério da Economia informou que não ainda recebeu as tabelas da área técnica.
Procurado, o Ministério da Educação informou que estabeleceu um cronograma de limitação de movimentação e empenho para o Ministério da Educação até novembro. "Dessa forma, o MEC realizou os estornos necessários nos limites de modo a atender ao decreto, que corresponde a 5,8% das despesas discricionárias de cada unidade", informou a nota da assessoria de imprensa da pasta.
"Segundo informações do Ministério da Economia, consoante ao que também determina o próprio decreto, informamos que os limites serão restabelecidos em dezembro", acrescentou.
Contudo, a União Nacional dos Estudantes (UNE), divulgou nas redes sociais onde a maior parte desse corte, em torno de R$ 3 bilhões: as universidades federais. "Governo Federal confisca saldo de todas as contas do Institutos e Universidades Federais, nesta quarta, 05/10/22, e não deixa nenhum centavo para pagar nada!", escreveu a entidade ao postar uma foto de um documento do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), informando a retenção de R$ 2,4 bilhões, montante que representa 11,4% da dotação atual das despesas discricionárias (não obrigatórias) do Ministério da Educação, devido ao decreto publicado no último dia 30.
Saiba Mais
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.