Um dia após os resultados do primeiro turno das eleições, que confirmaram o embate entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno, em 30 de outubro, o mercado financeiro operou em clima de euforia. A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) disparou e encerrou o dia de ontem na máxima de 116.134 pontos, com alta de 5,54% em relação ao pregão de sexta-feira, a maior valorização diária desde 6 de abril de 2020. Enquanto isso, o dólar recuou e voltou a ser negociado abaixo de R$ 5,20.
Segundo analistas, os investidores reagiram positivamente ao desempenho acima do esperado de Bolsonaro e de candidatos aliados ou simpatizantes ao governo na disputas por assentos no Congresso e nas administrações estaduais, no entendimento de que esse movimento reforça a manutenção de um viés liberal na condução da economia e evita guinadas à esquerda, mesmo que Lula seja vitorioso no segundo turno.
A alta do Índice Bovespa (Ibovespa), que não ficava acima de 116 mil pontos desde 14 de abril, foi generalizada. Apenas duas ações tiveram queda, ambas do setor de educação: Yduqs e Cogna, com desvalorizações de 1,59% e de 0,34%, respectivamente. As ações da Sabesp lideraram as altas, disparando 16,94%, para R$ 58, diante da maior possibilidade de que a empresa venha a ser privatizada. O candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro de Bolsonaro, que terminou o primeiro turno na liderança, e disputará o segundo com Fernando Haddad (PT), é a favor da desestatização da companhia de saneamento paulista.
Os papéis das áreas Gol e Azul vieram na sequência das maiores altas da B3, com valorizações de 12,54% e de 11,35%. As ações ordinárias (com direito a voto) e preferenciais (com prioridade no recebimento de dividendos) da Petrobras subiram 8,8% e 7,9%, respectivamente.
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Câmbio
Enquanto isso, o dólar acompanhou a desvalorização global e fechou com queda de 4,09%, cotado a R$ 5,173 para a venda. Foi a maior redução percentual no fechamento desde 8 de junho de 2018, de 5,35%. Com esse resultado, a moeda brasileira é uma das poucas a se valorizar frente ao dólar no ano. A divisa norte-americana registra baixa de 7,49% ao longo de 2022.
As opiniões de analistas do mercado sobre quem vencerá a disputa presidencial no segundo turno estão divididas, mas eles avaliam que a nova composição do Congresso, que terá o PL, partido de Bolsonaro com as maiores bancadas, tanto na Câmara quanto no Senado, diminui os temores de que, em caso de vitória de Lula, haja uma guinada heterodoxa na administração da economia.
E boa parte dos especialistas não descarta as chances de o atual presidente — que ficou em segundo lugar no resultado das urnas de domingo, com 43,3% dos votos contra 48,2% de Lula — conseguir virar o jogo em 30 de outubro. José Marcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos, destacou que a euforia do mercado é resultado da precificação de que a vitória de Bolsonaro "ficou muito mais provável", porque o Congresso terá maioria liberal e pró-reformas. "O presidente pode reverter o placar", apostou.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, ressaltou que, agora, os candidatos precisam conversar mais com os eleitores de centro. "Isso ameniza discursos mais radicais. E o mercado também interpretou que, como o centro no Congresso seguirá relevante, diminui a chance de populismo. Nesse sentido, há também a leitura de que Bolsonaro tem mais chance de vencer. As ações das estatais estão subindo por conta disso", destacou.
De acordo com Julio Hegedus, economista-chefe da Mirae Asset, "a composição do novo Congresso exigirá muita negociação do novo presidente, principalmente, se ele for Lula".
Thomas Mathews, economista sênior da Capital Economics, disse que os investidores parecem ter encarado positivamente a perspectiva de uma vitória de Lula "até agora", mas fez um alerta de que os retornos em dólar dos títulos e ações do país "decepcionarão nos próximos dois anos". Segundo ele, para inverter o resultado do primeiro turno, seria preciso uma grande chacoalhada no cenário. O bom humor do mercado, com alta na Bolsa e queda do dólar, reflete, em parte que, "embora a presidência de Lula tenha sido amplamente desconsiderada pelos investidores, o sucesso de candidatos de direita nos estados pode significar que o petista precisará governar mais para o centro do que o contrário".
O bom humor do mercado de ações não foi restrito ao Brasil. As bolsas internacionais também fecharam, ontem, no azul. Em Nova York, o índice Dow Jones avançou 2,66% e o Nasdaq, 2,27%.
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