O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacou que a preocupação com os riscos fiscais e o ambiente de incertezas internas e externas para a condução da política monetária não existe apenas no Brasil, pois elas afetam diretamente o câmbio — um dos principais fatores que influenciam a inflação, que não ainda está totalmente domada.
O caso recente da desvalorização da libra esterlina provocada pela inconsistência de uma política fiscal mais crível foi citado por Campos Neto como um exemplo a ser evitado no Brasil. A moeda britânica desabou nos últimos dias e está praticamente equiparada ao dólar, após o anúncio de redução de tributos pelo Reino Unido sem uma indicação clara de como essa medida para tentar estimular a economia será coberta. No ano, a desvalorização da libra frente ao dólar já supera 20%.
Para o presidente do Banco Central, essa reação foi "uma mensagem relevante" de como os agentes estão preocupados com os riscos, principalmente a questão fiscal, e de como as medidas de estímulos adotadas desde a pandemia serão custeadas pelos governos.
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"O que aconteceu na Inglaterra mostra que foi apresentado um plano onde tinha um componente fiscal grande sem endereçar como manter o equilíbrio fiscal lá na frente, e os credores reagiram, cobrando mais prêmios de risco”, resumiu Campos Neto, nesta quinta-feira (29/9), durante entrevista virtual a jornalistas para a apresentação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) com melhores projeções para o Produto Interno Bruto (PIB). “Essa é uma mensagem relevante que a gente deveria tirar disso, porque os mercados estão começando a ficar mais preocupados sobre como essa conta vai ser paga em termos de fiscal”, acrescentou.
Projeções
O presidente do BC lembrou ainda que a recente desvalorização do real em meio a essa turbulência global não afeta as projeções da autoridade monetária para o câmbio, atualmente em torno de R$ 5,20. Segundo ele, apesar dos picos de volatilidade recentes, ao longo do ano, a “performance da moeda brasileira tem sido melhor do que de outras moedas emergentes”.
Vale lembrar que as bombas fiscais armadas pelo governo Jair Bolsonaro (PL) para 2023 são bastante relevantes e ameaçam a manutenção do atual arcabouço fiscal, desacreditado desde a aprovação da PEC dos Precatórios, que jogou dezenas de bilhões de reais em dívidas judiciais para debaixo do tapete e ajudou a maquiar a percepção de equilíbrio fiscal.
Algumas estimativas apontam cerca de R$ 200 bilhões em despesas que ainda não possuem fonte de receita crível no Orçamento de 2023 e que serão herdadas por quem vencer as eleições deste ano.