O Ibovespa conseguiu se descolar da cautela pré-Fed que manteve a maior parte dos mercados do exterior na defensiva neste começo de semana. Aqui, com dólar a R$ 5,14 na mínima do dia apesar da volatilidade vista no índice DXY lá fora, o Ibovespa correu para os 111.975,94 pontos (+2,47%) na máxima da sessão e conseguiu sustentar a linha dos 111 mil também no fechamento, aos 111.823,89 pontos, em alta de 2,33% nesta segunda-feira, 19. Assim, retorna ao positivo no mês (+2,10%), colocando os ganhos do ano a 6,68%. O giro foi de R$ 28,8 bilhões na sessão, em que o Ibovespa abriu aos 109.282,60 e, na mínima, oscilou para os 108.507,76 pontos.
Apesar do sinal negativo em Nova York - revertido no meio da tarde -, o dia foi de recuperação bem distribuída na B3 desde mais cedo, com ganhos firmes nas ações e nos segmentos de maior peso no Ibovespa, após quatro dias de perdas. Na ponta do índice, destaque para Yduqs (+14,10%), à frente de Cogna (+9,77%), B3 (+6,79%) e Gerdau Metalúrgica (+5,88%). No lado oposto, Positivo (-1,59%), Marfrig (-1,06%), Cielo (-0,94%) e Banco Pan (-0,67%). Entre os grandes bancos, os ganhos chegaram a 3,75% (Itaú PN) no fechamento da sessão.
Saiba Mais
"Papéis de educação também foram destaque, com a criação de um grupo de trabalho do MEC para propor novas regras para o ensino à distância em alguns cursos e após falas do candidato Lula favoráveis aos programas FIES e Prouni", diz Paula Zogbi, analista da Rico Investimentos.
"A ressaca da semana passada foi pesada" o que ajuda a compreender o "rali" de recuperação nesta segunda-feira na B3, observa Felipe Castro, especialista em renda variável da Blue3, acrescentando que pela magnitude da próxima "superquarta", com decisões monetárias nos Estados Unidos e no Brasil, o "estresse" pode voltar.
"Por aqui, o mercado segue favorável à tomada de risco apoiado em 'valuation' atrativo e possibilidade do fim do ciclo de alta dos juros. Juros futuros recuaram por toda a curva, com queda das commodities e projeções melhores para a inflação no boletim Focus de hoje, o que favorece a tomada de risco", aponta Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora.
Hoje, "a divulgação do apoio de Henrique Meirelles (ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do BC) a Lula contribuiu para o sentimento positivo na Bolsa e no câmbio, mas não explica o movimento todo do dia, de recuperação para Petrobras (ON +1,19%, PN +1,59%) e Vale (ON +3,24%), mais correlacionadas ao mercado externo. Há ainda otimismo estrangeiro com o Brasil, mais adiantado na correção dos juros, onde o BC agiu rápido e bem. E o paciente (a economia) não morreu, segue em recuperação", diz Davi Lelis, economista e sócio da Valor Investimentos.
Ele acrescenta que "o Brasil está em posição melhor do que outros emergentes aos olhos estrangeiros no momento em que ainda persistem dúvidas" nas economias centrais, como a zona do euro, com a aproximação do inverno em meio a incertezas sobre inflação, atividade econômica e suprimento de energia ao velho continente.
O ponto alto da semana virá na quarta-feira com as decisões de política monetária nos Estados Unidos e no Brasil. "Em ambos os casos, as decisões não são absolutamente tranquilas: podem acontecer surpresas. Há um consenso até mais forte para o Fed, de que pode subir os juros em 75 pontos-base, na mesma reunião em que será feita a atualização das projeções deles para o médio prazo, com o gráfico de pontos, que deve sinalizar taxas de juros terminais maiores, para o final do ciclo de alta de juros", diz Raone Costa, economista-chefe da Alphatree.
"Depois do CPI (índice de preços ao consumidor) da semana passada, as projeções de mercado para a alta (dos fed funds nesta quarta-feira) passaram da faixa de 50 a 75 para a de 75 a 100 pontos-base, com maior probabilidade de que venha 75, não 100. Mas 100, que era risco residual, ganhou probabilidade", diz Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo Investimentos.
"Para o BC daqui, estamos bem perto da conclusão do processo de elevação de juros, mas ainda há dúvidas se vai parar em 13,75%, onde já está, ou se terá um último aumento nesta reunião, que colocaria a Selic a 14%", diz Raone, da Alphatree. "Os dados correntes têm mostrado melhora da inflação, os índices (de preços) viraram bastante. O que talvez cause alguma preocupação é a atividade econômica, especialmente o mercado de trabalho, que talvez enseje pressões inflacionárias futuras", acrescenta o economista, lembrando que os preços de serviços continuam a subir significativamente, e "demoram para cair". "O BC tem mostrado preocupação com isso."
No noticiário doméstico, a aproximação entre Meirelles e Lula foi bem recebida pelo mercado. Ao Broadcast Político, Meirelles disse que, se o candidato do PT quiser conversar sobre economia, o criador do teto de gastos na gestão Michel Temer (MDB) dará opiniões. Ao jornalista Eduardo Gayer, Meirelles desconversou sobre a possibilidade de retornar à esplanada e minimizou as críticas do PT às reformas que ele liderou no Ministério da Fazenda, na administração Temer.
No melhor momento desta segunda-feira, com os índices de Nova York oscilando para cima e atingindo as máximas do dia, o Ibovespa ficou bem perto de retomar os 112 mil pontos, também no fechamento. Mesmo sem atingir a marca, o de hoje foi o melhor nível de encerramento para a referência da B3 desde o último dia 12, então aos 113,4 mil pontos, mesmo dia em que tocou os 114 mil, na máxima daquela sessão.
Em análise gráfica divulgada na sexta-feira, o Itaú BBA observa que o Ibovespa "encontra resistência importante entre 112.800 e 114.400 pontos". "O cenário ainda está distante para um novo rali acima dos 114 mil pontos, já que os mercados internacionais estão afastados das resistências importantes. Por ora, é momento de avaliar a carteira e posicionar os stops, caso a queda nos mercados internacionais pressione o mercado por aqui", acrescenta a nota de análise técnica.