A inflação cada vez mais persistente nos Estados Unidos jogou um balde de água fria nos mercados de ações e de câmbio, respingando nos países emergentes. No Brasil, o dólar abriu o pregão de ontem em queda, mas inverteu o sinal assim que o Bureau of Labor Statistics (BLS) dos EUA divulgou alta de 0,1% no índice de preços ao consumidor (CPI) em agosto, acumulando alta de 8,3% em 12 meses. O percentual ficou acima do esperado pelo mercado, que apostava em uma desaceleração para 8%. Com isso, especialistas reforçaram as apostas de um aperto monetário mais forte do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) na semana que vem.
Diante da surpresa, o dólar subiu e fechou com alta de 1,77% e a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) operou em baixa ao longo do dia, encerrando o pregão com retração de 2,3%, a 110.793 pontos. A B3 acompanhou as bolsas de Nova York, que apresentaram fortes quedas — o Índice Dow Jones recuou 3,94% e a Nasdaq, das empresas de tecnologia, desabou 5,16%, no pior momento desde junho de 2020.
A reunião do Fomc, comitê de política monetária norte-americano, ocorrerá nos mesmos dias — 20 e 21 deste mês — do encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central brasileiro. Algumas apostas apontam alta de até 1 ponto percentual nos juros dos EUA, mas a maioria ainda prevê elevação de 0,75 ponto percentual.
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"O pessoal achava os preços iam cair por gravidade, mas, agora, percebe que a situação é mais complicada. Estamos vendo isso nos Estados Unidos, infelizmente. O mercado vem sendo surpreendido ao longo do ano e tem ficado mais tenso toda vez que tem uma decisão do Fed. O alvoroço está sendo pior, porque o mercado acaba tendo que mudar as expectativas", avaliou Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.
Vale aposta em alta de 0,75 ponto percentual nos juros norte-americanos na próxima semana. Aqui no Brasil, ele reforçou a previsão de elevação de 0,25 ponto percentual na taxa básica da economia (Selic), atualmente em 13,75% ao ano. "A decisão do Copom estará mais atrelada às questões fiscais domésticas e toda a incerteza que existe para o ano que vem. Essa aposta já vinha crescendo antes dessa questão do Fed, que talvez ajude a reforçar o cenário de mais uma alta na Selic", afirmou.
Julio Hegedus, economista-chefe da Mirae Asset, lembrou que a inflação dos EUA veio acima do esperado, apesar da queda nos preços dos combustíveis, porque continua pressionada pelo núcleo, especialmente alimentação e serviços, que subiu 0,6%, no mês.
Para ele, o Fed deverá aumentar o intervalo dos juros básicos americanos para 3% a 3,25% ao ano na próxima reunião do Fomc. "Só acreditamos na moderação deste ritmo de ajustes quando o núcleo da inflação começar a ceder. O Fed ainda terá muito trabalho nos próximos meses. O juro continuará a ser elevado até trazer a inflação ao centro da meta, de 2%", afirmou. Ele destacou que as pesquisas preveem o fim do ciclo de aperto monetário apenas em março de 2023, quando os juros podem ficar entre 4,25% e 4,5% ao ano.