O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guilen, confirmaram que a autoridade monetária trabalha a taxa básica da economia (Selic) mais elevada por "por mais tempo". E, nesse sentido, admite a possibilidade de corte na taxa de juros apenas a partir de junho de 2023, acompanhando as estimativas do mercado contidas no boletim Focus, elaborado pelo BC.
“Nossa estratégia usa como hipótese a curva (de juros) do Focus, que tem um corte em junho (de 2023). Com esse primeiro corte em junho, os dados mostram que a gente atinge os nossos objetivos, não tem grande diferença. O mercado chegou a ter curva com corte um pouquinho mais cedo, mas a gente entende que é uma diferença pequena", afirmou Guilen, nesta terça-feira (29/9), em entrevista virtual a jornalistas durante a apresentação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI).
“A gente não comenta abertamente os impactos e, como o mercado enxerga a curva de juros, temos dito que é muito cedo para pensar em corte de juros, e comunicamos isso na ata", reforçou Campos Neto, não descartando as chances do corte da Selic começar a partir de junho.
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No novo relatório, o Banco Central elevou de 1,7% para 2,7% a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano e, pela primeira vez no ano, divulgou a estimativa de crescimento do PIB em 2023. Pelas projeções do BC, o PIB brasileiro vai desacelerar no ano que vem, apresentando uma alta modesta de 1%.
Campos Neto reconheceu que na última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) houve uma divisão sobre a necessidade de uma alta adicional na taxa básica da economia (Selic), que foi mantida em 13,75%. Foi a primeira divergência entre os diretores do BC desde 2016.
O presidente do BC minimizou qualquer crítica sobre a autonomia da autoridade monetária e a divergência entre a diretoria na última decisão do Copom. Ele ressaltou que uma alta adicional de 0,25 ponto percentual “não fazia tanta diferença” no impacto da política monetária. Segundo ele, alguns membros mostraram que o impacto de uma Selic mais elevada por mais tempo “seria mais persistente”.
Vários fatores podem influenciar uma nova alta de juros, como indefinição no arcabouço fiscal, inflação de serviços, hiato do produto, mudança estrutural no mercado de trabalho, de acordo com os técnicos do BC. “A gente não toma uma atitude apenas sobre uma única variável que vai nos levar a tomar uma decisão”, frisou Campos Neto.
Recondução
Às vésperas do primeiro turno das eleições deste ano, Campos Neto voltou a afirmar que não pretende aceitar a recondução ao cargo, independentemente de quem ganhar as eleições, a fim de solidificar melhorar o que ele acredita como autonomia do Banco Central. “Eu não aceitaria a recondução e deixei bastante claro em várias entrevistas. Eu acho que no final das contas o processo de recondução gera um risco”, frisou.
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