Em um cenário de desaceleração da inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a taxa básica de juros, a Selic, nos 13,75% ao ano em vigor desde o início de agosto. Com isso, a autoridade monetária interrompeu um ciclo de 12 altas seguidas na taxa, iniciado em março do ano passado. A manutenção veio em linha com o projetado pela maioria dos analistas de mercado, mas a decisão era aguardada com expectativa, já que faltam 10 dias para as eleições e o aumento de juros é considerado uma medida impopular.
Desde julho, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou dois meses seguidos de deflação. O índice recuou sob influência da redução de impostos sobre energia, combustíveis e serviços de telecomunicações, além dos sucessivos cortes da Petrobras nos preços da gasolina e do diesel e da queda das cotações do petróleo no mercado internacional.
A decisão por manter o patamar dos juros, no entanto, não foi unânime. Dois dos sete membros do Copom votaram por uma elevação residual de 0,25 ponto percentual, que levaria a Selic para 14% ao ano.
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Apesar de encerrar o ciclo de alta, o BC afirmou, em comunicado, que a Selic deve permanecer no atual patamar por período suficientemente prolongado para levar o IPCA às metas definidas pelo governo, que são de 3,25% para 2023 e de 3% para 2024. "A inflação ao consumidor, apesar da queda recente em itens mais voláteis e dos efeitos de medidas tributárias, continua elevada", avaliou o Copom, em nota distribuída após a reunião. "As medidas de inflação subjacente continuam acima do intervalo compatível com o cumprimento das metas."
Por entender que ainda há riscos inflacionários significativos, o colegiado deixou a porta aberta para voltar a subir a taxa, caso seja necessário. Entre os riscos de alta do IPCA, o BC destaca a persistência das pressões inflacionárias globais e incerteza sobre o equilíbrio das contas púbicas, e a eventual adoção de estímulos fiscais adicionais. "O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados, e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado", diz o comunicado.
Segundo o sócio-gestor do Ártica Long Term FIA, Ivan Barboza, a deflação registrada nos últimos dois meses não sustenta ainda uma redução da Selic. "Os juros devem ser mantidos altos por mais algum tempo. A queda do IPCA teve um efeito pontual da redução de ICMS de combustíveis, mas ainda é cedo para dizer que a inflação já está encaminhada para o centro da meta. A taxa deve ser mantida no mesmo patamar até que o BC tenha conforto de que a inflação está sob controle", afirmou.
Vigilância
Na nota, o Copom não sinalizou quando deve começar a baixar os juros. "O Comitê se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação", diz o texto. As estimativas do IPCA para este e o próximo ano continuam muito acima do teto da meta, mesmo com a desaceleração dos preços. A autoridade monetária já indicou que só prevê a volta da inflação à meta em 2024.
"Entendemos que a barra para uma alta adicional em 2023 é alta, e a estratégia do BC foi de trazer uma mensagem dura para evitar que a curva de juros passe a antecipar um corte prematuro da taxa no começo do próximo ano. Esperamos que os juros fiquem parados até meados do ano e que terminem 2023 em cerca de 11%", avaliou a economista-chefe da Tenax Capital, Débora Nogueira.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, avaliou a decisão do Copom como acertada, considerando que juros altos podem desacelerar o crescimento da atividade econômica no segundo semestre de 2022 e limitar significativamente o crescimento em 2023, quando as previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) indicam alta de apenas 0,5%.
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